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Final da Liga dos Campeões celebra influência de Sacchi sobre Klopp e Ancelotti

Oitavas da Liga dos Campeões terá Liverpool x Real Madrid e PSG x Bayern

Carlo Ancelotti e Jurgen Klopp, treinadores de Real Madrid e Liverpoll - John Powell/Liverpool FC/Getty Images

Neste sábado (28), no Stade de France, em Paris, na França, os 90 minutos (e talvez os acréscimos) da final da Liga dos Campeões — ou se preferir: Champions League — colocarão frente a frente dois técnicos de personalidades e maneiras de viver o jogo bastante diferentes. De um lado estará o italiano Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, um treinador de poucos gestos, orientações pontuais e um aparente estado de tranquilidade. Do outro estará o alemão Jürgen Klopp, o comandante do Liverpool, um homem agitado, que gesticula e fala com sua equipe de maneira enérgica durante quase toda a partida

Há algo, porém, que une essas duas figuras além do desejo de serem campeões europeus. Uma referência em comum que está na gênese das ideias futebolísticas de cada um deles: Arrigo Sacchi. Se o futebol tem sua árvore genealógica, Ancelotti e Klopp fazem parte da mesma família, mas foram influenciados por seu pai esportista de formas distintas.

No caso do treinador do Real Madrid, hoje com 62 anos, ele pôde beber da fonte diretamente, em uma relação que começou na época em que ainda era jogador na Itália. “Sacchi precisava de um meio-campista e pediu a contratação de Ancelotti. Silvio Berlusconi e eu ficamos preocupados porque ele havia sofrido contusões sérias no joelho. Nosso médico apresentou suas preocupações e nos aconselhou a não o contratar. Sacchi pressionou tanto Berlusconi quanto eu, e decidimos fechar o negócio mesmo assim”, lembra Adriano Galliani, ex-vice-presidente do Milan.

Galliani era o diretor de futebol da equipe no fim da década de 1980 quando Arrigo Sacchi chegou ao clube de Milão para comandar uma revolução. O técnico, que até então tinha experiências apenas modestas no futebol profissional à frente de Rimini e Parma, convivia com a desconfiança de torcida e imprensa, entre outras coisas pelo fato de não ter sido jogador, algo que fazia os mais tradicionalistas torcerem o nariz.

A respeito disso, Sacchi cunhou a frase que se tornou célebre. “Não sabia que para ser jóquei era necessário ter sido um cavalo”.

Com um jogo que tinha como base a escola holandesa do Futebol Total, da seleção de 1974, a famosa “Laranja Mecânica”, o Milan jogava com a linha defensiva adiantada, pressionando o adversário em seu próprio campo e buscando chegar ao gol com velocidade. Dessa forma, o clube conquistou duas vezes a Copa da Europa (1988/1989 e 1989/1990), como era chamada a Liga dos Campeões na época, além de um título italiano, duas Supercopas europeias e dois Mundiais de Clubes. Uma equipe que entrou para história.

Havia uma seleção de grandes talentos naquele time, como o zagueiro Franco Baresi e o trio de holandeses formado por Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten. Administrar todos esses egos não era tarefa simples, algo em que Carlo Ancelotti se tornou mestre depois. Em meio aos craques, ele tinha consciência de não ser o mais brilhante, porém era importante na conexão da defesa com o ataque e jogava em favor do sistema. O individual a serviço do coletivo.

“Era o sistema de jogo que conduzia o time, o sistema que tinha de ser sempre obedecido”, disse Ancelotti, que depois de pendurar as chuteiras, em 1992, tornou-se assistente de Sacchi na seleção italiana. Juntos, foram vice-campeões do mundo nos Estados Unidos, em 1994. “Essa era a maneira de ser de Arrigo Sacchi. Alguns treinadores modernos pensam igual a ele: pressão alta, recuperação da bola no campo do adversário e ataques com rapidez. Primeiro velocidade, depois posse de bola”.

Entre aqueles que trouxeram as referências de Sacchi para o futebol do século 21 encontra-se Jürgen Klopp, que não foi treinado pelo italiano, mas moldou seus conceitos a partir da influência do histórico técnico do Milan. Ao contrário de Ancelotti, Klopp foi um jogador apenas medíocre. Mas a experiência como zagueiro do Mainz na década de 1990 daria a ele as bases para o futuro trabalho na beira do campo. Boa parte do que absorveu de Sacchi deve-se a um comandante seu dessa época, Wolfgang Frank, fã confesso daquele Milan bicampeão europeu.

“Assistimos quinhentas vezes ao mesmo vídeo chato de Sacchi fazendo exercícios defensivos, usando bastões, sem a bola, com Paolo Maldini, Franco Baresi e Demetrio Albertini”, disse Klopp. “Costumávamos achar que, se os adversários fossem melhores, a gente perderia de qualquer forma. Depois daquilo (dos vídeos de Sacchi), aprendemos que tudo é possível. Podemos vencer adversários melhores usando a parte tática do jogo a nosso favor”.

Quando se tornou técnico, iniciando sua trajetória no próprio Mainz em 2001, Jürgen Klopp aproveitou os alicerces deixados por Wolfgang Frank para desenvolver o estilo que o caracterizaria no Borussia Dortmund e no Liverpool. Alta intensidade, pressão constante e velocidade para chegar ao gol adversário.

Cesare Prandelli, que comandou a seleção italiana no início da década passada, foi com sua comissão técnica até Dortmund para assistir aos treinos de Klopp no Borussia. De acordo com eles, a movimentação da equipe alemã lembrava a do Milan de Arrigo Sacchi. Foi o melhor elogio que Jürgen Klopp, o jóquei que não foi cavalo, poderia receber. “O que Arrigo fez está na base de tudo o que eu faço”, afirmou o técnico do Liverpool no início de 2020.

Paris espera neste sábado celebrar o melhor futebol de clubes do mundo com uma grande final entre Real Madrid e Liverpool. No campo e no banco de reservas, Arrigo Sacchi será celebrado.

* Com Estadão Conteúdo.

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