O Existencialismo ateu – escola filosófica de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir – traz duas notícias para a humanidade: uma excelente. A outra, até como contraponto, é péssima. Essa linha de pensamento (o Existencialismo) não comporta meio termo. Tudo é ruim ou excelente. Não há espaço para posicionamentos medianos.
E, agora, sem mais encher linguiças, apresento a boa informação de Sartre: o homem (e a mulher, claro) é detentor de liberdade total. Logo, o ser humano nasce livre para o que der e vier. “Nós estamos condenados a ser livres”, assegurava o intelectual francês. Essa prerrogativa tem a ver com um dos mais caros preceitos das religiões: o livre arbítrio. Em outras palavras, faça o que bem entender e assuma as consequências das suas atitudes.
Mas, principalmente, realize tudo que lhe dê na telha. Não tenha o mínimo receio de ser feliz. Jamais abra mão da possibilidade de ventura. A boa notícia da liberdade “sartreana” desagua numa conseqmortuência natural: nós somos produtos das decisões que tomamos ao longo da vida. Por isso, cautela não engorda e nem tem contraindicação. Use e abuse da precaução. Simples assim.
E, agora, depois desse analgésico moral, prepare-se para o pior. Aí está a péssima notícia dessa escola filosófica: “a vida não vale absolutamente nada. Ela é um fenômeno sem sentido, algo absurdo”. E, mais: para esses dois pensadores franceses – que foram a coqueluche da intelectualidade brasileira na década de 1970 – tanto faz viver, como não viver. O casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir era naturalmente amargo. Os dois foram donos de um pessimismo contagiante. No fundo, a base do Existencialismo é o “inexistencialismo”.
Em outras palavras, todo o mundo nasce com inescapável certeza: a morte. A única dúvida é a data exata do desenlace. Assim, nesse devaneio, vivemos exclusivamente para morrer. Já saímos do útero com prazo de validade. Daí o porquê da conclusão de que a vida é uma coisa absurda, inútil e sem sentido. A retórica fica mais dramática ainda quando adicionamos uma pitada de ateísmo.
Afinal, a suposta existência de Deus atenua muitas coisas. O “Ser Supremo” é paliativo para numerosas encrencas do dia a dia. E se Ele (Deus) realmente não haver? Nesse caso, a porca torce definitivamente o rabo. Mas, como devemos nos comportar diante de tão inexorável realidade? A morte está presente, independente de Deus. A solução para esse dilema inexiste. A qualquer momento vamos todos para o beleléu e fim de papo. É fatal. E, depois dos sete palmos de terra, vem o nada absoluto.
A escola filosófica francesa não previu qualquer tipo de correção para essa misteriosa incoerência original (morte depois da vida). Já nascemos com esse defeito de fabricação. A única verdade que conta, nesse caso, é a certeza da inevitável finitude. Os existencialistas apenas se limitaram em classificar a humanidade em dois agrupamentos de pessoas: os autênticos e os inautênticos.
E tome um misto de contradição com o natural pessimismo nessa definição. Os autênticos são aqueles que estão conscientes da inevitabilidade do ponto final. Esses indivíduos passam a vida meditando sobre a morte. E, desse jeito, são secos, tristes e angustiados. Os inautênticos, pelo contrário, procuram não pensar na hora derradeira.
Ignoram solenemente (ou fingem ignorar) a “dama de negro”. Vivem, a vida inteira, como se fossem eternos. Passam pelo planeta acumulando riquezas. Andam o tempo inteiro com a felicidade a tiracolo. E assim vão tocando o barco com maestria. Caminha tudo muito bem, até que um dia…. a casa cai.
PS1: Acredito sinceramente na vida depois da vida. Creio inclusive na teoria da reencarnação. E, até mesmo por isso, não perco tempo tentando entender a outra “Coisa” (É isso mesmo: Coisa com C maiúsculo). Para bom entendedor meio “c” basta. E ponto.
PS2: Só para não deixar dúvidas: jogo no time dos inautênticos, mas não deixo de refletir sobre a morte, em alguns momentos. Isso é barroco.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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