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Arthur Kelles: Fazer o seu melhor

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Vivemos em uma sociedade que pede que sempre façamos nosso melhor, e que busquemos ser sempre o melhor que podemos ser. Tenho que chegar no topo da minha carreira, ter um corpo invejável, um casamento perfeito, vários amigos e filhos bem educados – tudo isto ao mesmo tempo. Parece-me algo insustentável, mas é assim que se espera que vivamos.

Penso que devemos sim sempre buscar fazer o nosso melhor. Mas isto não se refere ao que as outras pessoas esperam de nós. Um chefe pode querer dedicação total de seu funcionário, um pai ou uma mãe pode esperar a companhia e cuidados constantes de um filho, um filho pode esperar apoio incontestável de seus pais, uma pessoa pode depositar o desejo de se sentir completa em seu parceiro amoroso. Mas será que isto que nos projetam realmente é o melhor para nós?

Quando se vive sob tantas grandes expectativas, não conseguimos dar valor aos nossos pequenos progressos, aos pequenos grandes passos que podemos dar todos os dias. Pode ser que, no caso de uma pessoa que passa por um quadro depressivo, o melhor que ela consegue fazer no dia é ter forças para levantar da cama. Pode parecer pouco olhando de fora, mas para ela é algo muito significativo. Imagina se compararmos o ato desta pessoa a alguém que conseguiu um recorde de vendas em sua empresa? Em vez de ajudá-la, prejudicamos ainda mais sua situação.

Lembro-me de atender pacientes internados no hospital que passavam por cirurgias complicadas ou se recuperavam de doenças graves. Recordo da comemoração da família e da equipe quando o paciente, por exemplo, conseguia levantar-se para ir ao banheiro sozinho. Uma coisa tão banal a quem está saudável, mas neste contexto, é sim uma grande vitória.

O paciente que consegue se levantar depois de muito tempo sabe do valor de sua ação, como isso é significante naquele momento. A comparação cabe quando nos comparamos a nós mesmos, não a outros. Cada progresso tem um valor particular para cada pessoa. Por isto é importante que às vezes nos esqueçamos um pouco do que pensamos que os outros esperam de nós e nos atentamos a nosso contexto, a nossa própria história, que é única.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos. 

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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