* Matéria veiculada na edição 80 do jornal Cidades Mineradoras, da DeFato
Desde muito novo descobri que “minha carne é de carnaval e meu coração é igual!” Minha memória mais afetiva é de minha mãe confeccionando as fantasias e me levando para as matinês na saudosa Praça São Tomé, em Itabira. Éramos embalados pela Banda Cor e a Daniela Mercury itabirana que, tempos depois, descobri que era minha vizinha de frente.
Passava horas ouvindo os ensaios, sonhando um dia estar naquele lugar que ainda não entendia bem onde era. Sentia algo muito forte por aquele ritmo, os tambores, as coreografias. A alegria que me transmitia era inexplicável.
Anos depois, o Carnaval de BH me acolheu. Com dois meses de carreira, eu já estava em cima de um Trio Elétrico embalando mais de 70 mil pessoas na principal avenida da capital.
Em 2020 foram mais de 60 apresentações. Eu e minha equipe nos apresentamos em inúmeros eventos carnavalescos: bailes, shows, boates, blocos, palcos, festas em rua, trios, debaixo de sol e de chuva e levando alegria para os foliões. Estávamos muito bem. Tínhamos trabalho, a economia girava, renda em dia, nada a reclamar.
Em 14 de março, saí de casa às oito da noite para discotecar em Nova Lima. Eu estava longe de imaginar que seria o meu último trabalho do ano. A pandemia tornou-se realidade. A cidade parou. Os jornais noticiavam índices preocupantes ao redor do mundo. Jamais imaginei que iria durar tanto tempo. Os dias foram passando, os contratos começaram a ser rescindido e o medo bateu na porta.
O ano acabou e ainda havia esperança no coração para 2021. Chorei quando vi o anúncio da vacina no Brasil. Pensei que seria mais rápido. Fevereiro chegou, ainda com o gostinho do último carnaval.
As fantasias esse ano não saíram do armário, os equipamentos não foram ligados, não subi no Trio Elétrico, o glitter e a purpurina não brilharam. No Carnaval de 2021 repousei, relaxei a mente, cuidei do corpo e do coração. Recordei fotos, vídeos e momentos que deixam o coração quentinho.
Ainda há esperança na cura, a vacina vai chegar, tenho certeza e fé! O futuro não nos pertence, mas o meu desejo é que um dia “viver será só festejar” e, em 2022, nos encontraremos na avenida com abraço apertado, cores, sorrisos e afetos. Axé!