Exatos 92 dias após o Flamengo fazer festa no Morumbi pelo bicampeonato nacional, a bola volta a rolar neste sábado (29) para mais uma edição do Brasileirão. A edição de número 52 do campeonato, a 19ª na era dos pontos corridos, será disputada até o dia 5 de dezembro, ainda sem presença da torcida, com promessa de um VAR mais correto e rápido e com uma grande novidade: o fim da dança dos técnicos.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com aprovação dos clubes, vai permitir somente uma troca por equipe ao longo da competição. Os técnicos também terão de ser fiéis com seus times. Podem pedir demissão uma única vez e não poderão dirigir mais de duas agremiações no Brasileirão.
O Botafogo foi o rei das trocas no Brasileirão passado: cinco mudanças. Começou com Paulo Autuori, depois vieram Bruno Lazaroni, Flávio Tenius (interino), Ramón Dias, Eduardo Barroca e Lucio Flavio. A prova de que a culpa nem sempre é do treinador veio com o rebaixamento à Série B na lanterna da competição.
Sem contar interinos, o Brasileirão de 2020 contou com 28 mudanças e apenas Atlético-MG, Grêmio e Ceará ficaram com o mesmo comandante do início ao fim. Os quatro rebaixados mudaram mais de uma vez: Botafogo, Vasco, Coritiba e Goiás. Fortaleza, Corinthians e Athletico-PR optaram por duas trocas. Não poderão mais.
Alvo de muitas reclamações e questionamentos por decisões polêmicas e demora em um veredicto, o árbitro de vídeo estará sob judice. A CBF promete decisões mais precisas e rápidas. Nada de jogo parado por até oito minutos como na temporada passada, por exemplo. As interpretações de lances polêmicos serão mais justas e os árbitros foram instruídos a terem decisões parecidas, utilizando um mesmo critério. O VAR também vai funcionar em uma central única, na sede da entidade.
A premiação ao campeão deve seguir os moldes da edição passada, na qual as cifras aumentaram 200%. Pelo título, o Flamengo embolsou R$ 33 milhões, diante de R$ 31,3 milhões do vice-campeão Internacional.
Apesar de ter reservado 38 datas para o Brasileirão, a CBF até já faz mudanças na tabela por causa de convocações e jogos decisivos de outras competições. Flamengo e Grêmio, por exemplo, já não será na data original. Os clubes terão de saber administrar a perda de jogadores para as seleções brasileiras principal e olímpica. O ano será marcado por Copa América, Jogos Olímpicos e as fases decisivas de Copa Libertadores e Copa Sul-Americana. Times podem ficar desfalcados por até 12 rodadas
Serão pouco mais de seis meses de competição, com 380 partidas e a ausência de três grandes: Cruzeiro, Botafogo e Vasco estão na Série B e vão lutar pelo retorno à elite. A abertura da competição já colocará dois postulantes ao título frente a frente. O bicampeão Flamengo recebe o Palmeiras, com o qual travou belas batalhas ultimamente, no horário nobre de domingo (30).
Será um desfile de grandes jogadores. Hulk, Taison e Douglas Costa, que já defenderam o Brasil na Copa do Mundo, reforçam a competição. Dá até para Tite fazer uma convocação apenas com jogadores do Brasileirão. E formaria um time forte com Weverton; Daniel Alves, Miranda, Pedro Geromel e Filipe Luís; Felipe Melo, Éverton Ribeiro e Douglas Costa; Hulk, Fred ou Gabriel Barbosa e Taison. E ainda sobrariam excelentes reservas, casos de Cássio, Diego Alves, Fagner, Rafinha, Rodrigo Caio, Guilherme Arana, Raphael Veiga, Claudinho, Pedro, Dudu, Marinho, Luiz Adriano, Diego Souza, Thiago Galhardo…
A competição ainda contará com boa mão de obra estrangeira, com Arrascaeta, Benítez, Guerrero, Gómez, Vargas, Carlos Sánchez, Júnior Alonso, Cuesta, Saravia, Bobadilla, Terans… Na beira do gramado estarão Hernán Crespo, Abel Ferreira, António Oliveira, Miguel Ángel Ramírez e Juan Vojvoda. Dos 20 times, 25% terão comando gringo. Com nomes interessantes e promessa de disputa acirrada, a CBF firmou contrato com um canal de streaming e todos os 380 jogos serão transmitidos nos Estados Unidos, prova de que o futebol brasileiro ainda tem prestígio mundo afora.
