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Mudar de pensamento é mudar de vida, inclusive para outra vida

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Presenciamos hoje um gigantesco conflito de opiniões acerca dessa inimaginável crise socioeconômica provocada pelo coronavírus. O que mais se discute, em todos os lugares, é sobre o que se fará para resolver essa situação. Autoriza-se a reabertura dos estabelecimentos comerciais? Recomeçam-se as aulas? Libera-se isso? Faz-se aquilo?

Não sei se acontece o mesmo com vocês, mas eu amanheço com um pensamento e durmo com outro totalmente diferente. Convivemos há quase um mês com esse isolamento social, situação jamais imaginada antes. Mas, na verdade, os efeitos dessa “quarentena” são trágicos e imprevisíveis.

Éramos atores de uma gigantesca engrenagem, que direcionava as nossas ações do dia a dia, embora cada um sobrevivesse a seu jeito.  Em suma, levávamos uma vida dentro do possível previsível.

Saíamos cedo de casa. A rotina era sempre a mesma. Algumas pessoas iam ao trabalho, outras às salas de aulas. Muita gente deixava os filhos nas escolas. As atividades físicas também eram intensas. Uns corriam pelas ruas na parte da manhã, mas determinada parcela preferia se exercitar nas academias. Enquanto muitos tomavam café em casa, um grande grupo fazia o mesmo nas lanchonetes. Havia várias formas de se chegar ao trabalho: por meio de ônibus, Uber ou veículos próprios. Esses últimos, quando necessário, passavam sempre nos postos de gasolina e abasteciam seus automóveis.

E assim a vida prosseguia. As escolas recebiam as crianças, as academias os atletas e as padarias um monte de fregueses. O transporte público funcionava normalmente e os motoristas de aplicativos trabalhavam com regularidade. Os postos de gasolina, então, conservavam sua grande clientela.

A estrutura da rede de ensino é formada por professores, atendentes, zeladores, cantineiros e serventes. As academias mantêm equipamentos, instrutores, faxineiros, secretárias e fisioterapeuta. As empresas de transporte público empregam motoristas, cobradores, mecânicos, contadores, advogados e fiscais. Os veículos, que nos levam ao trabalho, necessitam manutenção, seguro e combustível. Os postos de gasolina contam com carreteiros para trazer combustíveis, gerentes administrativos, contadores, responsáveis técnicos e frentistas que operam os equipamentos de abastecimento.

Nesta simples narrativa, os seguintes contribuintes pagam impostos: trabalhadores, escolas, academias, lanchonetes, empresas de transporte e os proprietários dos postos de combustíveis. Esses tributos custeiam as importantes atividades públicas. Mas há uma dura realidade nessa história toda: a maioria dos órgãos públicos já se encontravam literalmente quebrados, ou seja, não suportam ficar sem arrecadação. A queda na arrecadação de impostos em razão do isolamento poderá nos levar há um caos ainda maior. Como pagar as polícias, profissionais da saúdes e todos mais?

Esse isolamento social revela a dramática realidade: o trabalho externo (a grande maioria) praticamente inexiste, as escolas estão paradas, as academias permanecem fechadas, o transporte público movimenta de forma precária e os postos de combustíveis funcionam praticamente com a metade do seu efetivo. E, fica aqui a pergunta fatídica: o que fazer?

Vamos sair da toca? Para isso precisamos mudar o pensamento. Esse trágico cenário já foi experimentado e está visível para todos, nos quatro cantos do planeta: China, Itália, Espanha, França, Reino Unido, Estados Unidos e Equador. O teste foi feito. Mudar de pensamento é mudar de vida, inclusive para outra vida.

Mas, e aí?

Gustavo Milânio é advogado e chefe de gabinete da Presidência do TCE/MG

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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