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Itabira perde Wilson Soares, o prefeito operário

Itabira perde Wilson Soares, o prefeito operário

Foto: Arquivo DeFato

A Prefeitura de Itabira comunicou na manhã dessa terça-feira (30), o falecimento do ex-prefeito Wilson do Carmo Soares, aos 96 anos. Segundo a família, ele estava internado no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) tratando uma pneumonia e, na segunda-feira (29), sofreu um AVC e não resistiu.

Wilson Soares foi pai de nove filhos, dois deles já falecidos. O velório do ex-prefeito acontece nessa terça, de 12h30 às 16h30, no Cemitério da Paz, seguido do sepultamento no mesmo local. O atual prefeito, Marco Antônio Lage, decretou luto oficial de três dias.

Exemplo de integridade

Zilda Maria Soares, filha de Wilson, conta que ele começou a trabalhar muito cedo. Morando na cidade de Antônio Dias, ainda menino, ficava na estação ferroviária esperando para ajudar a carregar as malas das pessoas que chegavam. “Isso já demonstrava a alegria em servir ao próximo. Quando adulto, trabalhou na Vale e presidiu o sindicato, com a mesma alegria. Depois, mesmo longe da política, seguiu disposto a ajudar, praticar o bem e distribuir carinho a todos”, recorda.

Para Zilda, Wilson sempre foi a mesma pessoa em sua vida pessoal e pública.

“Falar do meu pai é falar de um homem de fé, muita dignidade, perseverança, alegria, amor… Sempre trouxe para a família a importância de pensar no próximo, e tratar a todos como pessoas amadas e filhas de Deus. Ele nos deixou um legado tão grande e importante que, às vezes, até as palavras são poucas para definir. Mas, essas duas eram sempre usadas por ele: amor e fé. Acho que é isso que levaremos para a vida”.

Vida pública

Ceomar Paulo dos Santos, sobrinho de Wilson, usou seu perfil no Facebook para relembrar um pouco da trajetória do político itabirano. “O Prefeito Operário! Não teve o privilégio de ser um intelectual, porque os tempos eram diferentes. Na condição de operador de patrol, adquiriu de forma natural uma liderança entre seus colegas operários na, então, Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Assim, primeiro, foi eleito presidente de um dos maiores Sindicatos de Minas Gerais à época: o Metabase de Itabira”, detalhou.

Ato contínuo, Wilson se tornou um líder popular e carismático. Também ex-vereador e ex-presidente da Câmara de Itabira, teve mandato de prefeito de 1963 a 1967. Porém, interrompido, em 1964, pela ditadura militar.

“Em meio ao seu mandato, aconteceu o golpe militar e ele foi vítima de perseguição política pela sua militância sindical. Wilson foi preso, porém sem nenhuma consistência, foi liberado e finalizou seu mandato”, conta Ceomar.

Uma nota publicada no jornal carioca Correio da Manhã, em 10 de maio de 1964, narra quando o então vice-prefeito, José Machado Rosa, arrombou as portas da prefeitura para “assumir a direção da cidade à força”. Também fala sobre o fato da prisão de Wilson ter sido feita após a denúncia de vereadores de oposição e que ele foi inocentado “pelo testemunho de moradores e autoridades de Itabira”.

Recorde do jornal Correio da Manhã. Foto: Biblioteca Nacional Digital Brasil

Em uma crônica publicada no site da rádio Pontal, o radialista Marcos Evangelista Alves – o Gabiroba – também traz recordações da época de sua volta à prefeitura.

“Retornando Wilson ao poder, seis ou sete meses depois, este construiu várias escolas rurais e sua marca maior, o asfaltamento da antiga estrada que ligava o centro da cidade ao bairro do Campestre, hoje cognominada Avenida João Soares da Silva, cujo asfalto nunca precisou ser reformado”.

A filha, Zilda, explica que ele não gostava de falar sobre ao período da ditadura. Para ela, essa era uma tentativa de amenizar o sofrimento da família em relação ao que ele passou. “Foi um momento difícil de luta, esperança e expectativa para que logo fosse demonstrado, como foi, que ele era um homem correto em suas ações e palavras”.

Wilson Soares se referia ao município, em seu tempo como prefeito e vereador, como “grande cidade de Itabira”. “Essas palavras eram ditas com muito orgulho, sobre uma época de lutas e vitórias para o povo itabirano. Ele tinha alegria em dizer que trabalhou para melhorar a vida das pessoas, com a construção de hospital e escolas”, frisa Zilda.

A Câmara de Itabira também emitiu nota de pesar e lembrou a passagem do político pela casa do Legislativo itabirano, onde Wilson foi vereador e presidente. Durante a reunião ordinária dessa terça-feira (30), os vereadores fizeram um minuto de silêncio em sua homenagem e alguns deles falaram sobre sua importância para a política local.

Liderança sindical

Também por meio de nota de pesar, o Sindicato Metabase de Itabira informou que Wilson Soares presidiu a instituição durante três mandados contínuos, de 1958 a 1966. O atual presidente, André Viana, ao declarar luto oficial no sindicato, destacou a importância dele para a história da entidade. “Um guerreiro nato, de batalhas, apesar de perseguido e preso no período militar, não deixou de seguir suas convicções em lutar pelos trabalhadores”.

Vale lembrar que Wilson Soares esteve à frente do Metabase ao mesmo tempo em que se elegeu prefeito de Itabira. André Viana reforça que ele foi um sindicalista ‘raiz’. “Homem de princípios e ideais, deu o ‘tom’ aguerrido ao sindicato durante seus mandatos. Apesar de não ser da minha época, tenho conhecimento do seu compromisso com a nossa classe. Meu pai, Carlinhos Madeira, sempre me lembra da honradez dele”.

Em 2014, Wilson Soares recebeu uma moção de aplausos, de autoria do, então vereador e presidente do Sindicato Metabase, Paulo Soares. Foto: Arquivo DeFato

Para o atual presidente da entidade, Wilson deixa uma importante lição de resiliência.

“Este poder de resistência, de seguir em frente, de não baixar a cabeça diante de fatos que parecem instransponíveis, foi sim seu legado. Uma pessoa que é deposta de seu cargo, perseguida e presa e, ainda assim, retorna de modo triunfal para terminar o que iniciou. É algo, sem dúvidas, exemplar para qualquer movimento sindicalista”, destaca Viana.

Esse também o sentimento da família do político.

“Ele foi um homem que, dentro do seu limite, verdadeiramente lutou por essa cidade e pelo seu povo. Ele ensinou que com amor, trabalho, dedicação e compromisso tudo é possível. Porque foi dessa maneira que ele fez o seu melhor por Itabira”, finaliza Zilda.

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