Na intenção de resgatar o protagonismo do Brasil no cenário internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne na terça-feira (30), no Palácio do Planalto, com 11 líderes de países sul-americanos, com a ausência do chefe de Estado peruano, que vive uma crise institucional desde a deposição do presidente Pedro Castillo após uma tentativa de golpe.
A crise peruana retrata a instabilidade política e econômica no continente, o que deverá fazer parte da pauta da reunião. Espera-se que todos os chefes de Estado cheguem a Brasília até a tarde desta segunda-feira (29). Por isso, o Itamaraty trabalha a possibilidade de alguns encontros bilaterais antes do início da reunião amanhã.
Nicolás Maduro, da Venezuela, foi o primeiro a chegar à capital federal. Diante do grande número de chefes de Estado, a Polícia Federal solicitou reforço à Polícia Militar do Distrito Federal na segurança de embaixadas e hotéis.
Um fator que chama a atenção nessa reunião é a diversidade ideológica dos chefes de Estado, que não têm um caráter progressista e tampouco conservadora.
A União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, tinha essa proposta, mas, em função da eleição de Jair Bolsonaro (PL), em 2019, está desativada. Bolsonaro, em contrapartida, pretendia inserir seu governo no Prosul, um fórum
de países de direita, o que também não se concretizou em virtude das eleições democráticas no período.
Segundo Gisele Padovan, embaixadora e secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, um dos principais objetivos do atual governo é resgatar a união dos vizinhos em torno de uma nova entidade multilateral, sem viés ideológico. “Temos a consciência de que há diferenças de visão entre os países, inclusive ideológicas e, por isso mesmo, consideramos um começo que os países se sentem à mesa e dialoguem, busquem pontos em comum para retomar esse movimento tão importante”, avaliou.
No encontro, Lula propõe uma agenda aberta, sem pontos específicos a serem discutidos, mas deve apresentar aos vizinhos, além da criação de uma instituição que represente o continente, a proposta de mecanismos que ajudem a Argentina, segunda maior economia da região e importante parceiro comercial do Brasil. O país vizinho enfrenta grande crise econômica e convive com a hiperinflação. Também deve ser abordada a reinclusão da Venezuela na diplomacia e na economia da região.
Durante o governo Bolsonaro, Nicolás Maduro esteve proibido de entrar no Brasil, rompendo laços diplomáticos históricos e fechando embaixada e consulados no país vizinho.
Em uma de sua primeiras iniciativas, Lula reabriu a embaixada em Caracas e ações estão sendo tomadas no sentido de reabrir os consulados no país.
O encontro entre os líderes sul-americanos deve também tratar da integração física entre os países por meio de rodovias, ferrovias e dutos, além de políticas de enfrentamento ao crime organizado nas regiões de fronteira e o movimento migratório no continente.
Panorama regional
Sócios fundadores do Mercosul, Paraguai e Uruguai vivem um momento divergente dos demais países, com boa fase econômica — com previsão de crescimento de 4% na economia paraguaia para este ano e de 2% para o Uruguai, que vem de uma evolução de 5% em 2022.
O Paraguai é sócio do Brasil na usina hidrelétrica de Itaipu. O acordo que previa a exclusividade brasileira na compra da energia excedente do Paraguai expirou após cinco décadas.
Já o Uruguai tem certa resistência ao Mercosul e defende a liberdade de fazer parceria com outros blocos, mas enfrenta oposição dos demais membros, que alegam que, se o país quer as vantagens do Mercosul, deverá cumprir as regras do grupo.
Além disso, atual presidente uruguaio Luis Lacalle Poul mantém postura crítica à Venezuela e não apoia a recriação da Unasul nos moldes anteriores.
O Chile, que chegou a ser referência na política econômica para o cone sul, hoje vive dias de instabilidade política. Já a Colômbia tem tido dificuldades de cumprir sua agenda progressista de reformas trabalhistas, previdenciárias e na área da saúde.
O Equador, em crise institucional, tenta resolver a questão dentro dos marcos da sua Constituição. O presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembléia Nacional para evitar sua cassação, forçando a convocação de novas eleições, já agendadas pelo Conselho Nacional Eleitoral para o próximo dia 20 de agosto.
A Bolívia, vivendo um bom momento de estabilidade política e institucional, busca parcerias para ampliar a extração de metais valiosos para a transição energética, especialmente o lítio, utilizado na fabricação de baterias.