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Itabira: mineradora Vale aposta em novas tecnologias para reduzir dependência de barragens

Para conselheiros, novo CEO da Vale deve aparar "arestas" com governo

Extração de minério na mina Conceição, em Itabira - Foto: Gustavo Linhares/DeFato Online

As tragédias de Mariana e Brumadinho, onde aconteceram rompimentos de barragens de rejeito — com grande impacto socioambiental — provocaram profundas mudanças no setor mineral. Desde então, a Vale vem adotando novos processos e tecnologias em suas operações para diminuir a dependência de barragens, buscando, segundo ela, uma atividades mais segura e sustentável. Uma iniciativa que busca, também, dar resposta à pressão pública por uma mineração mais responsável.

Dentre as novas formas de lidar com os resíduos da mineração, está a filtragem de rejeitos — que consiste em processos de produção a úmido de minério de ferro para disposição do material em estado sólido. Duas das quatro usinas de filtragem implantadas pela Vale em Minas Gerais estão em Itabira, cidade onde a companhia nasceu há 82 anos.

Essas usinas foram instaladas nas minas Conceição e Cauê e têm capacidade, juntas, para filtrar 80% do rejeito gerado nas operações dessas unidades, o equivalente a 36,02 milhões de toneladas de rejeito por ano (Mta) em média. A água retirada do rejeito no processo de filtragem volta para a operação das usinas. Os outros 20% são dispostos na barragem Itabiruçu.

Usina de filtragem de rejeitos na mina de Conceição, em Itabira – Foto: Gustavo Linhares/DeFato Online

O material sólido resultante do processo de filtragem é disposto em Pilhas de Disposição de Estéril e Rejeito (PDER), tornando o processo operacional mais seguro para empregados e comunidade, uma vez que reduz a dependência de barragens. “O rejeito filtrado compactado é resistente, estável e não apresenta risco de liquefação”, explica Miguel Neto, gerente geral de geotecnia e hidrogeologia do Complexo Itabira, acrescentando que a Vale trabalha para que, em curto prazo, o montante total do rejeito filtrado seja disposto nessas pilhas.

As outras duas plantas de filtragem da empresa no Estado estão instaladas nos complexos de Vargem Grande, em Itabirito, e Brucutu e Água Limpa, em Barão de Cocais. As usinas começaram a ser instaladas em 2019, empregando cerca de 6 mil trabalhadores no pico das obras. A Vale planeja investir US$ 2,2 bilhões em novos processos operacionais, incluindo sistemas de filtragem de rejeitos, considerando o período de 2019 a 2027.

“A indústria mineral avançou bastante depois do ocorrido em Brumadinho e Fundão [Mariana]. Acho que é um avanço natural da indústria. Não sei se é adequado dizer que poderia ter sido feito antes, porque, em termos de tecnologia, foi um avanço. Mas se tivesse sido feito antes, com certeza, teria sido um cenário de maior segurança e estabilidade. Mas, ao mesmo tempo, o que a gente tem hoje de tecnologia e avanço de engenharia e ciência eram diferentes à época da concepção daquelas estruturas [de Mariana e Brumadinho], avalia Miguel Neto.

Pilha de disposição de rejeito a seco na mina Conceição, em Itabira – Foto: Gustavo Linhares/DeFato Online

Mais da metade das estruturas a montante em Itabira já foi eliminada

O Programa de Descaracterização de Estruturas a Montante da Vale segue avançando em Itabira. A mineradora iniciou, em abril, as obras de eliminação do Dique 1B, na Mina Conceição. Essa é a oitava estrutura a montante na cidade a ter suas obras de descaracterização iniciadas, e a 22ª no Brasil.

Do total de dez barragens em Itabira incluídas no programa de descaracterização, seis já tiveram suas obras concluídas: os diques 2, 3, 4 e 5 do Sistema Pontal; a barragem Ipoema, na Mina do Meio; e o Dique Rio do Peixe, em Conceição. A conclusão das obras para eliminação do Dique 1B está prevista para dezembro deste ano, assim como a do Dique 1A, na Mina Conceição, que teve os trabalhos iniciados em junho de 2023.

Dique 4, do Sistema Pontal, já descaracterizado pela Vale – Foto: Gustavo Linhares/DeFato Online

Outro importante passo para a eliminação de barragens no município é a construção de duas Estruturas de Contenção a Jusante (ECJs), que possibilitarão a continuidade da descaracterização de barragens no sistema Pontal. A ECJ Coqueirinho já foi concluída e a Vale dará início às obras preliminares para a construção de uma segunda estrutura de contenção no Sistema Pontal, próxima aos Diques Minervino e Cordão Nova Vista. A nova estrutura será construída no bairro Bela Vista e é uma medida preventiva para reforçar a segurança da comunidade durante as obras de descaracterização dos referidos diques.

A ECJ Coqueirinho foi a quarta estrutura de contenção de rejeitos implantada pela Vale para proteger comunidades próximas às barragens em processo de descaracterização no Brasil, e a primeira que utilizou tecnologia japonesa para reduzir ainda mais os impactos da obra. “A nova estrutura será construída usando o mesmo método construtivo da ECJ Coqueirinho, a tecnologia Giken, que utiliza a cravação de estacas metálicas circulares. Essa tecnologia diminui a vibração, geração de poeira e ruído, de forma a causar o menor impacto possível para os moradores próximos”, explica Luiz Coutinho, gerente de implantação do Programa de Descaracterização em Itabira.

ECJ Coqueirinhos, no Sistema Pontal, em Itabira – Foto: Gustavo Linhares/DeFato Online

Descaracterização de barragens no Brasil

No Brasil, 13 estruturas a montante da Vale já foram eliminadas, chegando a mais de 40% de conclusão do programa. Além de ser uma obrigação legal, esse é um compromisso assumido pela companhia para garantir a segurança das pessoas e de suas operações e um trabalho permanente pela não repetição de rompimentos como o da barragem B1, em Brumadinho.

Todas as estruturas a montante da Vale no Brasil estão inativas e são monitoradas permanentemente pelos Centros de Monitoramento Geotécnico (CMGs) da empresa. As soluções são customizadas para cada estrutura e estão sendo realizadas de forma cautelosa, tendo como prioridade, sempre, a segurança das pessoas, a redução dos riscos e os cuidados com o meio ambiente.

A mineradora Vale também argumenta que “as ações implementadas para a descaracterização dessas estruturas são objeto de avaliação e acompanhamento contínuo de auditorias independentes, bem como pelos órgãos reguladores competentes”.

Centro de Monitoramento Geotécnico na mina Conceição, em Itabira – Foto: Gustavo Linhares/DeFato Online
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