Basta caminhar alguns minutos pelas ruas de Lisboa para perceber a quantidade de brasileiros por todos os lados. Apenas em 2017, cerca de 870 mil turistas brasileiros visitaram o país. Mas não é só. Os brasileiros são a maior comunidade de estrangeiros residentes em Portugal. Oficialmente, são cerca de 80 mil pessoas, mas especialistas afirmam que este número é bem maior. Os dados foram divulgados pelo escritório de estatística da União Europeia.
A migração de brasileiros para a “terrinha” não é de hoje e já sofreu mudanças significativas. A escritora Ana Silvia Scott, em seu livro Portugueses, relata como a migração mudou os sentimentos entre portugueses e brasileiros nas últimas décadas. Fugir da crise e da violência, buscar qualidade de vida e segurança são alguns dos motivos que estão levando muitos brasileiros a morar em Portugal.
Ana Silvia recorda que, na década de 1980, os brasileiros que chegavam a Portugal eram recebidos com cordialidade e simpatia por uma população cheia de memórias carinhosas do Brasil. Naquela época quase todos os portugueses tinham histórias de parentes que foram para o Brasil. No ano de 2000, afirma Ana Silvia em seu livro, que o cenário começou a mudar e o incômodo dos portugueses se tornou evidente. “O sentimento desagradável com relação aos brasileiros surgiu em Portugal devido a intensificação de migrantes de baixa renda e pouca escolaridade”.
Enquanto nas décadas de 80 e 90 a migração era em sua maioria de dentistas, publicitários e profissionais da área de informática, insatisfeitos com a instabilidade econômica gerada no governo Collor; nos anos 2000, o perfil preponderante de brasileiros era composto por trabalhadores da construção civil, do comércio, dos restaurantes e do serviço doméstico.
Atualmente houve uma mudança no perfil do brasileiro que migra para Portugal. O que se tem observado é um grande número de pessoas de classe média e alta, que têm optado por viver no país fugindo da violência e da insegurança. Não é raro ouvir relatos como o do engenheiro brasileiro Zwy Goldstein, 60 anos, que optou deixar São Paulo após levar um tiro em uma tentativa de assalto.
Ele e a esposa têm vistos de “residência temporária” em Portugal. Esse tipo de documento é concedido para estrangeiros que comprovem ter rendimentos para se manter no país. O valor necessário para a obtenção do visto varia de acordo com a quantidade de pessoas da família que se candidatar a viver no país.
“Eu nunca tinha pensado em vir para Portugal, mas comecei a ler matérias que falavam do país. Então resolvi vir com a minha mulher, em março de 2016, para dar uma olhada. Eu adorei isso aqui e, em 24 horas, eu decidi: quero mesmo é ficar aqui, porque é muito legal! Entramos com processo (no Consulado), foi super rápido naquela época e em agosto a gente estava aqui”, conta Zwy.
Para o engenheiro a grande vantagem de viver em Portugal é a segurança. “A gente não tem esse tipo de preocupação aqui. Acho incrível isso aqui, não preciso olhar pro lado, não preciso olhar pra trás, não preciso achar que alguém vai aparecer e ferir a gente”.
Residência temporária
Inicialmente, a autorização de residência temporária tem validade de um ano. Após a primeira renovação, o documento deve ser revalidado a cada dois anos. Após seis anos de residência legal, a pessoa pode solicitar a nacionalidade portuguesa. Para obter a autorização, é preciso dar entrada no pedido ainda no Brasil, no Consulado de Portugal. Há uma série de documentos que são exigidos nessa primeira etapa, como comprovante de rendimentos e certidões negativas da Justiça.
Ao chegar em Portugal, é necessário procurar pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para apresentar documentação complementar e agendar uma entrevista pessoal.
Outros tipos de autorização de residência
É importante ressaltar que há outros tipos de autorização de residência, como a “Autorização de Residência por Investimento”, conhecida como visto gold; a Autorização de Residência Permanente e a Autorização de Residência Não Habitual. Há ainda diferentes vistos para quem quer residir em Portugal e não tem a cidadania, como os de trabalho ou estudo. Os interessados devem procurar informações específicas sobre os diferentes tipos de visto e as documentações necessárias.
Os brasileiros foram os que mais receberam nacionalidade portuguesa no ano de 2016. Neste ano, a nacionalidade lusitana foi concedida a pouco mais de 25 mil pessoas, entre as quais estão 8 mil brasileiros, ou seja, 31% do total. Entre os brasileiros que adquiriram, em 2016, nacionalidades europeias, 36,3% foram obtidas em Portugal; 27% na Itália e 15,4% na Espanha.
(Agência Brasil)