Para quem acompanha com certa intimidade o Brasileirão, sabe que cada início de edição nos traz algumas surpresas. Não é raro ver equipes medianas, ou elencos modestos de clubes gigantes, liderando as primeiras rodadas da disputa.
Na temporada 2021 não é diferente. Após nove rodadas, Red Bull Bragantino e Athlético-PR lideram o Brasileirão, com o Furacão ocupando a vice-liderança com um jogo a menos. Além deles, Fortaleza (5º), Bahia (7º), Atlético-GO (8º) e Ceará (9º) também marcam suas posições entre os dez primeiros da tabela.
Quem leu o guia do Brasileirão preparado pela DeFato neste ano, dividido em parte 1 e parte 2, já sabia que projetávamos uma campanha consistente de quase todos esses times. E não é por acaso. Todos os citados têm se destacado pela organização administrativa em meio ao caos do futebol brasileiro nos últimos anos.
São clubes que pagam em dia, contam com bons centros de treinamento e apresentam uma gestão financeira saudável. Tal responsabilidade permite, por exemplo, que Bahia e RB Bragantino contem com atletas do nível de Gilberto, Rodriguinho e Claudinho. Vina, no Ceará, e Vitinho, no Athletico, são outros exemplos.
Falando do campo, é interessante notar como essas equipes constroem seus caminhos seguindo diferentes conceitos de jogo. Dentre os citados, o Massa Bruta é o mais completo. Protagonista com a bola e fatal sem ela, o time de Maurício Barbieri sabe se adaptar a diferentes contextos. Na noite de ontem (4), precisou buscar a virada contra o São Paulo, no Morumbi, e teve paciência para girar a bola até encontrar seus gols. Nesta proposta, são fundamentais os ótimos Lucas Evangelista, um meio-campista completo, e o craque Claudinho, dono do toque criativo. Mesmo o centroavante titular, Ytalo, se destaca menos pelo faro artilheiro e mais pela inteligência para abrir os espaços e servir os pontas Artur e Helinho.
Mas o Braga atinge seu melhor, mesmo, jogando de maneira reativa. Com uma marcação sufocante, recupera várias bolas no seu setor ofensivo e chega à área adversária com muita facilidade. Neste contexto, Artur e Aderlan, ambos pela direita, exercem papel fundamental. O RB Bragantino passa longe de ser apenas um delírio financeiro. Com ideias consolidadas e boa visão de mercado, o clube tem tudo para assumir o protagonismo do futebol brasileiro nos próximos anos.
Menos propositivo que o seu rival de tabela, o Athletico-PR tem justificado a alcunha de Furacão. Muito forte na bola aérea, o time de António Oliveira é letal no contra ataque. O ótimo quarteto ofensivo formado por Nikão, Terans, Vitinho e Matheus Babi ainda recebe o apoio do bom volante Christian e dos laterais Marcinho e Abner, dois aviões pelos lados. A grande vitória, até aqui, foi o 4 a 1 sobre o Fluminense, no Rio de Janeiro. Mas o triunfo diante do Fortaleza, no sábado, também mostrou a força dos paranaenses.
Aliás, falando em Fortaleza, também poderíamos dissecar o futebol envolvente dos comandados de Juan Pablo Vojvoda. Ou a segurança e consistência defensiva de Ceará e Atlético-GO, mas ficaríamos aqui até amanhã.
O fato é que o bom início destas equipes, bem menos renomadas que Flamengo, Atlético-MG ou Palmeiras, nos deixa alguns sinais. Força da camisa e tamanho de torcida já não fazem tanta diferença, caso caminhem isolados. É preciso planejamento e organização, algo comum aos “outsiders” do Brasileirão 2021.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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