Um tribunal russo condenou nesta quinta-feira (4) a americana Brittney Griner a nove anos de prisão por ter sido flagrada com um cigarro eletrônico carregado com óleo de haxixe, um derivado da maconha, no Aeroporto Internacional de Moscovo-Sheremetievo, em fevereiro. O julgamento é um dos mais importantes no mundo esportivo nos últimos anos e tem gerado tensões diplomáticas entre a Rússia e os Estados Unidos.
A decisão foi tomada pela juíza Anna Sotnikova, que disse que o tempo de detenção, desde fevereiro até agora, vai contar no cumprimento da pena da jogadora de basquete dos EUA. De acordo com a agência de notícias The Associated Press, Griner reagiu com pouca emoção diante da sentença, que já era esperada desde o início do dia, quando os promotores pediram prisão de nove anos e meio.
Casa caiu
Ela poderia ter sido condenada a até dez anos de detenção, de acordo com as leis russas. Mas a juíza considerou como atenuantes o seu pedido de desculpas e sua carreira vitoriosa como atleta, dona de títulos mundiais e olímpicos.
Antes do veredicto, definido com incomum rapidez nos tribunais russos, a atleta de 31 anos fez um apelo final à juíza, sem sucesso. Mais uma vez, a jogadora da WNBA, a versão feminina da NBA, alegou que não tinha a intenção de quebrar as leis russas ao entrar com o cigarro no país.
“Inaceitável”
Os advogados da americana na Rússia já avisaram que vão recorrer da decisão, que já gerou forte repercussão pelo mundo. Poucos minutos após o anúncio da sentença, o presidente americano Joe Biden chamou o veredicto de “inaceitável”. “Eu peço a Rússia para libertá-la imediatamente para que ela possa voltar para sua esposa, seus amigos mais amados e companheiras de time”, afirmou Biden.
A defesa de Griner alega que a atleta colocou a substância por engano em sua mala ao fazer os preparativos da viagem com pressa Os advogados argumentam que a jogadora pode ter tido perda de memória porque sofreu uma forma agressiva da covid-19. O flagrante aconteceu no dia 17 de fevereiro, cerca de uma semana antes da invasão russa na Ucrânia. O uso recreativo de cannabis é permitido no Arizona, estado americano em que a jogadora atua
Griner deve apostar agora num eventual acordo diplomático entre Estados Unidos e Rússia para poder ser libertada. Nas últimas semanas, o governo americano se movimentou sobre o caso e o secretário de Estado, Antony Blinken, acionou a diplomacia russa na tentativa de um acordo.
A proposta americana consiste em trocar Griner e Paul Whelan, um executivo de segurança corporativa sentenciado a 16 anos de prisão na Rússia por espionagem, por um famoso traficante de armas. O criminoso em questão é Viktor Bout, preso nos EUA desde 2012. Conhecido como “Mercador da Morte”, ele foi condenado a 25 anos de prisão após lucrar milhões vendendo armas ilegalmente.
Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, confirmou que ouviria a proposta americana, mas indicou que a negociação poderia ser longa, sem prazo definido para sua conclusão. As relações diplomáticas entre americanos e russos se deterioraram bastante desde a invasão russa na Ucrânia, no fim de fevereiro.
Quem é?
Brittney Griner, de 31 anos, foi campeã da WNBA em 2014 pelo Phoenix Mercury e bicampeã olímpica pelos Estados Unidos (nos Jogos do Rio-2016 e Tóquio, no ano passado). Brittney Griner é a mulher com mais enterradas na história da liga feminina, com 17 na temporada regular, cinco no All-Star Game e uma vez nos playoffs.
Mesmo sendo considerada uma das maiores jogadoras da história, a atleta estava no país para participar da temporada russa de basquete, pelo UMMC Ekaterinburg. É comum que jogadoras americanas participem de outras ligas durante a intertemporada da WNBA. Isso acontece, principalmente, pelos baixos salários. Enquanto estrelas do basquete masculino, como Stephen Curry, LeBron James e Kevin Durant, ganham cerca de US$ 40 milhões (R$ 209 milhões) por ano, o teto da liga feminina fica em torno de US$ 228 mil (R$ 1,1 milhão) por temporada.