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O governador Romeu Zema concede entrevista exclusiva à DeFato

O governador Romeu Zema concede entrevista exclusiva à DeFato

Foto: DeFato

Desde ontem (02/12), o governador Romeu Zema cumpre agenda na microrregião do Médio Rio Piracicaba. O giro começou nas cidades de João Monlevade e Barão de Cocais. Zema pernoitou em Itabira. Nesta sexta-feira, ele participa de eventos na cidade e Santa Maria de Itabira. Na manhã de hoje (03/12), o chefe do Executivo mineiro recebeu a equipe de reportagem da DeFato e concedeu uma entrevista exclusiva.

Na oportunidade, o governador conversou sobre política nacional, analisou a atual situação socioeconômica do estado e demonstrou preocupação com o avanço da nova variante da Covid-19.  Zema admite que não é hora para  relaxamento. E, como bom mineiro, aconselha: “caldo de galinha e precaução não fazem mal a ninguém”. Confira a entrevista completa do governador de Minas Gerais.

DeFato: uma nova filosofia do neoliberalismo preconiza o chamado “Novo Gerencialismo”, que sugere a implementação de experiências da iniciativa privada na administração pública. O senhor, quando assumiu o governo de Minas, encontrou um estado praticamente falido.   Os repasses de verbas institucionais para os municípios estavam retidos e os salários dos servidores atrasados. Caso o governo de Minas, ao invés de uma entidade federativa, fosse uma empresa do Grupo Zema, que atitude o senhor teria tomado, de imediato, para resolver esse complexo problema?

Governador Romeu Zema Neto: Eu afirmo que faria a mesma coisa que fiz. O Estado estava inchado, ineficiente e, desde o primeiro dia, o nosso propósito tem sido equilibrar as contas e arrumar a casa. E, depois de quase três anos à frente do governo, eu posso dizer que o trem já está em cima dos trilhos novamente, mas não na velocidade que nós queremos, é preciso muito mais rapidez.  Mas o que nós fizemos, e todo ente público no Brasil precisa fazer, é usar ferramentas de gestão. Por que um médico do setor público produz menos que um médico do setor privado?  Ele poderia salvar mais vidas se, ao invés de operar dez pessoas por semana, ele operasse quinze (pessoas). Por que uma professora no setor público faz um trabalho não tão bom quanto no setor privado? Os alunos poderiam estar aprendendo mais.

O policial, se trabalhar com mais eficiência, pode detectar mais crimes e prender mais bandidos.  Então, toda ferramenta de gestão só contribui para uma vida melhor para a população. Infelizmente, no Brasil, muitas vezes essas ferramentas são abandonadas, para que seja feita a politicagem. Aí não dá certo.  Ao invés de colocar uma professora competente, eu vou colocar uma professora que é minha prima.  Ao invés de colocar uma pessoa boa na saúde, eu deixo a coisa correr solta.  Então, estamos fazendo em Minas o que é feito no mundo todo, onde países sérios têm uma gestão pública profissionalizada.

DeFato: Então, o senhor, pelo que se percebe, já implantou esse “Novo Gerencialismo” no governo de Minas Gerais…

Romeu Zema: Exatamente. Eu quero que, aquilo que o cidadão paga com tanto sacrifício, volte para ele com o máximo de potencial, e não que se perca no caminho.

DeFato: Nas eleições passadas, há três anos, o senhor se apresentou como um outsider, principalmente porque estava enfrentando políticos tradicionais de Minas Gerais, como os ex-governadores Fernando Pimentel e Antônio Anastasia. Que discurso o senhor fará, agora, para encantar novamente os eleitores no pleito do ano que vem? Como fará para combater o que chamou de velha política, agora que o senhor não mais é um outsider?

Romeu Zema: Só gostaria de mudar o que você disse. Eu não vim para combater a velha política, porque eu acho que nós temos a boa e a má política.  O que nós queremos, no Brasil, é apenas a boa política.  A boa política leva em conta a necessidade da população.  Não há necessidade de atender aos meus amigos e grupos de privilegiados. O estado deve existir para prestar bons serviços à população.  Precisamos mudar essa cultura de que o estado existe para atender a alguns poucos privilegiados. E é isso que sempre aconteceu no Brasil.

DeFato: Em suma, esse será o seu discurso no ano que vem…

Romeu Zema: O que eu tenho feito vai continuar. Não vai mudar, porque o que precisamos, no Brasil, é de um estado que devolva boa saúde, boa segurança, boa cultura e boa infraestrutura para a população. Isso é o que nós queremos.

DeFato: Em 2022, haverá também eleição para presidente da República. A princípio, o processo caminhava para uma polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula da Silva. Agora, surgiu um fato novo, com a entrada em cena do ex- juiz Sergio Moro.  Durante esse mandato, o senhor manteve um alinhamento natural com o presidente Bolsonaro. Qual será o seu posicionamento político, na sucessão presidencial? O senhor aceitaria um aceno de Moro?

Romeu Zema: Em primeiro lugar, eu pertenço ao Partido Novo.  E já está praticamente definido que o meu partido terá um pré-candidato, que é Felipe D´Ávila (cientista político). Eu seguirei a orientação do meu partido. Então, o meu apoio será para Felipe D´Ávila. Se, durante o processo, ele se retirar da disputa e apoiar outro candidato, é bem provável que eu venha segui-lo. Eu fico incomodado porque, aqui no Brasil, já está se falando em eleições, um ano antes da data. Isso é a mesma coisa que uma mulher começar a falar em enxoval, antes mesmo de ficar grávida. Eu acho que se deve deixar a coisa (eleição) para o momento certo. Essa precipitação desvia o foco.  O Brasil hoje precisa é de reformas: reforma tributária e reforma administrativa, e não de eleição.  As reformas vão melhorar a vida do povo, as eleições não vão (melhorar a vida do povo).

