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Futuro de Itabira: obsessão sem fim

Semana começa com temperaturas mais amenas, abaixo dos 30º; confira a previsão do tempo

Foto: Gustavo Linhares/DeFato

Nunca deixei de participar de uma aula ou fugi de algum debate, ou conferência sobre o seguinte assunto: o porquê de tudo. Hoje faço, publicamente, uma confissão: por que vim parar em Itabira, há 57 anos, quatro meses e 16 dias? O tema só interessa para quem nutre a necessidade dentro de si, dos porquês, o porquê de tudo.

Era 1951 ou 1952, quando meu Pai resolveu comprar um terreno de frente para o sobrado em que nasci, em São Sebastião do Rio Preto, no topo desse pico era visto e apreciado outro cume: o Pico do Cauê. À noite, luzes acendiam no alto de Itabira e um ou outro curioso subia o matagal para chegar a um cafezal amplo. Durante o dia, no tempo de colheita, Carlos (meu irmão), Maria Lucinha (governanta de nossa casa) e eu íamos para encarar a colheita. Como sabem, o café é uma cultura permanente e só exige uma capina anual.

Minha exigência era ao meio-dia, quando alguém acendia uma ou mais dinamites e fazia subir ao ar o azul atraente da hematita com mais de 80% de teor ferrífero. Não entendia, basicamente, o que o que era o estrondo de rochas mas me deixava um vasto mundo de perguntas.

Os anos passaram, o cafezal foi abandonado, passei daquele tempo de colhedor de café, que me faz lembrar uma série da Netflix com o nome de “Café com aroma de mulher”. Anos difíceis comecei a passar no fim da adolescência, em Belo Horizonte, à procura de emprego. Segui para João Monlevade nos meus 18 anos, fui admitido na antiga Belgo-Mineira (hoje ArcelorMittal) e por aí permaneci durante um ano.

Sempre transitava por Itabira e aqui pronunciava a frase de instintiva repulsa: ‘Aqui, jamais, morarei!’. Estranho, nunca fui a um psicólogo para verificar isso, mas nos meus seis, sete anos, no pico lá de nossa casa e vendo a “dinamitagem” itabirana, parecia uma culpa ou um empresário. Será que fui encarnado em Percival Facquar, o primeiro desbravador.

Numa das vezes, vindo de Belo Horizonte, o ônibus da Viação Amarante parou na Rodoviária de Itabira. Dali, embarquei no chamado “108”, vi um grande amigo, de minha adolescência parado, parecia esperar alguém. Gritei-o e ele se aproximou. A nossa conversa foi somente sobre trabalho, emprego, colocação. Ele me perguntou se queria trabalhar ou não na velha CVRD, dei-lhe a resposta enfática: não. Mas, comovido com as minhas narrativas de dificuldades, apenas comentou: “Se aparecer alguma convocação aqui, eu lhe envio um telegrama”.

E aconteceu. A importante figura chama-se José Damião de Almeida, que me contatou e me assessorou nas demandas de um concurso. Enfim, fui admitido na poderosa companhia e nela permaneci durante 13 anos. Na primeira “aula” de apresentação dos aprovados em concurso, meu entusiasmo subia e descia o terceiro andar do Edifício do Areão. No fim, ao anunciar a exaustão mineral, o palestrante, Sinésio Valeriano Alves, abordou o tema que, somado à “dinamitagem” dos anos 1950, a exaustão, trazia um alento assim: “Podemos ser testemunhas presenciais desse desagradável momento da história, o fim de Itabira.”

Para tentar mover alguma pedra que estava no meio do caminho, ingressei-me na Associação das Famílias Unidas do Bairro Major Lage. Dois anos depois, aventurei-me na carreira política e fui vereador por dez anos. Tentei, também, eleger-me deputado estadual e federal. E cheguei ao jornalismo, que tinha sido um caminho em Belo Horizonte, onde atuei na imprensa e fiz curso na antiga Fafi-BH . Passei pelos jornais Estado de Minas e Diário de Minas, em BH; colaborador de O Passarela, Folha de Itabira e Hora H (Itabira); A Notícia (João Monlevade); revista DeFato e site DeFato Online; e Notícia Seca.

Indubitavelmente, este é o porquê de agora escrever sem interrupção sobre o futuro de Itabira e estar implicando muitos que não me conheciam. E já são mais de 50 anos que carrego essa incumbência vinda de Deus. Diz-me Ele, por meio da Natureza e de sinais, claramente, que participei e participo da execução de uma missão. Desta lição, acrescento o tudo na vida: precisamos saber o porquê do mundo, senão iremos sucumbir para sempre. Saibam todos que ninguém pode deter a vontade divina. E que temos combustível para aguentar até o ano 2041.

Obs.: Objetivo deste texto é acordar a humanidade itabirana. Gente, cuidado com a pobreza humilhante!

José Sana é jornalista, historiador, professor de Letras e ex-vereador em Itabira por dois mandatos, onde reside desde 1966

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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