Em 1859, ainda não haviam sido inventados o telefone, geladeira doméstica, locomotiva elétrica, turbina a vapor, automóvel e sua linha de montagem, lâmpada elétrica, raio-X e nem o futebol como o conhecemos. Porém, em Itabira, sob as bênçãos do ainda pico do Cauê, nascia o Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) — ocupando um casarão próximo à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, ou apenas Igrejinha do Rosário. Projeto idealizado e executado por Monsenhor José Felicíssimo, pároco que projetou em uma Santa Casa de Misericórdia um caminho de oportunidades para a até então pequena Itabira.
Talvez Monsenhor Felicíssimo não imaginasse que o seu projeto perdura ria por mais de um século e meio. Entretanto, em 2022, o HNSD completou 163 anos — no dia 15 de abril —, se tornando a quarta instituição de saúde mais antiga de Minas Gerais. Fortalecido pela sua tradição, o hospital aponta seu olhar para o futuro ao desenvolver uma agenda de inovação e empreendedorismo, que o coloca como um dos possíveis pilares para a tão sonhada diversificação econômica de Itabira.
“Monsenhor Felicíssimo foi um homem muito adiante do tempo dele. É impensável, naquela realidade, ele tomar aquela iniciativa que deu tão certo, superando tantas dificuldades. Primeiro, as limitações daquela época. Depois, já na nossa época, tivemos as grandes guerras e todas as crises econômicas pelas quais esse país passou. E nada abalou. Claro que já tivemos situações muito difíceis, mas superamos todas. E isso é fantástico”, analisa Dom Marco Aurélio Gubiotti, presidente da Irmandade Nossa Senhora das Dores (INSD).
Evolução natural
Inspirados pela visão empreendedora de Monsenhor Felicíssimo, as gestões administrativas do Hospital Nossa Senhora das Dores desenvolveram, ao longo do tempo, uma agenda de crescimento voltada para a ampliação da capacidade de atendimento e do número de especialidades médicas oferecidas. Nesse contexto, foi necessário um novo prédio, construído em 1960, na avenida João Soares da Silva, e que se tornou o baluarte para o desenvolvimento da instituição.
Mostra disso é a complexidade de serviços oferecidos, como anestesiologia, radiologia e diagnóstico por imagem, psiquiatria, pediatria, otorrinolaringologia, ortopedia e traumatologia, gastroenterologia, nefrologia, medicina intensiva, ginecologia e obstetrícia, dermatologia, clínica geral, cirurgia vascular, cirurgia plástica, cirurgia geral, cardiologia, angiologia, urologia, oftalmologia, oncologia, hemodiálise, dentre outros.
Soma-se a isso uma robusta equipe técnica, composta por cerca de 1,2 mil colaboradores diretos e um corpo clínico com 300 médicos, o que coloca a instituição como o terceiro maior empregador do Município. Esse time é responsável por atender 24 municípios distribuídos em três microrregiões de saúde — Itabira, Guanhães e João Monlevade, totalizando mais de 400 mil pessoas assistidas. Para isso, o hospital conta com 106 leitos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e 71 leitos para a saúde suplementar (planos de saúde e atendimentos particulares).
Todo esse aparato resultou, no ano de 2021, em 80 mil atendimentos médico-hospitalares (sendo 39.890 somente o Pronto Atendimento), 31.333 sessões de hemodiálise, 8.437 cirurgias, 6.262 sessões de quimioterapia e 4.910 consultas oncológicas, dentre outros procedimentos.
“O compromisso do Hospital Nossa Senhora das Dores, para ser fiel a intuição de Monsenhor Felícissimo e da proposta cristã de assistência à saúde, independe de credo, de nacionalidade, de condições socioeconômicas, entre outros, é dar o melhor atendimento. As diferenças podem se ter na parte de hotelaria, de acomodação, mas de assistência não pode ter diferença. O atendimento tem que ser o mesmo. Esse é o nosso compromisso e nos orgulhamos muito disso. Nós nunca vamos renunciar a esse espírito da caridade cristã e da filantropia”, reafirma Dom Marco Aurélio Gubiotti.
