O mundo ainda é o mesmo: no momento em que você lê este texto, mulheres são agredidas em diferentes lugares, por diferentes maneiras. Os desafios são enormes, mas há transformações importantes. Por um lado os preconceitos continuam. Por outro, mulheres têm mais mecanismos para lutar contra eles, estão mais conscientes de seus direitos e têm se unido para ocupar espaços sempre tidos como “dos homens”.
O Muay Thai, luta marcial de origem oriental, é um desses espaços. E é por meio dele que mulheres em Itabira resgatam a autoestima, trabalham a saúde física e psicológica e se sentem mais fortalecidas. Há um ano, o projeto Belas do Muay Thai cresce no Parque BelaCamp, no bairro Campestre. E tem atraído mais alunas desde que um ensaio realizado pelo fotógrafo Paulo Sá tornou a iniciativa mais conhecida nas redes sociais.
À frente do projeto está a assistente de consultório Sara Soares. A atleta treina o Muay Thai há mais de três anos e conquistou duas graduações na categoria. Hoje, ela está em busca do título de mestra.
Sara juntou na bagagem todo o conhecimento das técnicas de socos, chutes, joelhadas, cotoveladas e de domínio do oponente; somou à vontade de quebrar padrões de gênero; e deu o pontapé inicial no projeto. Para isso, contou com apoio de Ronaldo Capoeira, idealizador e responsável pelo espaço sociocultural BelaCamp.
“Eu me encontrei no Muay Thai, me apaixonei pela luta. Traz bom condicionamento físico, mas vai muito além. Repasso o que aprendi, com respeito às limitações de cada aluna, numa aula dinâmica, de muito entrosamento e troca de experiências”, conta Sara.
As Belas do Muay Thai reúnem 30 mulheres, em média, às segundas e quintas-feiras, sempre às 18 horas, no galpão do Parque BelaCamp. Há alunas com idades entre 13 e 60 anos. Aliás, o número de participantes, segundo Sara, tem somado ao menos cinco novas integrantes de todas as faixas etárias a cada aula. A participação é gratuita e com medidas de controle contra o coronavírus.
Coisa de mulher
As lentes de Paulo Sá retratam a energia dos treinos. Sara Soares defende que “coisa de mulher” – muito diferente do significado pejorativo com que o termo é utilizado – é fazer o que quiser e se sentir bem. “Um tabu que quero quebrar é que o Muay Thai é uma luta grotesca, rude ou ‘coisa de homem’. O Muay Thai tem mudado a vida de muitas mulheres que participam conosco”, disse.
Mudou mesmo. Mudou a vida da vendedora Solange Santos, 50, do bairro Campestre, que está no projeto desde o começo.
“Eu me sinto mais capaz. Eu pude provar, primeiro para mim mesma, que não existem dificuldades. Os ensinamentos de Sara despertaram em mim a possibilidade de ir além. Não existe ‘coisa de homem’, hoje tudo é coisa de mulher. A gente pode fazer tudo, com a nossa característica, com o nosso viés. Eu sinto fortalecida do que eu achava que não poderia fazer”, disse a aluna.