A atriz Ilka Soares morreu neste sábado (18), aos 89 anos de idade. Ela sofria com um câncer de pulmão e estava internada há cerca de dez dias em uma clínica no Rio de Janeiro.
Ilka Hack Soares nasceu no Rio, em 21 de junho de 1932 — completaria 90 anos daqui a três dias —, filha de um farmacêutico e uma dona de casa de origem alemã. Uma de suas portas de entrada no mundo artístico se originou em 1947, ainda adolescente, ao participar de um concurso de Miss promovido pelo jornal O Globo, representando o Distrito Federal (quando a capital do Brasil era o próprio Rio). À época, nem poderia, por ser menor de idade — mais tarde, a própria atriz revelou que lhe “deram” alguns anos a mais para que pudesse fazer parte.
Foi durante esse concurso que conheceu o diretor Vitório Cardinalli. Ele convidou-a para um teste do papel de Iracema no filme que seria gravado em 1948 e lançado no ano seguinte. Aos 16 anos, contracenou com Mario Brasini (1921-1997) e, segundo ela, estrelou o primeiro nu do cinema brasileiro, com maquiagem para escurecer a pele e usando uma peruca com franja e cabelos escuros. Na sequência, ainda faria filmes como “Katucha” (1950), Modelo 19 (1950), “Esquina da Ilusão” (1953) e “Carnaval em Marte” (1955).
No início na década de 1950, participou de produções nas TVs Record e Tupi. Por volta de 1965, estava casada com Walter Clark, chamado por Roberto Marinho para uma posição importante na TV Globo, que ainda estava começando. À época, Ilka estava grávida e tinha três meses de salários atrasados na TV Rio, e decidiu ir com o marido à nova emissora. Além de Clark, com quem teve uma filha, também foi casada com Anselmo Duarte, com quem teve dois filhos, e Nelson Fiúza Filho.
Um episódio marcante da vida de Ilka Soares se deu em 1958, quando o norte-americano Rock Hudson (1925-1985) veio ao Brasil. A atriz recebeu a proposta de um executivo da produtora do galã para acompanhá-lo durante o carnaval no Rio de Janeiro. À época, havia rumores sobre a sexualidade de Hudson e a possibilidade de seu casamento com Phyllis Gates ser apenas fachada.
Posteriormente, Ilka relatava que não desconfiava do ator, “porque ele era absolutamente contido”. Sobre as inúmeras fotos veiculadas na imprensa da época — a dupla chegou a sair na capa da revista Manchete — não via com maus olhos: “para mim, essa história interessava, à medida que ele estava no auge da fama, era um homem sedutor, foi um gentleman e muito simpático quando estávamos em público”.
Na Globo, começou em 1966, substituindo Norma Bengell na apresentação do “Noite de Gala”. Além de programas de entretenimento, também esteve à frente de alguns jornalísticos, como o Jornal de Verdade (1966-1969). Convidada por Alberto Dines, chegou a assinar a página feminina do Diário da Noite, mas contava com a ajuda de Clarice Lispector como ghost-writer.
Sobre a época da ditadura militar (1964-1985), que coincidiu com o auge de sua carreira, relembrava, em depoimento ao livro “Ilka Soares: A Bela da Tela”, de Wagner de Assis, parte da coleção Aplauso: “minha relação com o governo militar foi sem problemas. […] Para mim não afetou nada. Eu sabia das pessoas presas e torturadas. Mas as informações eram sempre parciais, nada era publicado. Sabia das dificuldades que todos os artistas mais engajados estavam passando. Mas não havia muito o que fazer”.
Ganhou ainda destaque em novelas nas décadas de 1970 e 1980, como “Bandeira 2” (1971), “O Cafona” (1971), “O Bofe” (1972), “Anjo Mau” (1976), “Locomotivas” (1977), “Te Contei?” (1978) e “Champagne” (1983).
Passou também pelo SBT, onde fez “Jogo do Amor” (1985), e pela “Manchete”, atuando em “Novo Amor” (1986). Na sequência retornou à Globo e participou do elenco de diversas produções conhecidas, como “Mandala” (1987), “Que Rei Sou Eu?” (1989), “Rainha da Sucata” (1990) e “Barriga de Aluguel” (1990). Ainda nos anos 1990, esteve no remake de “Pecado Capital” (1998).
Já aos 70 anos de idade, seus papéis foram diminuindo. No cinema, ainda fez participações em produções como “Copacabana” (2001), “Gatão de Meia Idade” (2006) e “Vendo ou Alugo” (2013).
“Desde o início, minha carreira é uma coisa muito doida. Faço tudo de trás pra frente. Eu estudava em colégio de freiras e comecei fazendo cinema, depois desfilando, aí cantando, fazendo novela e mais tarde teatro. Não há uma sequência lógica, ao menos o que se imagina ser lógico. Por isso, acho que tenho talentos específicos. Além disso, sempre faço as coisas por prazer, nunca prioritariamente por dinheiro ou oportunidade”, resumia a própria atriz em trecho de “Ilka Soares: A Bela da Tela”.