História de desafios
Em seus 163 anos de história, o HNSD presenciou algumas das mais severas crises mundiais, como a Gripe Espanhola; Primeira Guerra Mundial; crash da Bolsa de Nova York e a Grande Depressão — que levou a uma grande crise econômica —; Segunda Guerra Mundial; Crise do Petróleo; Guerra Fria; atentados de 11 de setembro de 2001 e a guerra ao terror; crise financeira global de 2008 e 2009; pandemia de H1N1; epidemia de Ebola; dívida da Europa; a invasão da Ucrânia…
Porém, nada foi mais desafiador do que um pequeno vírus que, nos dois últimos anos, impôs à humanidade a sua pior crise sanitária, sobretudo para as instituições médico-hospitalares, principais escudos na luta contra a Covid-19. A pandemia que explodiu nos primeiros meses de 2020 teve o seu ápice, em Itabira e região, entre março e abril de 2021. Período que também marcou o pior momento de toda a história do HNSD.
“Esse ano de 2021 fez com que crescêssemos dez anos em apenas um, com muito aprendizado e humildade de saber estudar todos os cenários, de permitir todas as opiniões das equipes e de trabalhar incansavelmente em prol de todos os nossos pacientes. A pandemia veio para ensinar todo mundo, tanto profissionais da saúde quanto as demais pessoas. Mas a nossa equipe se mostrou preparada para se desdobrar e salvar vidas”, analisa Alexandre José da Silva Coelho, diretor-executivo do HNSD.
Mil vidas salvas
Na fase mais aguda da pandemia, o HNSD conviveu com 100% de ocupação dos seus leitos, tendo que buscar alternativas para abrir novas unidades de internação que pudessem dar conta da crescente demanda. Uma situação ainda mais crítica para uma unidade incumbida de atender pacientes de diversas cidades — e, naquele momento, recebendo também pessoas de outras regiões de Minas Gerais.
“Eu tive a felicidade de ser internado no mesmo quarto que a Dudu [Edwirges Maria Barbosa Silva Costa, sua esposa]. Eu lembro que o tratamento foi muito bom, com muita assistência da equipe do hospital”, relata Dário Martins da Costa, de 86 anos, que ficou internado na UTI e sobreviveu à Covid-19.
Até mesmo os colaboradores do HNSD foram acometidos pela doença. E a cada internação um duro golpe para a moral da equipe, que se desdobrou para cuidar de conhecidos e desconhecidos. “Eu era assistida pelo serviço de fisioterapia, pelos médicos. Eles falavam: ‘vamos, é um dia por vez’. E eu reafirmava isso em minha cabeça: olha, quando eu sair daqui, quando eu estiver curada, eu quero viver um dia por vez porque o amanhã é incerto. Temos que viver o hoje, resolver as pendências hoje, porque amanhã a gente pode não estar aqui”, afirma a enfermeira Andréia Rita Gazeta das Graças, ex-colaboradora do HNSD, que foi internada na UTI em setembro do ano passado com Covid-19.
Junto com essa preocupação de oferecer o melhor atendimento para todos, o hospital precisou lidar com a falta de insumos e, também, com o aumento do valor de materiais e medicamentos. Muitos deles tiveram mais de 1000% de reajuste.
“Nunca vivemos uma situação tão complicada quanto a pandemia de Covid-19. Foi um momento em que tivemos que nos dedicar também em motivar a nossa equipe e os colegas médicos. Era uma forma de contribuir e dar força para todos aqueles que estavam trabalhando diretamente na linha de frente contra o coronavírus”, destaca o médico Edson Pereira Lima, diretor clínico do hospital.
Apesar do enorme desafio, o HNSD se tornou um case de sucesso no enfrentamento ao vírus. Foram quase mil vidas salvas nos dois últimos anos e o reconhecimento da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) pelos serviços prestados durante a pandemia — quando a instituição recebeu a medalha da Ordem do Mérito Legislativo, em 2021. Mas, sobretudo, o que ficou foi o aprendizado, que demonstrou para a administração da instituição que as crises também são oportunidades.
Um olhar para o futuro
Ainda em 2021, Márcio Antônio Labruna foi reconduzido à provedoria do HNSD. Em seu novo mandato, deu início a importantes reformulações estruturais pensando na modernização da infraestrutura e da capacidade técnica da instituição. Entre as suas primeiras medidas esteve a reformulação do setor de comunicação, indicando um caminho rumo ao futuro e ao universo digital.
