Em algum momento de nossa vida todos perderemos alguém que nos é querido. Apesar de termos esta certeza, é incerto quando e como isto acontecerá. Pode ocorrer de maneira abrupta, a qualquer momento. Além disso, não sabemos de antemão como iremos reagir: abre-se um campo de dúvidas, medo e inseguranças.
Nos questionamos o que será de nossa vida depois desta perda. É normal sentir uma sensação de vazio, afinal, aquela pessoa não ocupa mais um espaço em nossa rotina, em nossos cuidados. Já não a visitamos, não ligamos para saber como ela está. Pensamos o que fazer com essa energia e com esse tempo que antes investíamos, daí sentimos esse vazio, porque alguma coisa que antes existia está faltando. Naturalmente, a seu próprio tempo, essa sensação passa, e vamos adaptando à nova realidade.
Quando alguém se vai, um pedaço nosso também morre. Se os pais falecem, o filho nunca mais será um filho. Se um filho morre, os pais nunca mais serão pais dessa pessoa novamente – eles podem ter outros filhos, mas cada relação entre pais-filhos é única. O papel que desempenhamos por tanto tempo não poderá mais ser vivenciado. Sentimos, portanto, além da dor pela pessoa perdida, o luto por essa parte de nós que não será mais vivida.
Torna-se necessário vivenciar essa dor, temos que passar pelo luto. Há maneiras de torná-lo menos difícil, existem algumas indicações dos estudiosos, mas no fim das contas cada um vive esse processo a sua maneira. Alguns mais rápidos, alguns mais lentos, alguns se isolando, outros se aproximando das pessoas, alguns começando uma nova vida, alguns retornando ao que se era antes. É preciso de tempo para que achemos outras formas de ocupar mesmo que parcialmente esse vazio que sentimos, sem, é claro, esquecermos da pessoa que não está mais aqui.
O objetivo não é deixar o que se viveu com a pessoa querida para trás, mas levar os bons momentos, lembrar de quando se fez uma viagem, ou uma festa surpresa, ou do amor envolvido nos cuidados no fim da vida. A dor não desaparece, ela volta principalmente nas datas importantes, nos lugares em que se passaram por bons momentos, mas torna-se possível viver com ela. Ainda que cada um sinta a dor a sua própria maneira, sabemos que quanto maior o amor que sentimos pela pessoa, mais difícil será passar por esse processo. Então por que buscar dissimular esta dor?
Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos
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