Após sofrer pressão do Congresso Nacional, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo. A decisão foi comunicada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta segunda-feira (29), em reunião em Brasília
Inicialmente, a informação havia sido divulgada pelo jornal O Globo. Segundo a reportagem, Ernesto Araújo havia comunicado aos seus subordinados, durante reunião no Itamaraty, que deixaria o cargo. Em seguida, outros veículos confirmaram a saída do chanceler.
O Estadão publicou que Araújo se reuniu com Bolsonaro na manhã desta segunda-feira para entregar o cargo — o que teria sido confirmado por pessoas que vem acompanhando as discussões sobre uma possível demissão do chanceler. Ernesto Araújo ficou pouco mais de 800 dias à frente do Itamaraty e seu trabalho sofria fortes críticas dentro e fora do Governo Federal.
Nesta segunda-feira, o chanceler tinha compromissos com autoridades estrangeiras para discutir seu futuro, porém, foi chamado de última hora por Bolsonaro no Palácio do Planalto. Dessa forma, precisou cancelar os encontros — assim como uma reunião geral com secretários.
Auxiliares diretos do ministro consideram que a situação é “irreversível”. A pressão sobre Ernesto aumentou no domingo, depois que ele acusou a senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO) de fazer lobby de chineses durante almoço com ele no Itamaraty. Com o gesto, ele forçou novo embate entre o governo Bolsonaro e o Congresso Nacional.
Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse:
“Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.”
Não fiz gesto algum.— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) March 28, 2021
Presidente da Comissão de Relações Exteriores, a senadora disse que apenas defendeu que não haja discriminação à China no leilão do 5G e chamou o ministro de “marginal”. Ela recebeu apoio expressivo de congressistas que já cobravam a demissão de Ernesto.
A tese dos interesses chineses por trás da queda de Ernesto Araújo já vinha sendo apontada nos bastidores por aliados do ministro no Governo e por militantes conservadores nas redes sociais.
A declaração do ministro, no Twitter, foi interpretada como gesto “suicida” por diplomatas e uma forma de construir uma versão para justificar sua saída do cargo. Parlamentares e diplomatas avaliam que o ministro teve apoio do clã Bolsonaro nessa contra-ofensiva. Ele tem apoio público do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho do presidente que mais interfere na política externa.