A Vale retomou ontem (9) as demolições de oito imóveis adquiridos pela empresa no processo de descaracterização do Sistema Pontal. No entanto, nesta terça-feira (10), moradores vizinhos à área de destruição das casas esvaziadas relataram temor e transtorno devido às obras. Poeira, barulho, fortes tremores e danos foram algumas das queixas, além da insatisfação e medo pela proximidade das máquinas pesadas que atuam a poucos metros de distância das residências – onde haviam idosas e crianças no momento das demolições.
“Eles são tão espertos que começaram a demolir da última casa [no fim da rua]. O pessoal [funcionários da Assessoria Técnica Independente da Fundação Israel Pinheiro – ATI/FIP] estava aí vigiando. Quando saíram para almoçar, eles [responsáveis pelas demolições] “pularam pra cá” (sic) para demolir aqui”, relatou Maria José dos Reis Silva, que estava com duas netas e seu genro no momento das demolições. Segundo a idosa de 68 anos, as crianças ficaram assustadas com os fortes tremores que balançaram a casa e o muro da residência. “A gente fica apreensivo porque está só começando, vem muita coisa por aí. A gente fica sem saber o que fazer. Sem contar que aqui já não vale mais nada”, finalizou.
Maria Aparecida da Cruz, de 61 anos, também reside muito perto das casas demolidas pela Vale e revela que toda a manhã foi acompanhada com muito barulho de máquinas pesadas. Mesmo com a casa fechada, a poeira das obras tinha tomado conta do chão da residência, antes dos tremores causarem ainda mais incômodo.
“Eu lavei as vasilhas e coloquei por cima da pia, quando deu um “barulhão” e eu não sabia de onde tinha vindo. No sacudir [tremor ocasionado pelas máquinas], as vasilhas caíram no chão”.
Moradora da localidade há 39 anos, ela comenta com pesar que o bairro já não é mais o mesmo: “Tudo mudou, os vizinhos saíram e dava a impressão de que estavam saindo caixões. É muito estranho porque a gente viveu aqui a vida inteira (…), todos os vizinhos são velhos aqui”.
Ministério Público será novamente acionado contra a Vale
O caso desta terça-feira já é a terceira grande queixa em relação às demolições dos imóveis para construção da Estrutura de Contenção a Jusante 2 (ECJ2), obra popularmente conhecida como “mega muro”. Em julho, a Procuradoria Fiscal da Secretaria de Meio Ambiente de Itabira aplicou um ato infracional contra a Vale, após a empresa ter realizado a demolição de imóveis sem ter obtido licença ambiental para tal ação. Devido a infração, que foi considerada grave, a mineradora foi penalizada com uma multa de R$1.106.560,00.
Em agosto, de acordo com o portal Vila de Utopia, o Ministério Público de Minas Gerais havia determinado a paralisação temporária das obras da ECJ2 por descumprimento de normas de segurança e de monitoramento, com ausência de sismógrafos móveis – equipamentos que monitoram as vibrações geradas no local.
Em função dos novos ocorridos, Luana Ribeiro, subcoordenadora da Assessoria Técnica Independente da Fundação Israel Pinheiro, informou em entrevista à DeFato que o Ministério Público será novamente acionado contra a mineradora. “Infelizmente não sei se só isso está resolvendo”, disse a representante da ATI/FIP, entidade que segue acompanhando as demolições empenhadas pela Vale.
O que diz a Vale?
A DeFato solicitou um posicionamento oficial da mineradora a respeito das demolições realizadas nesta terça-feira (10), além de questionar o que será feito para minimizar os impactos mencionados em função das obras (como poeira, barulho, fortes tremores e danos) e perguntar o que também será feito para corrigir definitivamente os riscos à população local durante as obras de destruição dos imóveis adquiridos. Confira a resposta da empresa:
“A Vale informa que as demolições no bairro Bela Vista foram retomadas na última segunda-feira (9), conforme informado previamente à comunidade e com a devida autorização dos órgãos competentes. A atividade é necessária para a construção de uma nova Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ2) no Sistema Pontal, medida de segurança para a descaracterização dos diques Minervino e Cordão Nova Vista.
Para minimizar os impactos para os moradores próximos, foram adotadas medidas como a umectação dos terrenos e das estruturas dos imóveis durante toda a atividade, além do monitoramento constante de ruído, poeira e vibração. A empresa reitera o seu compromisso com a comunidade, priorizando sempre a segurança das pessoas e do meio ambiente.
Mais informações estão disponíveis em vale.com/itabira”