Lei que equipara crime de injúria racial ao racismo é sancionada pelo presidente Lula

A solenidade de sanção ocorreu durante a cerimônia de posse das ministras Sônia Guajajara e Anielle Franco

Lei que equipara crime de injúria racial ao racismo é sancionada pelo presidente Lula
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou na quarta-feira (11) uma lei aprovada pelo Congresso Nacional que equipara o crime de injúria racial ao de racismo e amplia as penas. A solenidade de sanção ocorreu durante a cerimônia de posse, no Palácio do Planalto, das ministras Sônia Guajajara (Ministério dos Povos Indígenas) e Anielle Franco (Ministério da Igualdade Racial)

As cerimônias de ambas, que não seriam realizadas conjuntamente, tiveram que ser remarcadas em uma só solenidade após o vandalismo golpista do domingo (8). A união acabou gerando um encontro simbólico da riqueza ancestral que compõe a identidade brasileira. Povos de terreiro, e sua herança africana, ao lado de indígenas de diferentes etnias, coloriram o Salão Nobre do Palácio do Planalto.

Momento também simbólico para aprovação da nova lei, que faz com que a injúria racial seja punida com reclusão de 2 a 5 anos. Antes, a pena era de 1 a 3 anos. A pena será dobrada se o crime for cometido por duas ou mais pessoas. Também haverá aumento da pena se o crime de injúria racial for praticado em eventos esportivos ou culturais e para finalidade humorística.

A nova legislação se alinha ao entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) que, em outubro do ano passado, equiparou a injúria racial ao racismo e, por isso, tornou a injúria, assim como o racismo, um crime inafiançável e imprescritível.

A injúria racial é a ofensa a alguém, um indivíduo, em razão da raça, cor, etnia ou origem. E o racismo é quando uma discriminação atinge toda uma coletividade ao, por exemplo, impedir que uma pessoa negra assuma uma função, emprego ou entre em um estabelecimento por causa da cor da pele.

Ministério da Igualdade Racial

A jornalista e ativista Anielle Franco, ao assumir o cargo de ministra da Igualdade Racial, fez um balanço crítico das marcas do racismo na sociedade brasileira. Ela chamou a atenção para a necessidade de fortalecer políticas de reparação da dívida histórica do país com o povo negro.

“Não podemos mais ignorar ou subestimar o fato de que a raça e a etnia são determinantes para a desigualdade de oportunidades no Brasil em todos os âmbitos da vida. Pessoas negras estão sub-representadas nos espaços de poder e, em contrapartida, somos as que mais estamos nos espaços de estigmatização e vulnerabilidade”, afirmou Anielle Franco.

Apesar de a maioria da população brasileira se autodeclarar negra, Anielle Franco disse que “é possível observar que os brancos ocupam a maior parte dos cargos gerenciais, dos empregos formais e dos cargos eletivos”, acrescentando que, por outro lado, a população negra está no topo dos índices de desemprego, subemprego e de ocupações informais, além de receber os menores salários.

Lei que equipara crime de injúria racial ao racismo é sancionada pelo presidente Lula
Posse da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A nova ministra cobrou o envolvimento dos não negros na superação das desigualdades. “O Brasil do futuro precisa responder às dívidas do passado. E é por isso que em um governo de reconstrução nós gostaríamos também de falar com os não negros. O enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial é um dever de todos nós”, destacou.

A nova ministra da Igualdade Racial disse que, nos próximos quatro anos, vai trabalhar para fortalecer a Lei de Cotas e ampliar a presença de jovens negros e pobres nas universidades públicas. Também afirmou que buscará aumentar a visibilidade e a presença de servidores negros e negras em cargos de tomada de decisão da administração pública. O plano Juventude Negra Viva, que promoverá ações que visem a redução da letalidade e ampliação de oportunidades para jovens negros será relançado.

Ministério dos Povos Indígenas

Sônia Guajajara, outra a tomar posse na quarta-feira, assumindo o Ministério dos Povos Indígenas, afirmou, em seu discurso de posse, que os povos originários vivem uma crise humanitária no Brasil. Ela citou como causas as invasões de territórios, o desmatamento, o garimpo ilegal, a falta de assistência adequada em saúde e saneamento, entre outros.

“Não é mais possível convivermos com povos indígenas submetidos a toda sorte de males, como desnutrição infantil e de idosos, malária, violação de mulheres e meninas e altos índices de suicídio. Presidente Lula, arrisco dizer, sem exagero, que muitos povos indígenas vivem uma verdadeira crise humanitária em nosso país e agora estou aqui para trabalharmos juntos, para acabar com a normalização deste estado inconstitucional que se agravou nestes últimos anos”, ressaltou.

Guajajara também falou da emergência climática e de como os territórios indígenas são essenciais no combate ao aquecimento global: “Se, antes, as demarcações tinham enfoque sobretudo na preservação da nossa cultura, novos estudos vêm demonstrando que a manutenção dessas áreas tem uma importância ainda mais abrangente, sendo fundamentais para a estabilidade de ecossistemas em todo o planeta, assegurando qualidade de vida, inclusive nas grandes cidades. Daí a importância de reconhecer os direitos originários dos povos indígenas sob as terras em que vivem”.

Lei que equipara crime de injúria racial ao racismo é sancionada pelo presidente Lula
Posse da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A nova ministra também chamou a atenção da sociedade para a preservação do planeta. “Nós não somos os únicos que necessitam aqui viver. Nós apenas coabitamos a mãe Terra junto com milhões de outras espécies. O desprezo por essas outras formas de vida, as práticas de desmatamento intenso feitas sempre em nome da economia de curto prazo, têm efeitos devastadores para o futuro de todos nós”, alertou.

Guajajara aproveitou para anunciar a recriação do Conselho Nacional de Política Indigenista, extinto em 2019, pelo governo anterior. “[O conselho] garante a participação paritária entre representações indígenas de todos os estados brasileiros e órgãos do executivo federal”, enfatizou a ministra.

* Com Agência Brasil.