A noite dessa quarta-feira (11) é tristeza para a arte brasileira. O ator Paulo José faleceu, aos 84 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado havia 20 dias em decorrência de uma pneumonia. Há mais de 20 anos, Paulo José sofria de Mal de Parkinson.
Paulo José deixa a esposa e os quatro filhos: Ana, Bel e Clara Kutner, de seu relacionamento com a atriz Dina Sfat, além Paulo Henrique Caruso.
Em mais de 60 anos de carreira, Paulo José se tornou um ícone das artes dramatúrgicas brasileiras. Os trabalhos que desenvolveu ao longo da vida foram fundamentais para o teatro, o cinema e a televisão. Com incontáveis personagens inesquecíveis, Paulo José também fez história como diretor e roteirista de diversas obras.
Mesmo depois de descobrir o Mal de Parkinson, o artista sempre se preocupou com a valorização do ofício de ator. Ele lutou pela regulamentação da profissão no final dos anos 70, por exemplo.
Trajetória brilhante
Paulo José Gómez de Souza nasceu em Lavras do Sul, no Rio Grande do Sul, em 20 de março de 1937. Ele teve seu primeiro contato com o teatro na escola em Bagé, aos dez anos de idade. Paulo José mudou-se com a família para Porto Alegre e prestou vestibular para Medicina e, depois, Arquitetura, mas já tinha se apaixonado pelo teatro amador.
Assim, se mudou para São Paulo no início da década de 60, onde começou a trabalhar no lendário Teatro de Arena. Lá, trabalhou como ator, contrarregra, assistente de direção, produtor, diretor musical, cenógrafo e figurinista. Sua estreia atuando no palco foi em 1961, na peça “Testamento de um cangaceiro”. No cinema, atuou pela primeira vez em 1965, no filme “O padre e a moça”, de Joaquim Pedro de Andrade.
Ainda durante os anos 60 integrou uma importante lista de atores que fizeram história em diversos filmes importantes para o Cinema Novo. Ele esteve em “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade, e “Todas as mulheres do mundo”, de Domingos Oliveira.
Na TV Globo, emissora na qual permaneceu por mais de 40 anos, estreou em 1969 uma série de trabalho marcantes. A primeira novela foi ‘Véu de Noiva’, de Janete Clair, no mesmo ano. Seu primeiro personagem de destaque foi o mecânico-inventor Shazan, que formava uma dupla cômica com Xerife, de Flávio Migliaccio, em ‘O Primeiro Amor’ (1972), novela de Walther Negrão.
A dupla fez tanto sucesso que ganhou o próprio seriado ‘Shazan, Xerife e Cia.’, escrito, dirigido e interpretado por Paulo e Flávio. Entre os personagens inesquecíveis de Paulo José estão o comerciante cigano Jairom em ‘Explode Coração’ (1995), de Gloria Perez; e o alcóolatra Orestes de ‘Por Amor’ (1997), de Manoel Carlos.
Paulo José esteve em mais de 20 novelas e minisséries, como ‘Roda de Fogo’ (1986), de Lauro César Muniz; ‘‘Tieta’ (1989), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares; ‘Araponga’ (1990), de Dias Gomes, Ferreira Gullar e Lauro César Muniz; ‘Vamp’ (1991), de Antonio Calmon; ‘O Mapa da Mina’ (1993), de Cassiano Gabus Mendes; ‘Agora é Que São Elas’ (2003), de Ricardo Linhares, escrita a partir de uma ideia original do próprio Paulo José; ‘Senhora do Destino’ (2004), de Aguinaldo Silva; ‘Um Só Coração’ (2004) e ‘JK’ (2006), minisséries de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira; ‘Caminho das Índias’ (2009), de Gloria Perez; e ‘Morde & Assopra’ (2011), de Walcyr Carrasco.
Trabalhos como diretor
Como diretor, comandou alguns episódios de ‘Casos Especiais’ na década de 1980, e das minisséries ‘Agosto’ (1993), adaptação de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil do romance de Rubem Fonseca; ‘Memorial de Maria Moura’ (1994), adaptação de Jorge Furtado e Carlos Gerbase da obra de Rachel de Queiroz; e ‘Incidente em Antares’ (1994), adaptação de Nelson Nadotti e Charles Peixoto do livro homônimo de Erico Veríssimo.
Ele também fez parte da equipe que implementou o programa ‘Você Decide’. E, mesmo com a carreira consolidada na TV, Paulo José nunca abandonou o teatro e o cinema. Sua última e emocionante aparição na televisão foi como o vovô Benjamin na novela ‘Em Família’ (2014), de Manoel Carlos. Como na vida real, seu personagem sofria de Mal de Parkinson.