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Inflação da Argentina aumenta pobreza e amplia o número de moradores em situação de rua

Foto: @argentinaprabrasileiros/instagram/Reprodução

As políticas econômicas implementadas pelo presidente Javier Milei, os cortes promovidos nas estatais, aumentam, cada dia mais, as taxas de pobreza e o número de argentinos que se encontram em situação de rua, sem condições de pagar aluguel.

De acordo com a Universidade Católica da Argentina, nos últimos seis meses, a pobreza registrou um aumento de 44,7%, com a indigência dobrando de patamar, no mesmo período de seis meses, para 17,5%, equivalente a oito milhões de argentinos em estado de pobreza extrema, sem renda suficiente para uma dieta básica.

Omar Giuliani, responsável pelo lar de crianças e pela escola comunitária Ruca Hueney, diz: “Esses números têm nomes e sobrenomes, têm apelidos, vida própria, rostos, lágrimas, têm felicidade. Portanto, é um momento muito cruel o que vivemos hoje. Ousaria dizer que, em alguns setores, estamos falando de um genocídio social, que é o desaparecimento de uma geração de crianças. Todos sabemos que há questões de nossa intelectualidade, de nosso corpo que se desenvolvem nos primeiros anos de vida e, se nesses primeiros anos de vida você não tem o alimento necessário, e estou falando do alimento da barriga e do alimento do abraço, é muito difícil se recuperar e suas perspectivas futuras são destruídas”.

De acordo com números oficiais, o PIB caiu 5% no primeiro mês do ano, a atividade industrial caiu quase 20% em relação ao ano passado, e a construção civil caiu 37,5% em abril, comparado ao mesmo período de 2023.

Definitivamente, a economia está paralisada, e a recessão aliada à perda do poder aquisitivo da população em face da inflação e da desvalorização do peso, acaba em menos dinheiro em circulação, com fechamento de comércios, queda nas ofertas de emprego e na redução de trabalhos informais, como pintura, jardinagem e vendedores ambulantes.

O relato de uma mulher de 60 anos, que vende cobertores e ponchos numa avenida central de Buenos Aires e que não quis se identificar, expõe a gravidade do momento argentino: “Há dias que não há vendas. Vende-se muito menos, porque as pessoas estão pensando em comida”. Ela ressalta que, enquanto sua renda está diminuindo, o quarto do hotel onde ela mora voltou a subir o aluguel.

“Eles dobram o preço e não dá para pagar. Agora eles aumentam o preço todo mês. No mês passado eu paguei 60 mil, este mês eles aumentaram para 80 mil e disseram que no próximo mês vai para 115 mil”.

O estudante e trabalhador da Universidade de San Martín, Inácio, deixou o apartamento que alugava e voltou para a casa da mãe por não poder mais pagar. “Tudo toma mais do meu salário do que antes. E acrescente a isso a inflação na Argentina, que também significa que os alimentos custem mais que antes, as roupas custam mais que antes. Então chega um momento em que os salários se deterioram tanto, caíram tanto em relação ao custo de tudo, que se torna inviável sustentar os custos da moradia e o compromisso de um contrato de aluguel, por um ou dois anos”.

Recente estudo da consultora Quiddity revela que nove em cada dez argentinos se mostram preocupados com a situação atual e veem um futuro ameaçado por várias preocupações.

63% dos argentinos deixaram de economizar, e outros 57% usam suas economias para as despesas mensais e, 95% da população define o momento como regular ou ruim.

A representante da organização Inquilinos Agrupados, Tamara Lescano, que defende os direitos daqueles que alugam imóveis residenciais, diz que há, cada vez mais, famílias morando em quartos por não poderem pagar uma residência e acabam despejadas.

“Há cada vez mais pessoas sem abrigo que vêm de setores de trabalhadores de classe média, com a amplitude que isso significa. E essa é a realidade. Está acontecendo e é muito terrível e apenas seis meses se passaram desde essa situação. E por isso a preocupação é quando se consegue vislumbrar para onde estamos indo”.

As previsões do Banco Mundial não são animadoras, e sugerem uma queda de 3,5% no produto interno bruto do país para 2024. A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) aponta que a Argentina e o Haiti serão os únicos países latino-americano cujas economias vão encolher este ano.

* Com Brasil de Fato.

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