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O futebol e o preto que nós aceitamos

Vinicius Junior

Torcedores do Atlético de Madrid utilizaram faixa e boneco para ameaçar craque brasileiro. Foto: Twitter/Reprodução

O futebol é feito pelos negros. O maior dos jogadores, falecido recentemente, era negro. Alguns dos maiores craques da atualidade são negros. Ainda assim, a raça é rejeitada ou mal vista por vários dos envolvidos nesse universo tão cativante quanto racista.

Vinicius Junior é uma das vítimas deste sistema perverso. O exemplo mais recente ocorreu nesta quinta-feira (26). Próximo ao Centro de Treinamento do Real Madrid, torcedores do Atlético de Madrid simularam o enforcamento de um boneco que emulava o craque do clube merengue. Acima do boneco, ainda havia uma faixa na qual estava escrito “Madrid odia al Real”, lema da Frente Atlético, grupos de ultras do Atlético de Madrid. Os detalhes do absurdo foram dados pelo jornalista da ESPN Gustavo Hofman.

Mas por que Vinicius Junior desperta tanto ódio dos torcedores colchoneros? A resposta passa por uma junção de fatores. Mas simplificando: Vini é o negro que o futebol se nega a aceitar. Ousado e driblador, o jogador revelado pelo Flamengo causa a ira dos rivais simplesmente por ser talentoso. E ter personalidade. Badalado desde cedo no clube carioca, subiu aos profissionais em 2017 e causou impacto imediato. No mesmo ano, transferiu-se ao Real Madrid, passou pelo período de adaptação e se tornou protagonista. Com 22 anos, Vini Jr. já tem um gol de título de Champions na bagagem.

Tudo isso feito em meio a porradas, insultos, apelidos maldosos e outros tipos de intimidações. No ano passado, em jogo contra o próprio Atlético de Madrid, o brasileiro foi chamado de macaco. Antes, em sua própria terra, foi apelidado de “Neguebinha Junior”, alcunha racista cujo único objetivo era diminuí-lo e negar seu visível talento.

Ainda assim, para a raiva dos seus detratores, ele não se intimida. Porque Vinicius, assim como boa parte dos jogadores brasileiros, precisou passar por muita coisa para atingir o estrelato. Poucas coisas são capazes de abalar esses caras.

E se na terra natal esse tipo de episódio acontece, imagina quando se joga sob os olhares de um continente majoritariamente branco e de histórico colonizador? O simples gesto de um jogador preto encarar um marcador vira quase uma afronta. E ai dele se ousar fazer uma dancinha ou postar foto feliz no Instagram!

Provavelmente, uma das mais prejudicadas nessa história toda será La Liga, que pode perder uma estrela por conta da própria omissão. Mas mesmo que Vini saia da Espanha, infelizmente ele não escapará da pior face do futebol.

Porque o negro que nos acostumamos a idolatrar e adorar é talentoso, mas contido. Quase invisível. Como quem não quer incomodar e fazer barulho em um espaço tomado pelos brancos. E para mudar esse cenário, precisaremos de mais dribles e menos passes para o lado.

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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