Confira o Guia do Brasileirão 2021 com as nossas análises e projeções: parte 1 e parte 2.
Flamengo busca o tricampeonato inédito
Equipe que mais ergueu taças nos últimos dois anos, com nove importantes conquistas, o bicampeão Flamengo chega forte para levar o Brasileirão em três edições seguidas pela primeira vez. Com um início de temporada promissor, a confiança na Gávea é gigante. Rogério Ceni pode perder o volante Gerson, mas terá a volta de Thiago Maia. Além disso, a manutenção do elenco campeão em fevereiro.
Mais uma vez a aposta do time rubro-negro está em seu quarteto ofensivo formado por Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e o goleador Gabriel, batendo recordes e se consolidando como grande atacante da história flamenguista.
Atlético-MG e Inter chegam fortes pelo fim do jejum
Há mais de 40 anos que Atlético-MG e Internacional batem na trave para desencantar no Brasileirão. Ano passado, a dupla se revezou na liderança em diversas rodadas, mas acabou superada pelo Flamengo, no fim. Apostam que mudarão o rumo em 2021 e chegam forte para desafiar a força dos cariocas e de São Paulo e Palmeiras.
Sem erguer o cobiçado troféu desde 1971, o time mineiro repatriou o atacante Hulk e contratou o habilidoso meia Nacho Fernandez, da seleção olímpica argentina. Ainda manteve todo o grupo, com Guilherme Arana, Keno, Júnior Alonso e Vargas dispostos a apagar a má impressão de 2020. O técnico Cuca voltou para resgatar as conquistas e já ganhou o estadual.
O Internacional perdeu o título em fevereiro no último minuto, quando o VAR anulou gol de Edenilson que valeria a taça perseguida desde 1979. Bastava ganhar do Corinthians, mas o gol não saiu. Abel Braga saiu e Miguel Ángel Ramírez chegou sob aposta em seu futebol ousado e ofensivo.
Pelo fim do tabu, o clube gaúcho aposta na recuperação de peças importantes que foram desfalque na reta final, casos do artilheiro Thiago Gallardo, do meia Boschilia e do lateral Saravia. O peruano Guerrero também deve fazer parte do grupo, apesar de indisposição com a diretoria em busca de uma rescisão. Edenilson e Patrick não foram negociados e é bom enxergar o Inter com bons olhos, apesar da perda do Gaúcho para o também muito forte Grêmio.
Paulistas vivem momentos distintos
Equipe que mais ergueu taças nos pontos corridos, com quatro conquistas, o Corinthians chega ao Brasileirão de 2021 sob enorme desconfiança e pressionado após desempenho ruim na edição passada. Depois de figurar entre os piores em 2020 e precisar mudar de comando duas vezes para evitar a queda, é a única das 20 equipes a não contratar nenhum jogador para a disputa.
Até o comando será de um principiante. O ex-lateral Sylvinho, sem treinar um clube desde 2019, quando ficou no Lyon, da França, por 11 jogos, terá a árdua missão de dirigir o jovem e remodelado time corintiano. Já com dois fracassos no ano, com eliminações no Paulista e na Copa Sul-Americana, a meta é modesta por causa da crise financeira. Ciente que não conseguirá disputar de igual com as forças do Brasileirão, o objetivo será de apenas não andar entre os piores colocados e evitar o sofrimento da edição passada. Meninos como João Victor, Raul Gustavo, Lucas Piton e Cauê devem seguir como apostas entre os titulares, com Luan, Mateus Vital e Gustavo Silva tentando comandar o setor ofensivo.
Há tempos que o São Paulo não inicia um Brasileirão figurando entre os favoritos. Mesmo liderando a edição passada por muitas rodadas, o time do Morumbi iniciou aquela competição sob poucos olhares e ofuscado pelo bom momento de outras agremiações. Desta vez, chega empolgado pela conquista do Paulistão, colocando fim a quase nove anos de jejum de taças, com um grupo bastante reforçado e o competente Hernán Crespo à beira do campo.
