O mais sensato seria o cancelamento de todos os feriados até o fim do ano
Na coluna semanal, o jornalista Fernando Silva comenta os desafios dos feriados e suas aglomerações previsíveis. Ele lembra o período eleitoral: tragédia sem precedentes para o avanço pandêmico.
O feriado da Semana Santa nada teve de santo. A Páscoa foi a mais animada celebração de todos os tempos, no Brasil. As pessoas se confraternizaram como nunca. Beijos e abraços ilustraram um cenário de muito afeto. Houve aglomerações às pampas. Sítios e chácaras se transformaram em locais de homéricas baladas. Os “parças” beberam, fumaram e cheiraram como nunca. A economia agradece tamanha empolgação. Em abril, os fabricantes de caixões contabilizarão o maior faturamento da história.
A Paixão de Cristo foi uma arruaça coletiva, em plena pandemia. A consequência da farra se fez sentir de imediato. Na terça-feira (06/04), o Brasil bateu um novo recorde na olimpíada de empilhamentos de cadáveres. Por incúria ou fatalidade, 4.211 brasileiros perderam a vida. O maior registro de mortes- desde o começo do passeio do Coronavírus pelo território nacional- em março do ano passado. Mas aquiete-se. Amanse o espírito. Prepare-se para a pior das notícias: abril será o mês mais desgraçado do Brasil, desde 1500. Repito: vem aí genuína desgraça (com todas as letras e carga de superstição que a palavra comporta).
O panorama desesperador parece samba de uma nota só. É muito previsível. A transpiração dos coveiros aumenta a cada sequência de feriados emendados. O agravamento da crise sanitária é fruto de funesta parceria: a molecagem (ou psicopatia) governamental com a irresponsabilidade popular.
As eleições do ano passado foram monumental idiotice. O mais sensato teria sido o adiamento do pleito para 2022. Essa ação institucional- além de preservar vidas- traria um benefício adicional: o país passaria a ter eleições gerais a cada quatro anos. Seriam escolhidos- com apenas uma tacada- presidente da república, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores. Os dispendiosos sufrágios- de dois em dois anos- acabariam.
A campanha de 2020 foi um flerte com a catástrofe. No primeiro turno, cerca de 140 milhões de pessoas saíram às ruas para votar. A obrigatoriedade do voto provocou intensas aglutinações. Um festival de carreatas e inúmeras passeatas tomaram conta das ruas de todas as cidades do Brasil, por mais de 60 dias. A população pensava respirar o ar puro da normalidade. Mas não era assim. O resultado da imprevidência foi o pior possível. A somatória de defuntos no pós- eleitoral chegou à casa dos 200 mil. Simples assim: fecharam –se as urnas eleitorais, abriram- se as urnas mortuárias. A pandemia saiu literalmente do controle depois da “festa da democracia”. Os números de óbitos e contaminações dispararam. A Lei de Murphy é implacável: “nada é tão ruim que não possa piorar”.
Dois outros eventos tradicionais promoveram ajuntamentos no subsolo de cemitérios: os festejos do fim de ano e Carnaval. E, para literalmente culminar, a morte de Jesus Cristo elevou à potência máxima a nossa tragédia cotidiana.
Não tem jeito. Apenas iniciativas drásticas podem conter o avassalador avanço do Sars-CoV-2. A decretação de um lockdown (de verdade) por duas semanas teria efeitos práticos imediatos (remember Araraquara). Outra orientação radical necessita execução pra ontem: o cancelamento de todos os demais feriados previstos para 2021. E, nesse sentido, o primeiro passo seria a retirada da corda do pescoço de Tiradentes, no próximo dia 21. E, na sequência, nada de Natal e Réveillon.
Essas são as únicas formas de impedir o crescente assanhamento do novo Coronavírus. O mundo vive em estado de guerra. Afinal, a terceira onda de contágios- com suas diversas cepas- apresentou o seu cartão de visita no continente europeu. O desespero toma conta do planeta. Só resta implorar a proteção de Deus, “não importa a concepção que Dele você tenha”.
PS : Trocar Nagasaki por Kawasaki é o mesmo que confundir vagabunda com bundavaga. Baixou aí o espírito de Dilma Rousseff. Coisas de “Cidadezinha Qualquer”.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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