Léo Medeiros, Walter Minhoca, Rodrigo Posso, Luizinho… Você provavelmente já ouviu esses nomes, mas talvez não se recorde de onde. Ao lado de Ney Franco e outros jogadores que tiveram de encarar a fama repentina no futebol brasileiro, estes quatro personagens ajudaram a construir uma das histórias mais interessantes do futebol nacional na década de 2000.
Fundado em 1998 por meio de uma parceria entre empresários, políticos e dirigentes do Vale do Aço, o Ipatinga Futebol Clube rapidamente ascendeu no futebol brasileiro e conseguiu ótimos resultados em competições importantes. A nível nacional, por exemplo, chegou às semifinais da Copa do Brasil de 2006 (sendo eliminado pelo futuro campeão Flamengo) e foi vice-campeão brasileiro da Série B em 2007, perdendo o título para o Coritiba.
Porém, a primeira demonstração de força daquele ousado projeto ocorreu no Campeonato Mineiro de 2005. Segundo colocado geral na primeira fase, com apenas uma derrota em onze jogos, o time comandado por Ney Franco bateu a terceira colocada URT nas semis e enfrentou o campeão das últimas duas edições Cruzeiro na final.
A relação entre Cruzeiro e Ipatinga, aliás, é um ponto importante na, até então, bem-sucedida trajetória do clube interiorano. Grande parte do elenco ipatinguense era formado por jogadores emprestados pela Raposa, oriundos, principalmente, da base.
Pois a “filial”, como era pejorativamente conhecido pelos rivais, não deu a mínima para a “matriz” e se sagrou campeã mineira em pleno Mineirão lotado. Líder da primeira fase e atual campeão, o Cruzeiro do artilheiro Fred tinha tudo para conquistar o título pela terceira vez consecutiva.

O primeiro jogo da final, realizado no Ipatingão, terminou em 1 a 1 e ampliou ainda mais o favoritismo cruzeirense. Mas do outro lado havia uma equipe disposta a provar ser mais do que um ambicioso projeto. No dia 17 de abril de 2005, um Mineirão atônito via diante dos seus olhos aquele ousado visitante abrir um 2 a 0 com apenas 15 minutos de bola rolando.
Aos 5 minutos, o ótimo canhoto Léo Medeiros, dono da camisa 10, chutou forte de fora da área e contou com a ajuda do goleiro Fábio para abrir o placar. Dez minutos depois, o zagueirão William, que, posteriormente, se tornaria campeão de tudo com a camisa do Corinthians, aproveitou um desvio no primeiro pau em uma cobrança de escanteio para fazer o segundo.
A reação do Cruzeiro foi tardia, apenas com um gol de Fred aos 35 minutos do segundo tempo, quando o Ipatinga já havia desperdiçado várias chances de sair do Mineirão com um placar maior. Apesar disso, a história estava escrita: o Ipatinga era campeão mineiro! Além de se colocar no pelotão de elite do futebol de Minas Gerais, o Tigre quebrava um tabu de 41 anos sem que uma equipe do interior vencesse uma final contra um grande da capital.
Foto: Globoesporte.com
A partir daí, ainda veio a campanha histórica na Copa do Brasil de 2006, eliminando gigantes como Santos e Botafogo, vice-campeonato de Série B no ano seguinte, quando teve o artilheiro da competição, Alessandro, com 25 gols, e uma inédita participação na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 2008.
Infelizmente, aquele que tinha tudo para ser o ano da consolidação ipatinguense no futebol nacional acabou sendo o início da enorme crise que acomete o clube até hoje. O Tigre foi lanterna daquele Brasileirão e, apesar de continuar revelando bons nomes para nosso futebol, foi perdendo cada vez mais espaço após administrações ruins e campanhas desastrosas.
Em 2010, um vice-campeonato mineiro ainda indicava um respiro ao clube, mas não passou disso. Desde então, a constante tem sido rebaixamentos, problemas financeiros e até mudanças de sede, como Betim.
Atualmente, o Ipatinga ocupa a sexta colocação do módulo II do Campeonato Mineiro e tenta se reerguer com o aporte de novos investidores. Com um trabalho sério e planejamento a longo prazo, quem sabe o Tigre não volta a rugir mais forte?
Abaixo, a escalação do campeão mineiro de 2005:
Rodrigo Posso; Luizinho, William, Irineu, Beto; Fahel, Leandro Salino, Léo Medeiros, Paulinho; Walter, Kanu. Téc: Ney Franco.