No último sábado (1) um grupo de manifestantes organizou um protesto na porta da Mina de Brucutu, de propriedade da Vale, em São Gonçalo do Rio Abaixo. A iniciativa tem relação com o caso de Fabiano Lourenço de Sá, 39, encontrado morto em área da Mina, no último dia 12 de janeiro. O grupo de pessoas que se reuniu diante da Mina vestia camisas brancas com o rosto de Fabiano e seu nome estampados. Faixas de protesto foram confeccionadas com os dizeres “Garimpeiro não é bandido” e “Que seja feita a justiça, já que a vida se foi a dor não passa”.
O movimento é organizado por familiares e amigos da vítima. Em vídeo disponível nas redes sociais, a viúva de Fabiano, Fernanda, declara que o objetivo da manifestação é pedir justiça pelo seu marido. “Porque ele era trabalhador e não era vagabundo”, afirmou. “Ele veio aqui, tá errado por ter entrado no lugar. Mas ele veio procurar o alimento”, ponderou. E concluiu, assim, com um questionamento: “Temos três filhos e agora como a gente fica?”.
Familiares queixam-se de “impotência” diante do caso
A equipe DeFato entrou em contato com Michele Silva, concunhada de Fabiano. Michelle afirmou, em primeiro lugar, que a reivindicação é por “simplesmente justiça”: “Eu gostaria de dizer que o Fabiano foi cruelmente assassinado sem poder se defender. Foi alvejado pelas costas e tentou por muito tempo dentro daquele lugar sobreviver pela família dele”, declarou Michelle.
De acordo com o seu relato, há dois advogados responsáveis pela representação da família na investigação criminal do crime. A situação da família, no entanto, é delicada e marcada pelo sentimento de impotência. Como Michelle então relata: “Não temos uma resposta, ninguém fala nada, enfim. Infelizmente, o assassino está livre e uma família chorando e sofrendo com esse luto terrível”.
Em clamor às autoridades, Michelle e seus familiares pedem, portanto, que o caso seja investigado com celeridade. “A responsabilidade das autoridades é simplesmente mostrar um bom serviço e buscar a justiça”, afirma. E, então, completa: “Não olhar para o caso como se a vítima fosse simplesmente mais um ladrão que merecia ter morrido. Ele não era ladrão.”
“Nem todos que dizem ser ladrões são e precisam ser ceifados dessa forma”
Diante do caso, em meio ao luto pela perda de Fabiano, a família quer provar que ele era um trabalhador e não um ladrão. Por isso realizaram a manifestação em frente à Mina de Brucutu e pretendem, inclusive, organizar outros protestos no futuro: “A grande importância em nos manifestar em Itabira, na Mina Brucutu, em São Gonçalo e em qualquer lugar é só uma razão, só uma questão: mostrar para a sociedade que nem todos que se dizem trabalhadores são, e nem todos que dizem ser ladrões são ladrões e precisam ser ceifados dessa forma”
Afirmam que entraram em contato com a Vale, que, no entanto, declara que está “colaborando com as investigações”. Os familiares, porém, afirmam que não tiveram retorno sobre a investigação, tanto das autoridades quanto da empresa. Michelle pede, enfim, que a sua família receba a atenção das autoridades neste momento: “Que os responsáveis possa pelo menos demonstrar um pouco de atenção a nós familiares. Vendo que, em nenhum momento deram nenhum esclarecimento. Nenhuma explicação”, conclui.
Relembre o caso
Conforme o publicado pelo portal DeFato em janeiro, a versão oficial da Polícia Militar apontou que os agentes chegaram até o local depois que o corpo de Fabiano foi encontrado. De acordo com o relato, ele teria invadido uma área restrita na companhia de outros dois homens.
O grupo, então, foi surpreendido pela presença de vigilantes da empresa, o que gerou um desentendimento entre eles. Então, um dos vigilantes efetuou disparos de arma de fogo. Algumas horas depois, os companheiros encontraram o corpo de Fabiano em uma caneleta de rejeito de minério.
Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar publicado em 12 de janeiro, uma discussão entre Fabiano, dois companheiros e os seguranças da Mina de Brucutu teria gerado disparos de arma de fogo. O boletim afirmava que o tiro teria sido disparado em direção ao chão, como forma de advertência. Conforme noticiou o portal DeFato em 14 de janeiro, porém, a declaração de óbito confirmou a causa da morte em decorrência de asfixia e traumatismo perfuro-contuso – lesão causada, portanto, por disparo de arma de fogo.
De acordo com o radialista Vagner Ferreira, porém, um dos companheiros de Fabiano negou que qualquer discussão tenha ocorrido. Muito pelo contrário, o homem afirma que os três não ofereceram resistência à abordagem dos seguranças. Porém, ainda assim houve disparo de arma de fogo, que causou a morte do garimpeiro.
Procurada pela equipe na data dos acontecimentos, a Vale afirmou por meio de nota que estava “colaborando com as investigações, prestando as informações necessárias”. Novamente a equipe DeFato entrou em contato com a empresa, contudo não recebemos a resposta até o momento da publicação desta reportagem. Caso a Vale se manifeste, enfim, publicaremos a sua posição.