Talvez o primeiro e último debate entre os candidatos à Casa Branca na eleição de 5 de novembro, nos Estados Unidos, Kamala Harris e Donald Trump se enfrentaram na noite desta terça-feira (10), no National Constitution Center, na Filadélfia, estado da Pensilvânia.
O embate teve início às 21h, horário local (22h em Brasília), e foi organizado e transmitido pela ABC News.
Após o confronto, a dúvida; quem se portou melhor?
Veículos de pesquisas qualitativas sobre o evento afirmam que Kamala se saiu melhor, na visão dos eleitores indecisos.
Segundo a pesquisa do Washington Post com eleitores indecisos, 91% dos entrevistados declararam que a vice-presidente americana se saiu melhor, contra cerca de 9% que acreditam em melhor performance de Trump.
Questionados sobre as falas de Trump de que os imigrantes estavam se alimentando de cães e gatos em Springfield, em Ohio, afirmativa desmentida ao vivo pelo mediador, Jornalista David Muir, 26% dos entrevistados afirmam que as falas de Trump fazem sentido. Discordam 74% dos pesquisados.
O tema aborto, segundo 64% das pessoas, foi melhor abordado por Kamala, contra 36% de Trump.
Sobre temas econômicos, quando Trump afirmou que durante o seu governo a inflação era mais baixa, 52% acreditam que ele tenha se saído melhor, contra 48% da sua adversária.
O jornal USA Today classificou Kamala mais agressiva que Trump, que se postou na defensiva, lembrando que o ex-presidente eliminou Biden na corrida presidencial em 2024, provocando sua desistência do pleito, mas que desta feita Trump foi seguidamente derrubado por Kamala.
Prossegue o USA Today: “Harris tentou abalar e atrair Trump, e muitas vezes conseguiu, levando-o a respostas defensivas, desconexas e raivosas”.
Para o periódico, Trump abordou excessivamente o tema imigração e tentou sustentação em afirmações falsas, sendo corrigido pelos moderadores.
O The New York Times classificou o debate como acirrado, mas admitiu que Kamala deixou Trump na defensiva, mordendo a isca lançada por sua oponente, respondendo as críticas com desinformação e ataques pessoais.
A Fox News, por sua vez, em sua manchete, teceu comentários críticos à atuação dos moderadores.
“Checagem agressiva de fatos sobre Trump e tratamento fácil de Harris”.
O The Los Angeles Times definiu o debate como “um palco de inverdades e tangentes bizarras, especialmente de Trump”.
A CNN americana enxergou Kamala “melhor preparada” que Trump, que, por sua vez, demonstrava estar “frequentemente fora de controle”.
“Trump repetiu uma teoria da conspiração sobre imigrantes comendo animais de estimação e mentiu sobre os democratas apoiarem abortos após o nascimento dos bebês- o que é assassinato e ilegal em todos os lugares”.
O que disseram os especialistas?
Tabitha Bonilla, especialista em comportamento político e comunicação e professora da Northwestern University (de Illinois), em entrevista ao Correio, viu uma Kamala mais inclusiva na retórica, prometendo por diversas vezes ser presidente para todos os norte-americanos, também afirmando que elevará a classe média, de onde ela veio e criar uma economia de oportunidades.
Por seu lado, Trump foi negativo, atribuindo problemas ao governo Biden e aos imigrantes, que “eles deixam entrar”, também levantando a falsa afirmação de que os imigrantes estão comendo cães.
A professora de retórica, política e cultura da Universidade de Winscosin-Madison, Alisson M. Prasch destacou a polidez de Kamala nas respostas, bem articuladas e sustentada com fatos.
“Ela procurou falar aos eleitores indecisos, ao lembrar às pessoas que existe “uma sala para elas”. Trump, por sua vez, conversou mais com sua base, mas de forma desanimadora para o eleitor “indeciso” a votar ou não nele.
David Karol, professor do Departamento de Governo e Política da Universidade de Maryland, destacou o fato de os moderadores terem verificados os fatos e corrigidos declarações inverídicas de Trump. “Isso não ocorreu com Biden. Kamala se mostrou imperturbável, enquanto Trump, muito enérgico, mas irritado. Não creio que Trump conquistará o apoio de alguém que ainda não o avalize”.
Falando ao Correio de Berlim, enquanto o debate tinha andamento, James Naylor Green, historiador político da Universidade de Brown (em Rode Island) afirmou que “Trump não conseguiu ter argumentos fortes e utilizou medo, racismo e xenofobia para incentivar a base republicana. Kamala tentou ser positiva sobre o futuro do país. Isso a ajudará muito nas eleições”.