Sem nenhum embasamento científico, me arrisco a dizer que a Libertadores é a competição preferida dos brasileiros. A dramaticidade envolvida nas partidas faz com que as vitórias sempre desçam mais saborosas, inclusive se compararmos ao Brasileirão. Por isso, garantir uma vaga na principal disputa interclubes do continente costuma ser um luxo. Ou costumava.
Há alguns anos, o sistema de classificação à Libertadores era simples. Garantiam seu passaporte os quatro melhores colocados do Campeonato Brasileiro e o campeão da Copa do Brasil. Se o título da Série A já estava confirmado antes da última rodada, a briga pelo G4 virava uma atração à parte. No entanto, isso mudou.
Entendendo que os clubes brasileiros são os mais atrativos da competição, a Conmebol promove uma verdadeira farra quanto à distribuição de vagas. No ano que vem, por exemplo, oito equipes representarão o país na disputa. E a boa vontade exagerada da entidade que comanda o futebol sul-americano já começa a impactar na dinâmica da Libertadores. Nos últimos dois anos, foram duas finais brasileiras. Em 2021, as semifinais quase foram totalmente dominadas pelo futebol tupiniquim, com o Barcelona-EQU aparecendo como intruso na brincadeira.
Mas o pior legado deste “feirão de vagas” é a forma como times medíocres – para dizer o mínimo – são premiados com a chance de disputar a grande competição sul-americana. Vejamos o Fluminense, por exemplo. Equipe limitadíssima, de futebol paupérrimo, que hoje ocupa a sétima colocação e, por ora, vai se garantindo na Libertadores 2022.
Ceará e América-MG, mesmo reconhecendo a boa campanha diante do elenco que possuem, se preocupavam com a zona de rebaixamento até algumas rodadas atrás. Hoje, ambos brigam pela última vaga com o Internacional. Time comandado por Diego Aguirre que também passa longe de ter uma temporada regular, com um nível de atuação muito pobre se levarmos em conta o elenco do qual dispõe. Para todos os citados acima, uma Sul-Americana no ano que vem já estaria de ótimo tamanho.
Com este novo sistema de distribuição de vagas, a Conmebol acaba empobrecendo seu principal produto. Quando se fala em Libertadores, seria mais lógico pensarmos nos melhores times de cada país, deixando de lado o peso de cada camisa, tradição etc.
Ademais, este processo pode fomentar expectativas irreais em algumas torcidas. Ou alguém acha que o Fluminense de Marcão, caso confirme a classificação, entrará como um dos favoritos na próxima edição do torneio? Mas experimente ser eliminado…
Este é um símbolo da maneira com que as entidades esportivas enxergam o futebol. Visam apenas o lucro, sem se preocuparem com a qualidade do que oferecem ao torcedor. Como se as duas coisas não estivessem conectadas. A Conmebol é apenas um exemplo, já que também podemos citar a Fifa e sua ideia absurda de Copa do Mundo com 32 seleções. Mais um exagero de quem não se furta em exagerar quando o assunto é dinheiro.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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