Desde 2019, o Arquitetos da Vila, empresa de Belo Horizonte, atua para combater o problema de inadequação de moradias. Fundado pela arquiteta Wanda Reis e o historiador Lucas Vasconcelos, o negócio de impacto social tem o objetivo de ser “faísca de transformação”, impactando na saúde, dignidade, autoestima e confiança de famílias, com foco no Aglomerado da Serra.
Em entrevista ao portal DeFato Online, o historiador Lucas Vasconcelos conta que a esposa Wanda sempre atuou em planos de urbanização de vilas e favelas e ele, como professor de história, sempre teve a consciência da importância de moradias adequadas para uma boa qualidade de vida.
“A gente resolveu trabalhar por um propósito mais real, mais urgente. […] Um das questões sérias no Brasil é ainda não ter atacado problemas muito básicos. A gente diz muito que a educação resolve tudo, mas eu sempre chamo a atenção: é claro que a educação é fundamental, mas o pior é que antes da educação nós temos problemas muito mais básicos, até do que a alfabetização, que é a questão de ter um banheiro digno; a questão da pessoa simplesmente poder dar descarga ou tomar um banho de água quente aqui no Aglomerado da Serra. Nós fizemos reforma em casa de pessoas que nunca deram descarga, que davam descarga no balde; o sonho dessas pessoas era um vaso com a descarga, com aquela caixa acoplada de descarga, muitas pessoas não tinham isso. Então nós temos problemas muito básicos ainda”, relata Lucas, do Arquitetos da Vila.
O projeto surgiu em 2019, mas ainda de forma improvisada, com um pequeno acampamento na Praça do Cardoso, no Aglomerado da Serra. Em 2020, o Arquitetos da Vila abriu um espaço no Cafezal. Desde o princípio, a ideia é tornar acessível as reformas nas residências para melhor qualidade de vida das pessoas. “A gente vem para dar um suporte técnico, profissional para fazer uma obra bem feita, com segurança, tanto na parte hidráulica quanto na parte elétrica, com tudo feito corretamente, assim como um acabamento bem feito, [trazendo] conforto e dignidade para a casa”, explica Lucas.
Mãos que transformam vidas
Dário de Carvalho faz parte do Arquitetos da Vila desde a criação, em 2019, e atua como mestre de obras. Ele conta — emocionado — que não é só apaixonado por obras, mas, principalmente, pelo trabalho social que vem junto com atuação do projeto.
“Eu particularmente sou apaixonado por obra. Comecei [a trabalhar] em obra com 12 anos. Mas é uma coisa muito gostosa pra mim hoje, sabe? Eu já trabalhei pra muita pessoas famosas, juízes, advogados, médicos e tal. Então, hoje, aqui dentro da comunidade, eu trabalho com mais prazer, vendo a gratidão do pessoal em receber um banheiro pronto, uma cozinha, sabe? Aquilo me engrandece, me dá prazer. Não que eu não tinha antes, poiseu tinha. Só que é diferente, o pessoal [para quem trabalhava antes] tinha condição de pagar, sabe? Então, hoje, eu me sinto muito fortalecido [participando do projeto social]”, relata com emoção.
A estagiária Elizângela Pereira da Conceição também faz parte da equipe e compartilha da mesma experiência e sensação do “Seu Dário”. “É legal você sair no final de tudo e ver a pessoa feliz, a pessoa realizada porque a diferença de fazer obra aqui, em relação a fazer obra em outros lugares, é que aquilo ali é o sonho e a necessidade da pessoa. Tem pessoas que tem o banheiro que já tem mais de 11 anos e que está numa situação precária — e, de repente, vê o banheiro dela como ela sempre quis, ou, às vezes, até mais [do que esperavam]. Então é muito gratificante ver isso e participar”, conta.