Além do bom comando do argentino, o clube trouxe reforços pontuais para fazer bonito em 2021. O experiente zagueiro Miranda chegou para arrumar a defesa. Benítez se encaixou perfeitamente na armação e sobram opções para o ataque: Eder, o recém-chegado Rigoni, e Galeano. Dos remanescentes, Daniel Alves e Reinaldo cresceram como alas, Arboleda ganhou corpo no esquema com três zagueiros e Pablo reencontrou o caminho dos gols.
Em 18 edições dos pontos corridos, o futebol paulista subiu no topo do pódio em 10 oportunidades. E, se depender da gana do Palmeiras, estará por lá mais uma vez. O campeão da América vem forte para conquistar seu 11° título brasileiro. Com a manutenção do elenco e o retorno do ídolo Dudu, a ideia é andar entre os melhores desde o início para chegar na reta final com chances claras de volta olímpica.
Sétimo colocado na edição passada, o Palmeiras “abriu mão” da briga na edição passada para prestigiar Libertadores e Copa do Brasil e obteve êxito em ambas competições. Desta vez, o técnico português Abel Ferreira garante dedicação total atrás da terceira taça nos pontos corridos. Dudu estará ausente nas primeiras rodadas por causa de contrato em vigor no Catar. Mas já foi confirmada sua volta e ele promete empenho por “muitas conquistas.” Ao lado de Raphael Veiga, Rony e Luiz Adriano, o decacampeão terá um quarteto ofensivo de respeito. Aliado ao bom sistema defensivo, é forte candidato.
A diretoria fala em trazer reforços pontuais a pedido de Fernando Diniz. Mas, enquanto eles não passam de promessas, o clube vai repetir 2020 e investir pesado na boa safra de Meninos da Vila. Com jovens de alto quilate, casos de Kaio Jorge, Lucas Braga, Marcos Leonardo, Gabriel Pirani, Kaiky, Vinicius Balieiro, Ivonei, Ângelo, Kevin Malthus, o clube se vê em condições de fazer boa competição.
A mescla com atletas experientes é a aposta de sucesso. Marinho, mais uma vez, será o responsável por comandar o setor ofensivo. O retorno do uruguaio Carlos Sánchez no meio será vital para organizar e orientar os meninos. Alison e Pará serão os outros alicerces para a equipe ir além do oitavo lugar da temporada passada.
Pequenos querem dar trabalho
A consequência da ausência de três gigantes na elite é o Brasileirão com mais times pequenos da era dos pontos corridos. Motivados por conquistas e por bons desempenhos neste início de reta final ou mesmo lembranças de 2020, eles prometem dar trabalho às potências.
O campeão Flamengo sofreu dolorosas derrotas na campanha do título. Levou um 3 a 0 do Atlético-GO e viu o Ceará aprontar no Maracanã, com 2 a 0. O Inter podia ser campeão antecipado e sofreu um 2 a 1 do Sport no Beira-Rio, o Coritiba mandou três na casa do Palmeiras. O Corinthians foi eliminado na Copa do Brasil diante do América-MG, de Lisca.
Sem pretensões gigantes, mas confiantes, Ceará, América-MG, Red Bull Bragantino, Bahia, Fortaleza, Atlético-GO e Cuiabá querem causar uma boa impressão e não apenas lutarem pela permanência na elite. Sabem que a primeira missão é essa, mas sonham em caminhar na parte de cima da tabela.
Alguns deles foram até às rodadas finais com chance de beliscar a oitava posição e uma consequente ida à Libertadores. Desta forma, nada de desprezar o Ceará de Guto Ferreira e o Bragantino de Maurício Barbieri. O Athletico-PR há tempos já se consolidou entre as grandes forças do país e novamente vem com força.
Juventude, Sport, Chapecoense têm contra si o desânimo com as perdas dos estaduais. O time gaúcho nada pôde fazer diante dos potentes do estado, enquanto os pernambucanos perderam a taça para o Náutico e os catarinenses viram o Avaí fazer festa em seu estádio. Mesmo com esse golpe duro, apostar em quais seriam os rebaixados antes mesmo de a bola rolar seria uma grande chance de jogar dinheiro fora.