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Falha da Vale deixa trauma em moradores de Itabira: “É como se as sirenes tocassem o tempo todo”

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||Raimunda Duarte e sua filha Leliane Duarte|

O acionamento das sirenes da mineradora Vale, seguido de avisos de rompimento de barragem, na última quarta-feira, 27 de março, foi admitido pela mineradora minutos depois como um “desacerto técnico”. Mesmo assim, a falha provocou pânico nos moradores de Itabira, principalmente os vizinhos às barragens, e deixou uma sensação de trauma. Segundo relatos de moradores vizinhos às estruturas, é como se o barulho das sirenes ainda ecoassem;

“Acordei esposa e filha e saímos correndo”

O senhor Délcio das Graças Silveira, morador da rua João Júlio de Oliveira Jota, conhecida como rua Sete, relata que viveu momentos de terror na noite do dia 27, e que são memórias que ficarão para sempre. “Eu estava assistindo jogo enquanto minha esposa e minha filha dormiam. Ouvi um barulho de sirene, achei estranho e fui até o portão de casa. Foi aí que ouvi aquela voz aterrorizante dizendo que era uma situação de rompimento de barragem. Acordei as duas e corremos para o ponto de encontro. Deixamos as luzes acesas, a casa aberta. Foi horrível”, relata.

Délcio Silveira mora no local há 46 anos

Habitante do bairro há 46 anos, Délcio conta que mora no local antes mesmo de a mineração chegar por lá. Diz que viu o nascimento da barragem. “Quando comprei o meu lote, a Vale ainda não explorava aqui nesta região, não existia minério. Eu e minha esposa, na época noiva, optamos pelo bairro pela beleza, arborização. Com o passar do tempo, acompanhamos a chegada da mineradora e construção da barragem. Jamais passou na minha cabeça que viveríamos esse medo”, relata.

“Não tenho mais sossego”

Leliane Duarte Costa, também moradora da rua Sete, ouviu o alarme e se desesperou com a situação. “Minha vontade para falar a verdade é ir embora daqui, porque eu trabalho fora praticamente o dia todo. Ficam em casa a minha mãe e meus filhos. Não tenho sossego porque fico com medo de estar lá e acontecer alguma coisa. A gente não tá tendo paz nem pra dormir, não sabemos o que pode acontecer”, comenta.

Raimunda Duarte e sua filha Leliane Duarte

 

“Essa situação nunca passou pela minha cabeça”

Raimunda Duarte Costa, de 79 anos, mora há 40 anos às margens da estrutura e conta que até alguns meses nunca teve medo de que a barragem entrasse em colapso. “Nunca passou na minha cabeça que pudesse acontecer aqui. É um lugar tranquilo, que gosto muito daqui, mas agora não tá dando pra ficar mais”, lamenta.

Dona Raimunda, que, além da idade, possui dificuldade de locomoção, comentou sobre a visita da Defesa Civil às áreas de risco no início do mês. “Veio uma moça com o colete laranja e falou que a gente tem que correr. Eu tenho desgaste no quadril, se depender de correr eu vou morrer na lama, porque não aguento. A gente tá vivendo com medo”.

“Todo mundo ficou doido na hora”

Moradora da rua Três, Maria da Conceição Ferreira, de 61 anos, além das complicações para se locomover, tem diversos problemas de saúde e faz uso de medicação controlada. “Esse negócio de barragem já tá me deixando perturbada. Pra me ajudar a subir esse morro, tem que ser dois homens no mínimo. Na hora que tocou essa sirene, todo mundo ficou doido. Você vê a morte chegando perto e não vai correr?”

Maria da Conceição Ferreira, de 61 anos

Com receio, Maria da Conceição procurou a Vale para expor suas enfermidades. “Eles ficaram de analisar e me dar uma resposta sobre o que vão fazer. Agora o jeito é esperar”, disse.

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