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O lugar da agressividade

coluna arthur kelles agressividade

Exige-se de nós atualmente que mostremos sempre nosso lado positivo e que escondamos os afetos que são negativos. Nas redes sociais, nas conversas com amigos e família deve-se aparentar estar bem o tempo todo, como se nós não passássemos por momentos difíceis. Um destes afetos negativos que supostamente devemos esconder é a agressividade, que é bastante mal vista. Mesmo com o ideal de estarmos sempre calmos e serenos, a agressividade continua existindo, e se agirmos como se ela não existisse, não teremos recursos para lidar com ela.

Vale primeiramente diferenciar que agressividade não é agressão. Para vivermos bem em sociedade, aceitamos – ainda que implicitamente – o fato de que não podemos agredir nossos pares. Talvez a agressão física ou verbal seja a saída mais fácil para a agressividade que sentimos em alguns momentos: pode vir uma vontade de ofender alguém ou até mesmo de partir para a briga. É interessante pensar: por que eu quero descontar minha agressividade nesta pessoa?  Será que ela me mostra algo que eu não gosto em mim mesmo? 

A agressividade pode vir quando algo que esperávamos não acontece, quando nos frustramos com alguma coisa. Pode ser que esperávamos ir bem em uma prova, passar em um concurso, cozinhar perfeitamente um bolo, ou que nosso time do coração ganhasse a partida. São situações em que devemos também lidar com nossas expectativas. Elas estavam altas demais? Estávamos apostando todas nossas fichas em apenas uma coisa? Quanto maior a esperança em algo específico, maior pode ser a frustração e a agressividade que chegam se esse algo não acontece. 

Não adianta fingir que a agressividade não existe, ela estará ali em determinadas situações, com diferentes intensidades, a depender de cada pessoa. E por que não utilizá-la a nosso favor? Ela é útil para nos mobilizar quando vemos uma situação de injustiça e queremos resolvê-la. Pode ser dosada para quando queremos nos fazer ser ouvidos. Uma outra possibilidade é canalizá-la para a prática de esportes ou até mesmo para criações artísticas. Em vez de desperdiçar energia para tentar jogar a agressividade que possamos sentir para debaixo do tapete, melhor aprendermos melhor formas de viver com ela.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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