Jean Paul Prates cai diante de pressões e de Lula

A demissão do presidente da estatal já era especulada desde 2023

Jean Paul Prates cai diante de pressões e de Lula
Foto: Reprodução/Redes sociais

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi demitido na noite desta terça-feira (14) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A gestão de Prates foi marcada por tensões com ministros do governo federal, e críticas contumazes do presidente e de alas governistas.

Prates estava no comando da estatal desde janeiro de 2023 e um dos seus principais algozes é o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que no início limitava suas críticas a aspectos técnicos, como a reinjeção de gás natural nos poços de petróleo da empresa, que levaram Prates a reclamar da interferência de Silveira no Conselho de Administração da petroleira, quando conselheiros governistas se opuseram e votaram contra a distribuição de dividendos extraordinários.

Também o ministro da Casa Civil, Rui Costa se mostrou insatisfeito com a gestão de Prates, quando disse que: “É dever do governo proteger a Petrobras de excessos financeiros praticados para agradar acionistas”, como, por exemplo, a distribuição dos dividendos extraordinários.

Quem é Magda Chambriard, nova presidente da Petrobras

Indicada por Lula para a presidência da estatal, Magda Chambriard tem 66 anos, foi diretora-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo) de 2012 a 2016. Foi funcionária de carreira na empresa por 22 anos, é engenheira e consultora nos setores de petróleo e energia. Chambriard é formada em engenharia química pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e atua como diretora da assessoria fiscal da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Jean Paul Prates foi senador da República após renúncia de Fátima Bezerra, em 2019, de quem era suplente.

Chamado de última hora para conversa com o presidente, mostrou se surpreso com a convocação e a conversa dura do presidente ao comunicar a decisão de sua demissão, Prates ainda se deparou com os ministros que queriam sua cabeça no encontro, Alexandre Silveira e Rui Costa. O encontro ocorreu no Palácio do Planalto e durou cerca de 20 minutos. Segundo interlocutor de Lula, “foi uma das mais difíceis que o petista teve neste governo”. Para o ex-presidente da estatal não foi diferente, que chegou a desabafar com interlocutor que “se sentiu humilhado por Lula”.

A decisão de demitir Prates já estava esboçada havia semanas, mas a decisão de comunicar o seu afastamento passou, necessariamente, pelo trio, que ao lado de Lula, viram um espantado Prates pego de surpresa e na presença dos seus desafetos.

Lula não se fez de rogado e, de imediato disse a Prates: “Eu e você temos visões diferentes sobre a importância que a Petrobras tem para o Brasil”, disse o presidente sem olhar para seu interlocutor.

Por sua vez, Prates disse: “Presidente, desta vez eu vou me permitir discordar do senhor. Das outras vezes em que vim aqui e o senhor me apresentou argumentos que chegavam ao senhor contra mim, eu discordava daqueles argumentos. Mas, agora que o senhor disse isso, a discordância é diretamente do senhor. Quem escreveu cada linha do seu programa de governo na eleição de 2022, nas áreas de energia, petróleo, indústria naval, fui eu. Escrevi embasado em tudo que o senhor ensinou ao longo do tempo, mas aquelas linhas foram redigidas por mim. Como eu não poderia ter a mesma visão do senhor”? Rui Costa, Alexandre Silveira e Lula ouviram calados.

Na sequência, o presidente disse que a crise da distribuição dos dividendos da Petrobras, em março, havia sido um ponto relevante para sua demissão. “A sua decisão de se abster na questão dos dividendos me pareceu uma afronta”.

Prates rebateu: “Como eu expliquei para o senhor, de maneira alguma foi uma afronta. Jamais afrontaria o senhor. A decisão de não votar com a União foi uma recomendação técnica, com o objetivo de não deixar morrer a proposta da diretoria executiva”, de quem ele, como presidente da empresa, é o representante no conselho.

O diálogo seguia em clima tenso. Lula não encarava Prates e os ministros observavam calados. Foi Prates quem decidiu encerrar a conversa. “Presidente, o meu chefe de gabinete que está comigo aqui fora vai tratar com o Rui (Costa) sobre a minha saída. Quero lhe agradecer, mas preciso sair para cuidar da minha vida. Tenho que desmontar minha casa no Rio e tomar diversas providências. Obrigado”. Os quatro se levantaram ao mesmo tempo, Prates cumprimentou a Lula e deu as costas aos três, saindo cabisbaixo.