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Morre Milton Bueno, o sindicalista que fez a Vale parar

Morre Milton Bueno, o sindicalista que fez a Vale parar

Foto: Arquivo pessoal

Na manhã dessa terça-feira (15), faleceu o ex-presidente do Sindicato Metabase Milton José Martins Bueno. O líder sindical fez história à frente da entidade, que presidiu entre 1987 a 1997. Foi sob seu comando que os trabalhadores da Vale, então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), paralisaram todos os setores produtivos da empresa, em 1989.

Milton Bueno era natural de Nova Era, onde ainda residia. Segundo informações dos familiares, ele sofreu uma queda e teve que passar por uma cirurgia. Ainda no hospital, ele sofreu uma embulia e ficou internado na UTI do Hospital Margarida, em João Monlevade, mas não resistiu. Em razão da pandemia do novo coronavírus, o velório e o sepultamento acontecem apenas com a presença de familiares próximos.

Legado

Como líder sindical, Milton Bueno também foi um dos coordenadores do movimento contra a privatização da Vale, no final da década de 1990. Em Itabira, se envolveu na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e teve uma carreira político-partidária intensa. Milton Bueno chegou a se candidatar a prefeito, deputado estadual e candidato a vereador.

Milton, ao microfone, no dia de sua posse como presidente do Sindicato Metabase. Foto: Xilaudo Andrade / Vila de Utopia

Para o atual presidente do Sindicato Metabase, André Viana, Bueno é uma importante referência para o movimento sindical de Itabira e da região. “Dono de uma articulação ímpar e um discurso imponente, Milton Bueno se destacou na defesa da categoria de trabalhadores com importantes ações sindicais, como a greve de 89 na empresa Vale e também com o fortalecimento de importantes ações jurídicas em defesa dos trabalhadores e aposentados”.

André Viana relembra que as ações realizadas sob o comando de Milton Bueno causaram impactos positivos que são sentidos até hoje. “Esta heroica greve refletiu em todas as demais bases. Foi uma luta na defesa dos direitos, melhores salários, melhores condições de trabalho, melhor jornada e escala de turno de trabalho, dentre outros. Sua liderança à frente da representação dos trabalhadores é inegável”, detalha.

Greve histórica

Há quase 33 anos, no dia 3 de abril de 1989, depois de uma assembleia noturna no ginásio poliesportivo do Valério, o Sindicato Metabase deflagrava uma greve que entrou para a história do setor extrativista. Os trabalhadores da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), ao longo de cinco dias, paralisaram as atividades nas minas de Itabira, incluindo também os ferroviários da Estrada de Ferro Vitória a Minas.

Assembleia que decidiu a greve de 1989. Foto: Eduardo Cruz / Vila de Utopia

Técnico em elétrica, Milton José Martins Bueno, o Bita, se elegeu presidente do Sindicato Metabase dois anos antes da greve. Um dos marcos de sua gestão foi a união entre mineiros e ferroviários durante a greve que impediu a passagem do trem da Vale, em frente ao estádio do Valério. Bem como o apoio da população itabirana. De acordo com o jornal Vila de Utopia, comerciantes fizeram “vaquinhas” para apoiar os grevistas na alimentação, enquanto estavam reunidos no ginásio poliesportivo.

Piquete nos trilhos da ferrovia, próximo ao estádio do Valério. Foto: Giovani Pereira (Agência Extra) / Vila de Utopia

Os trabalhadores só encerraram a greve quando, o então diretor, Francisco Schettino negociou pessoalmente com os grevistas. O acordo garantiu a não demissão dos grevistas por um período de 100 dias, assegurou o pagamento dos dias parados, aumentou o adicional noturno e reajustou os salários.

Segundo o atual presidente do Metabase, André Viana, a liderança e trabalho de Milton Bueno se tornou uma referência.

“Não só a mim, mas todos os presidentes que vieram após ele. Eu ainda era criança e já ouvia falar de seu nome através do meu pai. Também me lembro quando ele se candidatou na política partidária em Itabira. Quando entrei na Vale, bem jovem, um supervisor me disse: “O Milton foi um grande líder sindical. Eu parava para ouvi-lo e minha atenção se prendia nele.” Me inspiro no Milton na busca de uma veemência na defesa dos trabalhadores, fortalecimento das ações sindicais e na comunicação com os trabalhadores e aposentados”, destaca Viana.

André Viana lembrou ainda da homenagem prestada a ele, pelo sindicato, em 2019. “Na tradicional festa de 1 de Maio tive o prazer de honrar sua história. Ele discursou emocionado e levou todos a emoção. Foi um momento precioso para todos nós. Conseguimos honrar este guerreiro em vida pela dedicação e legado deixado a todos nós! Fica o legado, ficam os valiosos aprendizados! Um ícone de luta e uma história de respeito! Desejamos os mais sinceros sentimentos aos familiares e amigos! O Sindicato e a categoria está de luto!”

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