Mulher morre e corpo fica três anos esquecido em apartamento

Caso foi descoberto em fevereiro, mas os detalhes vieram à tona nesta semana

Mulher morre e corpo fica três anos esquecido em apartamento
Foto: Google Street View

A secretária médica Sheila Seleoane, de 61 anos, foi encontrada morta no início deste ano, em seu apartamento em Londres, no Reino Unido. Porém, o corpo foi encontrado quase três anos depois. Reportagens do jornal britânico “The Guardian” trouxeram mais detalhes nas últimas semanas. Seleoane não tinha amigos ou familiares próximos, e não foi procurada nem ao parar de pagar aluguel em 2019.

O corpo só foi descoberto depois de um alerta à polícia local sobre danos em uma porta da varanda do apartamento em Peckham, sul de Londres, causados por tempestades. Sem resposta da moradora, as autoridades forçaram a entrada.

Como ninguém notou?

O legista Julian Morris concedeu entrevista ao jornal, nesta semana, e disse que ficou “claro que algo deu errado” depois que tantos eventos incomuns não tenham gerado a suspeita que havia uma pessoa sem vida dentro do imóvel. Segundo a investigação publicada pelo Guardian, vizinhos haviam reclamado repetidamente do cheiro vindo do apartamento, mas a Peabody Trust, associação habitacional que age como gestora do imóvel, ignorou a questão.

Relatos dos vizinhos trazidos pelo jornal dão conta do aparecimento de larvas e moscas vindas do apartamento semanas depois da interrupção de pagamentos de aluguel, em agosto de 2019. Em outubro de 2020, um vizinho mencionou que o cheiro era “como de um cadáver”.

O relatório final do caso encontrou ao menos 89 tentativas de contato com Seleoane entre agosto de 2019 e fevereiro de 2022, que não foram respondidas, nem acompanhadas. Já os dirigentes da Peabody disseram ao relatório que buscaram garantir “qualquer contato” com Seleoane, mas preferiram o envio de e-mails, mensagens de texto, carta ou ligação telefônica e enviaram registros como evidência de que o trabalho havia sido feito.

Tratamento digno

O caso gerou discussão sobre o se deve considerar como tratamento digno dispensado não só aos clientes da Peabody, como no atendimento como um todo. Um comunicado assinado pelo CEO da Peabody, Ian McDermott, e publicado pelo Guardian, diz que a empresa está “devastada” com o que aconteceu.

“Sentimos muito por nossa parte nisso e pedimos desculpas a Sheila, sua família e a todos que vivem em Lord’s Court. Ao agir neste caso, não fizemos a pergunta mais fundamental: Sheila está bem?”

Mas há falhas inclusive das autoridades. O inquérito mostra que um gerente da Peabody pediu à polícia que fizesse uma verificação de bem-estar em outubro de 2020. E, por um erro de processo, a polícia informou ao gerente da associação que agentes falaram com a moradora, que estava “segura e bem”.

Ainda assim, a verificação só foi feita mais de um ano depois da estimativa de morte de Sheila Seleoane. Seus últimos cupons de compra de comida, encontrados no apartamento, junto com o corpo, são de agosto de 2019.

* Conteúdo G1