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Itabira nunca foi tão Mato Dentro

Itabira

Foto: Acom PMI

Itabira do Mato Dentro, Itambé do Mato Dentro, Conceição do Mato Dentro e tantos outros matagais profundos. Terminologia típica do século XVIII. É uma referência geográfica a pequenos lugarejos, perdidos no meio de densas florestas. Esse linguajar é característico dos mineiros setecentistas. O isolamento de Itabira era mais perturbador. Um imenso cinturão verde e gigantescas montanhas mergulhavam a “cidadezinha qualquer” num precipício quase intransponível. A mineração resgatou essa terra de sua prisão natural. As barras de ferro foram rompidas. Até o início da década de 1940, o Mato Dentro de Itabira era a mais perfeita personificação do atraso.

Mas os ponteiros avançaram. Chegamos a esse ano da graça (2023).  E segue o jogo. O atual Manda-Chuva do município é amigo do sofismo.  E qual a origem dessa escola filosófica? A doutrina é de ontem e de Ágora – a praça onde se debatiam os assuntos de interesse da coletividade, em Atenas. Sócrates era o bam-bam-bam da área, uma espécie de Gabigol da Grécia. Para esse filósofo, o conhecimento da verdade era o caminho mais seguro para libertação do homem. 

Tudo andava dentro dos conformes, até que um bando de sofistas pintou no pedaço. Esses livres pensadores, oriundos de outras cidades-Estado, defendiam o gogó como a arma fundamental do cidadão. Em outras palavras, a tagarelice era a receita para o sucesso. E a verdade futebol clube que se dane. Os forasteiros da lábia dominaram a praça da democracia e avacalharam o debate. Os intelectuais invasores mataram Sócrates de raiva. A perniciosa retórica dos intrusos foi mais letal que cicuta. E, assim, a veracidade foi suplantada pela forma enviesada de ver a cidade. Os sofistas ensinaram aos atenienses a arte de se levar vantagem com a língua, embora esse órgão sirva para outras práticas. O sofismo venceu. E mais. Prevalece até hoje, com notória eficiência. Virou uma mania planetária. 

O prefeito de Itabira é um ilustre representante dessa academia clássica. O blá- blá- blá de Marco Antônio Lage contagia. E até teve consequência prática: o eleitorado itabirano caiu literalmente no conto da vaselina.  O discurso do ex-diretor da Fiat Automóveis hipnotiza até frades de pedra, apesar de complexa prolixidade. O filho pródigo de Ipoema é um encantador de serpentes. Tão logo Marco toca a flauta mágica da conversa mole, a Naja da demagogia coloca a cabeça para fora do cesto de vime. Um resultado prático desse lero-lero básico. O metrô caiu como uma luva na cabeça desprevenida do itabirano. O sucesso nas urnas – há três anos – foi claro triunfo do mais puro sofisma. 

Itabira anda mal. A cidade é o paraíso dos buracos. Essa imagem caótica ilustra o caminhar trôpego da urbe. E, de tanto mato na via pública, a velha “Mato Dentro” foi resgatada. O chefe do Executivo autodefine-se socialista. Então, esse político neófito seria de esquerda. Mas há uma contradição nessa postura ideológica. Lage tentou implantar na administração pública o “novo gerencialismo”- uma invenção do neoliberalismo, que prevê a adaptação de metodologias da iniciativa privada na gestão pública. 

Essa teoria é um natimorto. Por simples razão. É impossível agilidade na paquiderme administração das polis. A infraestrutura das Prefeituras é repleta de amarras legais e prazos a passos de tartarugas. O aparato do órgão municipal é inimigo da qualidade. O obrigatório preço mínimo em tudo, por exemplo, é uma pedra no meio do caminho da eficiência e eficácia. E, nesse contexto, economia rima com porcaria. As Prefeituras obrigatoriamente compram mal. E o contribuinte paga o pato. 

O eterno troca-troca na equipe do governo Marco é o mais grave sintoma do fiasco dessa experiência liberal. A máquina emperrou. A baderna, portanto, institucionalizou-se. O município vive sob o signo da estagnação. A terra do Poeta Maior parou no tempo e espaço.  A cidade trafega lentamente nos trilhos da degeneração. Nesse enredo, há mais maria fumaça que locomotiva(ou metrô). E pior. Os “gênios” daqui importam as piores bizarrices gerenciais de outras localidades, lá do cafundó do Judas. Um exemplo. O modelo de licitação chamado Ata. A ferramenta malcheirosa virou uma regra, não exceção. Mas, o que é essa tal Ata? Apenas um monstrengo de mil tentáculos e milhões de possiblidades. Leia com atenção e entenda a sutileza nas entrelinhas. Isso a Globo não mostra.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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