Com muito groove, mesclando rock, afropunk, samba, intercalando sons autorais e releituras de artistas como Jovelina Pérola Negra e Nelson Cavaquinho, BNegão se apresentou na 49ª edição do Festival de Inverno de Itabira. O cantor, compositor e membro do histórico grupo Planet Hemp, bateu um papo com a DeFato, falando sobre e emoção de estar se apresentando em Itabira, a importância da ancestralidade e das raízes. Presente, o passado e o futuro do seu trabalho, além de spoilers sobre novos projetos do Planet Hemp também estiveram em pauta.
Bernardo Santos – aka BNegão – atendeu aos veículos de imprensa itabiranos após a sua apresentação na Concha Acústica. O público não lotou o espaço e a grande maioria presente desconhecia algumas das faixas do repertório, Mesmo assim, o show surpreendeu o artista carioca, que disse ter ficado feliz com a receptividade e aprovação dos presentes. No setlist, haviam sons autorais e releituras de Jovelina Pérola Negra, Jorge Ben Jor, Dorival Caymmi e Nelson Cavaquinho, indo do soul ao afropunk, com generosas doses de rock, rap e samba.
‘‘É uma coisa diferente do normal, que puxa as pessoas para um lugar meio desconhecido, e com elas vindo junto, eu fico muito feliz. Esse é um dos últimos shows antes de embarcarmos para a Suíça, em um Festival gigantesco. Foi um esquenta maravilhoso para ficarmos fortalecidos e arrebentar lá também’’
Ao ser questionado sobre como é ser (e se existe um peso em ser) considerado uma referência para a juventude da cena do hip hop itabirano, BNegão brincou: ‘‘Já tenho meu peso natural, não coloco mais nenhum para não pesar mais ainda’’. Em seguida, após arrancar risadas de quem estava na coletiva, ele afirmou sempre ficar muito feliz e orgulhoso pelo reconhecimento e que isso é apenas um reflexo do que também já viveu.
‘‘Quem viu o show, se tocou que nossa pegada é de passado, presente e futuro. Ali tem desde as coisas de agora, com o que queremos para frente, falando com os mestres das antigas. Pra mim a vida funciona dessa forma […] Quando a galera se inspira na minha caminhada, fico feliz. Não por ego, mas como inspiração. Porque estou aqui graças a inspiração que tive em outros mestres que vieram na minha frente. Basicamente, estou ‘pagando o tributo’ do que fizeram por mim, fazendo por outras pessoas e por aí vai’’, discorreu.
‘‘Não penso em resgate, penso em vivência’’
Assim definiu BNegão, de forma categórica quando foi abordado sobre a ancestralidade cultural em suas letras, nos arranjos e mescla de estilos musicais da sua apresentação.
‘‘Não penso em resgate, penso em vivência. Acho que temos que viver isso. Se a gente não sabe do nosso passado, não tem como fazer diferente, não tem como avançar se você não sabe o que te trouxe até aqui, quem são as pessoas que te influenciaram, você fica em um breu, com uma venda nos olhos e sendo girado para todo lado, onde querem que você vá. A gente tem que ir na direção que é melhor pra gente’’ disse o artista, falando que esse caminho só é encontrado com busca, atenção e ‘antena ligada’, tirando o que há de positivo nas experiências.
Bernardo foi além e definiu a ancestralidade cultural como a força que aqueles ‘que querem dominar’ tem ciência e querem cortar a todo custo. Segundo ele, os seus shows vêm para resgatar e reacender o ‘fogo’ da plateia, de forma muito bem intencionada.
Planet Hemp, Jardineiros e projetos futuros
Lançado às vésperas do segundo turno da eleição presidencial de 2022 e pouco mais de duas décadas após o terceiro álbum de estúdio do Planet, ‘Jardineiros’ chegou de forma contundente na cena musical. Segundo BNegão, foi uma resposta àqueles que cobravam a presença da banda diante a onda conservadora que o país viveu durante o governo Bolsonaro.
‘‘O Planet tem essa visão de amplificar vozes e é importante ele estar na ativa, falando dessas questões que estão acontecendo agora. Tenho o meu trabalho solo, o Marcelo (D2) tem o dele, todo mundo tem seu corre. Mas é muito importante a gente junto, porque vira uma coisa além. Estou muito feliz.’’
De acordo com BNegão, o trabalho surgiu com a ideia de falar sobre a galera do ‘alto cultivo’, que planta a cannabis. Ao falar sobre o álbum e a erva, ele seguiu dizendo: ‘‘Falamos disso há 20 anos, fomos trucidados por conta disso, mas as pessoas estão descobrindo. A maconha existe há milênios, vários povos já usavam de forma medicinal, como toda erva… Essa desconexão que temos com a natureza está matando o mundo […] A gente luta contra essa primitividade!’’
Nove meses após o álbum e um dia antes do seu show em Itabira, o Planet Hemp lançou o single ‘Não vamos desistir’, em um feat com Black Alien. Segundo BNegão, o grupo não irá parar por aí: existem outras 4 ou 5 faixas que não foram finalizadas no Jardineiros pela correria, mas que vão sair em um disco chamado Colheita.
Finalizando em alto astral com o spoiler, ele brincou que o album não vai ser uma edição deluxe: ‘‘Não vamos botar nome gringo, já temos o nome do Planet’’. Sobre a data de lançamento, BNegão disse a sua ‘memória jamaicana’ o impediu de lembrar ao certo, mas as faixas serão publicadas de forma separada, até o disco sair por completo.