“O HNSD nasceu de um espírito empreendedor. Porque o Monsenhor Felicíssimo, há 163 anos, ter a visão que ele teve, é um empreendedor que enxerga além. Então, estamos apenas pegando essa raiz, que está se perpetuando há mais de cem anos, para aumentá-la mais ainda. Hoje, o hospital tem o grupo de gestores e empreendedores com quem estamos fazendo diferente para fazer melhor”, afirma Márcio Labruna.
Mas, as mudanças não pararam por aí. A agenda desenvolvimentista ganhou força com a criação do Núcleo de Inovação e empreendedorismo, que busca promover melhorias nos processos, desenvolver novos negócios e criar conexões estratégicas e janelas de oportunidades.
“A agenda de futuro do hospital passa, necessariamente, pela inovação: inteligência artificial, realidade aumentada, realidade virtual e os processos que estão sendo desenhados. Sabemos que a ampliação do hospital em direção da alta complexidade, com a oncologia, a cirurgia cardiovascular e a neurologia, trará novos negócios para Itabira. Portanto, o Núcleo de Inovação e Empreendedorismo consolida o hospital nessa agenda e diversificação econômica, tendo a saúde como uma vertente importantíssima nesse processo”, comenta Eugênio Muller, consultor de inovação do HNSD.
Nesse entendimento, o hospital fechou parceria com a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) – Campus Itabira, que resultou na criação de seis healthtecs (empresas de base tecnológica que desenvolvem soluções voltadas para o mercado da saúde), além de um projeto de estudos dos impactos da poluição atmosférica em Itabira. Outras iniciativas para melhorias de processos internos e de atendimento começam a serem desenvolvidos.
Também foi acertada colaboração com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), para otimizar, principalmente, a utilização de equipamentos. Além de encaminhar uma importante parceria com a UNIFUNCESI para implantação de uma faculdade de medicina na cidade — curso que será promovido pelo centro universitário, tendo o HNSD como hospital-escola. Uma iniciativa fundamental para o projeto de diversificação econômica do Município.
“Consolidar Itabira como uma cidade polo em Saúde significa que teremos novos negócios nascendo e se consolidando e, mais ainda, salientando a importância regional que o hospital tem para ser esse ator de desenvolvimento da cidade, tendo parceiros importantes como a academia e outras instituições. Então, vemos que a Saúde é um importante pilar para criação de novos negócios”, avalia Alexandre Coelho.
Ampliação dos atendimentos
Mesmo com toda a dificuldade imposta pela Covid-19, o HNSD não deixou de investir e buscar a expansão e melhoria do seu espaço físico e da gama de serviços ofertados aos seus pacientes. A Unidade Materno- -Infantil, que chegou perto de ser fechada, foi remodelada para também ser um centro de saúde para a mulher.
O Pronto Atendimento (PA) ganhou novas dependências e teve a sua capacidade ampliada, podendo realizar, em média, 150 atendimentos por dia. Mas, que pode chegar até a 450 atendimentos diários. Além disso, passou a contar com atendimento de urgência e emergência em pediatria 24 horas, o que ainda não existia em Itabira.
“Foi uma alegria ver a inauguração do Pronto Atendimento com pediatria 24 horas. Quando vejo as crianças recebendo esse tratamento de urgência, que antes não existia na cidade, fico pensando onde os pais recorriam quando seus filhos precisavam. Isso mostra a capacidade de desenvolvimento do hospital para servir à população e, também, para ser uma alternativa valorosa para a diversificação econômica da cidade”, pontua Dr. Leonardo Luciano Teza, coordenador médico do PA.
Mais recentemente, a hemodiálise também passou por ampliação, com a obra sendo inaugurada em abril de 2022, mês de celebração dos 163 anos do hospital. A unidade, agora, conta com 41 equipamentos, o que permite atender 246 pacientes por semana, gerando 738 sessões de diálise no período. Ainda no caminho da modernidade, a instituição passou a realizar cirurgia endoscópica de coluna.
