A reeleição foi péssima ideia de Fernando Henrique Cardoso. A trama nasceu malcheirosa. Um grupo de empresários abriu caudaloso propinoduto para compra de votos. A dinheirama garantiu uma mudança substancial na Constituição, em janeiro de 1997. Vários deputados receberam grana grossa e votaram favoravelmente à emenda constitucional nº 16. Essa mandinga emplacou o instituto da reeleição para presidentes, governadores e prefeitos. Os deputados Ronivon Santiago e João Maia reconheceram publicamente o embolsamento de R$ 200 mil. Ambos renunciaram ao mandato posteriormente. Esse malabarismo do cão garantiu a permanência de FHC no Palácio do Planalto, pela segunda vez consecutiva. A maracutaia “perpetuou” o tucanato no poder. O escândalo da compra de votos maculou irremediavelmente a biografia do “Príncipe dos Sociólogos”.
A adoção do novo dispositivo foi um péssimo “negócio” para o país. Por motivo óbvio. Atualmente, os ocupantes de palácios e prefeituras só “pensam naquilo” (a reeleição) durante quatro anos. Trabalham incansavelmente para esse fim. Só há um jeito de se extirpar esse cancro maligno do tecido nacional: abolir a reeleição e aumentar a duração dos mandatos para cinco ou seis anos. Afinal, quatro anos é muito pouco tempo para a implantação de ações administrativas e políticas públicas. Um quinquênio, no entanto, é um período razoável para o cumprimento de compromissos do Programa de Governo.
Agora vamos ao ponto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta apenas seis meses de gestão. Uma situação, porém, não passa despercebida. O petista já está em plena campanha para a eleição presidencial de 2026. Lula nunca admitiria essa hipótese. Um sujeito experiente e sagaz não seria vítima de tamanha incontinência verbal. Jair Bolsonaro também fez mega campanha antecipada, a partir do terceiro ano de governo. As famosas Motociatas – sem razão de ser – só tinham uma motivação: a captura de votos nos asfaltos das grandes cidades. O antigo chefe do Executivo nacional jamais revelou a real intenção dos desfiles de motocicletas. O capitão sempre teve muita dificuldade em manter o órgão da fala em ponto morto. É verdade. Ele, contudo, não cometeu o desatino de exteriorizar o grave delito eleitoral.
Em Itabira é diferente. O próprio prefeito deflagrou, com bastante antecedência, a disputa pela Prefeitura da cidade. O pleito só ocorrerá em outubro do ano que vem. Numa solenidade oficial, em pleno espaço público, Dom Marco 1º – o Imperador de Ipoema – disparou para a distinta plateia: “eu sou candidato à reeleição”. O fenômeno de destravamento da língua aconteceu no início desse ano (15 de março). A decisão precipitada infringiu claramente a Legislação Eleitoral. E ponto. E, desde então, o camaleão ideológico entrou no modo “campanha”.
O improvisado Orçamento Participativo (OP) foi um claro exemplo de estratégia eleitoreira. As reuniões comunitárias viraram palanques para consistentes objetivos: atacar a tal “imprensa adversa” e demolir possíveis adversários. O OP de Marco tem o mesmo DNA das Motociatas de Jair. Com uma diferença. O ex-presidente nunca explicitou a extemporânea garimpagem de votos. Já o mandarim de Mato Dentro deixou bem cristalino a sua pretensão. E, a partir daí, os discursos beligerantes do sofista da pólis se transformaram em estratagemas típicos de quem não pretende largar o osso. E salve-se quem puder.
P S: Trafego pelas ruas da cidade, embora deteste dirigir. Eu pronuncio a palavra mágica ”PQP” diante de cada buraco que encontro. Tenho muito dó do meu carro e, por isso, disparo umas 200 “PQP” por dia. São buracos demais e P(s) de menos, infelizmente.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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