Em 2023, os ânimos estão acirrados na Câmara Municipal de Itabira — com discussões acaloradas em cada sessão plenária. Nesta terça-feira (18) não foi diferente. Após o presidente da Casa, Heraldo Noronha Rodrigues (PTB), anunciar que a pauta do Legislativo está trancada até a votação do projeto de lei do subsídio do transporte público, vereadores governista e oposicionistas trocaram provocações. O primeiro grupo questiona os motivos que levara à paralização das votações no plenário; já o segundo bloco defende a necessidade de uma análise criteriosa da proposta e a ampliação do debate.
O discurso da situação
Entre as muitas falas, destaque para as mudanças de posturas dos parlamentares. Até então, era costumeiro ouvir um oposicionista bradar que o Legislativo “não é um puxadinho” do governo Marco Antônio Lage (PSB) — uma crítica constante a uma suposta interferência da Prefeitura nos trabalhos da Câmara. Agora, tem sido comum escutar o bloco governista se valer das mesmas palavras, mas, desta vez, para questionar algumas ações de Heraldo Noronha.
“A Câmara Municipal de Itabira não pode votar nada até que se discuta o subsídio. Poderia ter resolvido isso lá atrás. Então nós temos que entender: ninguém é maior do que esta Casa. Nenhum vereador é maior do que esta Casa. Não tem presidente maior do que os próprios vereadores, do que o próprio Poder Legislativo. Não podemos ter o discurso da divisão entre base e oposição e não colocar realmente o interesse da população, que está cerceado nesse momento”, declarou Weverton Leandro Santos Andrade “Vetão” (PSB), correligionário de Marco Antônio Lage.
Reinaldo Soares de Lacerda (PSDB), que vem compondo a base governista, acompanhou o posicionamento do colega: “Esse parlamento tem um cunho muito maior do que o próprio mandato de vereador. Este parlamento fala pra 120 mil pessoas enquanto acontece o que está acontecendo aqui. E a vossa excelência [Heraldo Noronha]? Que teve o privilégio de ser reconduzido como presidente? E achar que essa Câmara é o puxadinho da casa da vossa excelência lá no bairro Praia — a gente fica triste”.
O então líder de governo — mas ainda sem substituto — Júber Madeira (PSDB) foi mais comedido que os seus colegas e pediu para que os parlamentares trabalhem para votar a proposta com mais agilidade. “Independentemente de ser ou não favorável ao subsídio, nós precisamos em tempo responder a população de Itabira que vive a expectativa de ter esta matéria aprovada ou não por esta Casa”, disse. “Sou favorável [ao subsídio] e faço um apelo ao que já foi dito aos demais vereadores pra que esta Casa, no menor tempo possível, mediante a essas implicações pela qual o nosso regimento nos impõe, tenha em breve esta matéria pautada”.
A resposta da oposição
Em uma defesa contundente de Heraldo Noronha, Roberto Fernandes Carlos de Araújo “Robertinho da Autoescola” (MDB) afirmou que não houve nenhum descumprimento do regimento da Casa durante a tramitação do projeto do subsídio e criticou a renovação da concessão das linhas de ônibus para a Cisne, assim como alguns colegas — mas sem citar nomes.
“É muito importante a gente ouvir esse discurso caloroso de defesa de um projeto que, como dizem, ainda não foi discutido, mas que tá todo mundo com a linguinha afiada, fazendo a defesa e falando que a população vai ser beneficiada”, afirmou. “Quem está ganhando aí não é a população não, quem está ganhando é uma empresa que mantém o monopólio [do transporte público] há 50 anos”, completou.
“Estão transformando em discurso de ódio, como se o presidente [Heraldo Noronha] fosse um vilão. Ele fez tudo dentro da legalidade, gente. Calma, segunda-feira [vai ser analisado o projeto]. [A pauta] está trancada porque a gente não pode fazer tudo que o prefeito quer aqui não. É minoria que está querendo puxar saco. Vereador igual falaram aí, de dois mandatos, gente, dois mandatos, mas de sensibilidade nenhuma”, disparou Robertinho da Autoescola.
Rosilene Félix Guimarães (MDB) também não poupou críticas à gestão Marco Antônio Lage, defendeu o aprofundamento no debate sobre o projeto do subsídio e também defendeu o trabalho de Heraldo Noronha. “Senhor presidente, quero parabenizá-lo pela prudência neste momento em que discute-se o subsídio de R$ 35 milhões para uma empresa [Transportes Cisne] que o próprio prefeito definiu como uma ‘porcaria”, destacou.
A vereadora ainda completou: “O emprego de R$ 35 milhões não é R$ 35 reais. Quando se fala em imperialismo aqui nós não vamos pensar que é o presidente da Câmara que está agindo como imperador. Na verdade, quem está agindo como imperador é o prefeito de Itabira. Não vamos nos esquecer que ele deixou de fazer a licitação da empresa concessionária do transporte público e renovou, sem consultar o povo, o contrato da empresa, que ele considera uma porcaria, por dez anos. Nós vamos deixar de pontuar aqui que ele não consultou o Conselho de Trânsito para apresentar esse valor de R$ 35 milhões”.