O método é inovador no município e permite utilizar câmeras e instrumentos de alta precisão em pequenas incisões para realizar a operação. Ele ainda torna o procedimento menos invasivo e reduz o tempo de recuperação do paciente. Nessa busca pelo aprimoramento constante, o HNSD direciona os seus esforços para o credenciamento em outras especialidades de alta complexidade. O centro hospitalar pretende prestar serviços de neurocirurgia e cirurgia cardiovascular — que se somariam a outros serviços de alta complexidade já oferecidos, como a oncologia e a hemodiálise. Esse processo, inclusive, tornará a instituição referência macrorregional em Saúde, aumentando o público atendido e ampliando a sua capacidade como vetor de negócios, gerando novos postos de trabalho.
“O HNSD vai se consolidar como referência macrorregional em saúde. Buscamos o crescimento sustentável e ampliação da alta complexidade. Em um cenário de incertezas quanto ao futuro da mineração, os investimentos em ensino, pesquisa e inovação serão cruciais para garantir a diversificação econômica. As parcerias com instituições acadêmicas serão um propulsor para o hospital, Itabira e região”, analisou Ricardo de Araújo Bonfim Monsores, diretor técnico do HNSD.
E mais novidades estão por vir. Já está prevista para acontecer a inauguração do sistema de proteção contra incêndios, modernizando a proteção estrutural do prédio da instituição. Também terá início nos próximos meses a construção da unidade de radioterapia, que receberá cerca de R$ 17 milhões de investimento do governo federal — o maior volume de recursos destinados a um único projeto voltado ao setor de saúde nas últimas décadas em Itabira —, estabelecendo na cidade um centro completo de atendimento oncológico via SUS.
“O hospital tem uma vocação para crescer e assistir melhor esses 24 municípios para os quais ele é referência. Para isso, é importantíssimo conseguir as altas complexidades e aprimorar a sua maneira de dar assistência, aprimorar os serviços médicos e dos profissionais de saúde. Existe esse ambiente no hospital. O importante é isso: há um sesejo muito sincero de crescimento e de melhorar a assistência prestada. Mas sem deixar de reconhecer tudo o que já construímos”, finaliza Dom Marco Aurélio Gubiotti.
Voluntários pela saúde de Itabira e região
A Irmandade Nossa Senhora das Dores (INSD) foi criada por Monsenhor Felicíssimo, em 1854, para ser a mantenedora do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), garantindo que os princípios de filantropia fossem sempre observados. Dessa forma, a entidade foi instituída com natureza beneficente, sem fins lucrativos e de direito privado — o que permite autonomia para que os irmãos e irmãs possam desenvolver os trabalhos necessários para a gestão da unidade hospitalar.
“A Irmandade Nossa Senhora das Dores é fundamental. Monsenhor Felicíssimo não fundou o hospital primeiro. Ele fundou a Irmandade antes para que ela criasse o hospital. Isso é muito importante de se destacar”, observa Dom Marco Aurélio Gubiotti.
A Mesa Administrativa do HNSD é um colegiado de trabalhadores voluntários, todos integrantes da INSD, eleitos por meio de assembleia e que tem como objetivo analisar e orientar a gestão do hospital, assim como coordenar o trabalho que será desenvolvido pela equipe técnica da instituição. O grupo atual, que possui mandato até 2023, é formado por:
- Dom Marco Aurélio Gubiotti – Presidente da Irmandade Nossa Senhora das Dores;
- Márcio Antônio Labruna – Provedor;
- Egílio Coelho Neto – Vice-Provedor;
- João Mário de Brito – 1º Tesoureiro;
- Cândida Isabel de Campos Morais – 2a Tesoureira;
- José Gerson Querobino – 1º Secretário;
- Natalino Ferreira dos Reis –2º Secretário;
- Luiz A. Dimas de Almeida – 1º Membro do Conselho Fiscal;
- Walter Pontes – 2º Membro do Conselho Fiscal;
- Evandro Lage Avelar – 3º Membro do Conselho Fiscal;
- Padre Márcio Soares – 1º Suplente do Conselho Fiscal;
- Maria Giselda Bretas Cabral – 2º Suplente do Conselho Fiscal;
- Paulo Cezar Coura – 3º Suplente do Conselho Fiscal.
Hospital Nossa Senhora das Dores
Endereço: Av. João Soares Silva, 135 – Penha, Itabira – MG
Telefone: (31) 3839-1436
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