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“Nossa luta é por sobrevivência”: moradores reivindicam remoção de comunidades vizinhas a barragens em Itabira

Morador do Bela Vista, João Batista, entregou a Rodrigo Chaves um "dossiê" sobre sua situação - Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

“Falar em zona de autossalvamento é falar em cada um por si. Nossa luta hoje é pela sobrevivência das pessoas que estão nas zonas da morte das barragens. Em caso de rompimento, não há salvação”.

É assim que a professora aposentada Maria José Araújo define a situação de milhares de pessoas que hoje vivem nas chamadas zonas de autossalvamento (ZAS) das 15 barragens da Vale instaladas em Itabira. Moradora do bairro Conceição e membra do comitê que defende os atingidos pela mineração no município, a militante foi uma das que reivindicou, nesta segunda-feira (9), durante audiência pública promovida pela Câmara de Vereadores, a remoção imediata das comunidades vizinhas às estruturas de rejeito.

O pedido marcou o ato promovido no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA). Em um espaço lotado, durante mais de quatro horas de audiência, a reivindicação de remoção das comunidades residentes nas ZAS foi o que imperou. Depoimentos, críticas e manifestações deram o tom da preocupação de quem vive a metros de distância das barragens.

Audiência foi marcada por protestos contra a Vale – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Situações como a do aposentado João Batista Carlos, morador do bairro Bela Vista e “vizinho de parede” do Cordão do Nova Vista, uma das estruturas que compõem o Complexo Pontal, atualmente com atividades suspensas. Ele diz conviver diariamente com o medo e entregou ao gerente-geral da Vale em Itabira, Rodrigo Chaves, um dossiê com fotos e documentos que comprovam sua instabilidade.

“Somos reféns do medo, coadjuvantes em um filme de terror. Quero que me digam se eu, morando a 20 metros da barragem, consigo escapar em caso de um rompimento”, desabafou o aposentado, que ainda levou para a audiência cartazes criticando a atuação da mineradora em Itabira.

Uma das participantes da mesa formada para a audiência, a professora Maria José Araújo citou que a Vale negocia com o Governo de Minas Gerais a construção de um novo presídio, já que o atual está na rota de Itabiruçu, e suspendeu as visitas na casa de hóspedes na mina Conceição. Logo em seguida, questionou porque os moradores das zonas de autossalvamento não recebem o mesmo tratamento.

“O que impede de nos retirar? Essa ação seria o valor de um saquinho de pipoca em comparação com o lucro trilionário da Vale. A Vila de Conceição já existia antes de a barragem ser construída e a empresa não nos pediu permissão para construí-la. Se a barragem não é 100% segura, porque nós temos que ficar lá esperando para morrer”, disse a professora aposentada.

Maria José Araújo pediu remoção de moradores em áreas de risco – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Outros participantes da audiência, como as professoras Ana Gabriela Chaves Ferreira e Tuane Guimarães, também integrantes do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, reforçaram o pedido de remoção. Elas citam a condicionante 46 da Licença de Operação Corretiva (LOC), concedida à Vale em 2000, que exige a realocação de comunidades em caso de riscos e defendem que esse é o caso.

Propositor da audiência e condutor dos trabalhos durante a noite, o vereador e presidente do Sindicato Metabase, André Viana (Podemos), foi mais um que defendeu a remoção dos vizinhos de barragens por meio da condicionante 46. Segundo comentou, esse é um dos assuntos tratados em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pela Câmara para investigar o cumprimento das condicionantes pactuadas na LOC.

Audiência abordou situação das barragens de Itabira – Foto: Rodrigo Andrade/DeFato

Os representantes da Vale presentes à audiência, incluindo o gerente-geral Rodrigo Chaves, afirmaram que a remoção de comunidades é necessária a partir da elevação de alguma barragem para o nível 2 de risco de rompimento, cenário que não existe em Itabira. Eles, no entanto, admitiram a necessidade de realocações durante obras de descomissionamento de diques na cidade. Nesse caso, segundo os funcionários da mineradora, seria discutido com as comunidades o melhor método de realizar o procedimento.

Aguarde mais informações sobre a audiência ao longo desta terça-feira (10) no portal DeFato Online!

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