DeFato: Essa sua observação é uma crítica ao governo do presidente Jair Bolsonaro, de quem o senhor é um aliado quase incondicional?

Romeu Zema: Eu tenho contato constante com o presidente da república. O mesmo que eu falo pra você aqui, eu falo para ele também. Eu tenho acesso a ele, e respeito o presidente. Mas, como toda gestão, inclusive a minha, há acertos e erros.  Agora, se formos enumerar, vamos encontrar erros em todas as prefeituras, em todos os estados e no governo federal.  Não há gestão perfeita, da mesma forma que não há ser humano perfeito.

 DeFato: A pandemia do novo coronavírus é novamente causa de apreensão planetária. A crise sanitária aparentava estar sob controle. O aparecimento da variante Ômicron provocou a implementação de novas medidas restritivas, em vários países, no mundo inteiro. O Brasil também acaba de registrar os primeiros contágios por essa nova variante.  Há pouco tempo, o senhor deu uma declaração favorável à realização do carnaval. Diante desse novo cenário, qual a postura do governo de Minas sobre as festas de final de ano e carnaval?   

Romeu Zema: Bom, eu sempre escuto a área científica e a área médica do governo. Eu não sou da área da saúde, mas tenho o maior respeito pelas pessoas que estudaram nessa área.  Seria muita pretensão, eu ir contra a opinião dos especialistas. A minha opinião é a seguinte: em dezembro do ano passado, muitos brasileiros relaxaram, acharam que a pandemia era caso resolvido.  E o que aconteceu?  Em março e abril desse ano, nós tivemos uma segunda onda muito pior que a primeira (onda).  Essa sua fala até me estranha, porque em momento algum eu disse que era favorável ao carnaval. Eu sou favorável, desde que haja total segurança.  Então, temos que acompanhar a situação.  O carnaval ainda está a 70 ou 80 dias de distância. A vacinação está avançando e não sabemos o que essa nova variante pode provocar. Então, a minha avaliação é a seguinte: acompanhar e, no momento adequado, janeiro ou fevereiro, tomar a decisão.  Alguns estados, que liberaram o uso da máscara, já voltaram atrás. Eu, como bom mineiro, acho que caldo de galinha e precaução nunca fizeram mal para ninguém.

 DeFato: Tenho um assunto aqui de muito interesse para Itabira. A tragédia de Brumadinho propiciou a distribuição de uma verba compensatória para diversos municípios. Alguns deles- com problemas ambientais bem menos impactantes que Itabira- tiveram direito a um recurso até superior (ao de Itabira). Quais foram os critérios para definir a distribuição dessa verba indenizatória e definição das cidades que teriam direito a esse recurso?

Romeu Zema:  A lógica dessa definição teve a participação do Ministério Público Federal e Estadual, da Advocacia Geral do Estado, Advocacia Geral da União e chancela da Justiça também. Então, esse critério não foi tirado de uma cartola. A indenização priorizou a área atingida (pelo rompimento de Brumadinho). A cidade de Brumadinho teve 170 vidas perdidas.  Aqui, em Itabira, nós não tivemos perdas de vidas. A bacia do Paraopeba ficou totalmente comprometida com os resíduos sólidos. Os rios daqui (de Itabira) não foram afetados.

Então, quando se fala em indenização, a ideia é priorizar a área atingida diretamente e também compensar todas as áreas atingidas indiretamente.  A economia de Minas sentiu, já que a arrecadação caiu.  Por isso, todos os prefeitos foram de alguma forma compensados.  Itabira, como outras cidades mineradoras, recebe todos os meses, um valor expressivo da CFEM, que é a Taxa pela atividade minerária.  Em minha opinião, essa taxa (CFEM), que é proveniente de um recurso que vai se esgotar, nunca deveria ter sido utilizada para despesas correntes.  Em minha opinião, ela (a CFEM) só poderia ser utilizada para o investimento.  Então, fica muito claro que os recursos, no Brasil, não são usados de maneira adequada.  Gosto muito do nosso prefeito daqui, o Marco Antônio Lage e, pelo que já me disse, a grande preocupação dele é deixar a cidade preparada para uma fase pós-mineração. Do contrário, só vão ficar buracos.

DeFato: E por falar em exaustão das minas, o senhor veio a Itabira para anunciar um repasse de 15 milhões para a Unifei. O ensino superior é uma aposta de Itabira para pós-mineração.  Há pouco tempo, o estado de Minas Gerais estava falido. Como, agora, consegue fazer uma doação dessa dimensão?

Romeu Zema: Eu quero lembrar que esse repasse não será apenas para a Unifei.  Nós estamos repassando mais de R$ 500 milhões para as universidades federais.  E nós temos essa postura, porque várias universidades federais, aqui em Minas Gerais, sofreram uma restrição orçamentária muito grande.  A nossa lógica é: faremos investimentos, para que os alunos tenham melhores instalações e aprendizado.

DeFato:  O estado Minas Gerais já foi governado por políticos, que muito influenciaram no panorama nacional como Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves e Itamar Franco, que foram presidentes da república.  Dentre os ex-governadores de Minas, por qual o senhor tem maior admiração?

Romeu Zema: Em minha opinião, o nosso grande governador foi Juscelino Kubitscheck. Ele foi um visionário. Foi a pessoa que entregou um país muito diferente de quando ele chegou (no comado do governo). Eu digo que, fazer o mesmo de sempre, não vai resolver os nossos problemas. Juscelino foi aquele que chegou e fez diferente.

 

 

 

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