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Itabira se despede de Darcy Bantan, que trabalhou para JK na construção de Brasília

Itabira se despede de Darcy Bantan, que trabalhou para JK na construção de Brasília

Foto: Reprodução/Vila de Utopia

Morreu de falência múltipla dos órgão, na última quarta-feira (12), Darcy Pedro da Silveira — o “Bantan” —, aos 87 anos, figura emblemática em Itabira, sobretudo nas ruas do bairro Pará. Ele foi sepultado no Cemitério no Cruzeiro, na região central da cidade.

Natural de São Gonçalo do Rio Abaixo, Darcy Bantan trabalhou como estoquista do Palácio da Alvorada para o então presidente da República Juscelino Kubistchek, o JK, quando Brasília ainda estava em construção. A experiência fez com que ele colecionasse boas histórias de um período histórico para o Brasil.

Em suas redes sociais, o jornalista itabirano Lucas Ferraz, que conviveu com Bantan desde a infância, prestou a sua homenagem ao personagem do bairro Pará: “Darcy trabalhou na dispensa de JK durante a construção de Brasília e tinha as melhores histórias da cozinha presidencial. Ele assombrou uma geração inteira de médicos itabiranos com sua saúde de ferro. Para quem insistisse que parasse de beber, pois a cachaça poderia matá-lo, Darcy respondia sempre à altura: ‘Só se ela vier por trás, na traição. Se vier pela frente eu traço ela!'”.

Mais homenagem

Em um artigo publicado originalmente no site Vila de Utopia, do jornalista Carlos Cruz, a sobrinha de Darcy Bantan, Cristina Silveira, também prestou a sua homenagem relatando um episódio com o seu tio. Confira o texto na íntegra:

Uma peleja entre Darcy “Bantan” Pedro da Silveira e uma velha sobrinha

Doze de março de 2025. Quarta-feira. A velha sobrinha esperava o lavador de sofá. A velha sobrinha fumava e lastimava a proibição médica de beber café. A velha sobrinha lia as notícias de guerra, de genocídio: Palestina, Síria (sangue de seu sangue), Líbano e o pesadelo da vampiresca Úrsula von der Layen na Ucrânia. Mundo doido mundo!

O telefone toca e a velha sobrinha pensa no sofá … Do outro lado, de Itabira ouço a voz triste a oferecer os pêsames pela morte do velho tio. Tio queridíssimo.

A velha sobrinha vem às paginas da Vila de Utopia para escrever um pequeno tributo ao velho tio. O que dizer? De pronto não há muitas palavras para uma breve biografia, apenas um breve acontecimento entre a velha sobrinha e o velho tio.

Certa vez a velha sobrinha bordejava em Itabira, cortava a travessa da rua do doutor José de Grisolia para a Casemiro Andrade, onde mora um velho e frondoso flamboyant quando avistou o velho tio na esquina, na Pastelaria Dois irmãos, de nossos amigos Geraldo e Sálvio.

Lá estava ele. A sobrinha com sorriso e um beijo na ponta da boca se aproximou. A resposta foi o gesto largo estendido de seus braços a impedir o beijo de quem ama.

A “marvada” já se apoderara de seu corpo e o cérebro a cingir tiradas de humor era alegria e dor. Humor e o racismo contra os mulçumanos. Frase que não reproduzirei pra’mode não virilizar. A velha sobrinha ficou horrizada. Não contava ouvir dele a ignorância eurocentrista. A velha sobrinha sentiu raiva, fúria contra o velho tio, dali saiu pisando duro para outras paradas.

No dia seguinte a velha sobrinha atravessa a mesma travessa em direção a Pastelaria Dois Irmãos e lá esta ele. Sentado a mesa, perna sobre perna, entre os dedos a mão esquerda prendia o cigarro, a mão direita brindava o copo de cachaça.

A hora da vingança! Pensou a velha sobrinha pronta a dar corda na pipa para o bote mortífero no corpo exaurido do velho tio. Pronta para o exercício da crueldade humana demasiadamente humana que é a técnica de tortura. A velha sobrinha parada-imóvel-estátua diante dele em busca de um ponto fixo.

Olho no olho e o corpo da velha sobrinha em movimento pendular ocupou o sistema nervoso do velho tio. Não precisou de minutos,  apenas instantes, lentamente-mente o velho tio entra na Pastelaria, senta-se à mesa, abaixa a cabeça, lábios ressecados a murmurar sonolências.

A velha sobrinha finaliza a tortura. Bem baixinho em seus ouvidos, ela fala:  Viva os mulçumanos!

Peço licença ao poeta Manuel Bandeira para fechar a louvação ao velho tio:

Darcy no Céu

Darcy provocador

Darcy bom

Darcy sempre de bom humor.

Imagino Darcy entrando no céu:

– Licença!

E São Pedro bonachão:

– Entra, Darcy. Você não precisa pedir licença.

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