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O prefeito de Itabira e a traição no sofá da sala de visitas

Por que Chico Bento não toleraria o Imperador de Ipoema?

Foto: Divulgação/Prefeitura de Itabira

O prefeito de Itabira anda de mal com a vida. O “Novo Marco” está com os nervos à flor da pele. Consequência. Um título de matéria virou rotina no jornalismo da DeFato: “O prefeito sobe o tom”. Em todos os eventos públicos, Marco Antônio Lage abre a caixa de ferramentas e distribui bordoadas na imprensa e vereadores de oposição.

A retórica virulenta resgata uma mítica mensagem da campanha eleitoral para o “povo desamparado”: “Eu sou o Marco. Eu sou o caminho da salvação. Sou um porta-voz de Deus. Vim libertar o itabirano das garras do Grupão. Eu sou a verdade e a vida. Vou tirar Itabira do atraso”, discursava esse enviado de alguém, mas ninguém sabe exatamente quem é o remetente. Em suma, o sujeito é o suprassumo, um “imexível”. 

O Boeing da tal modernidade aterrissou em Itabira há três anos. As marcas desses novos tempos estão aí: mato, buracos e lixo por todos os lados. A buraqueira causa inveja à superfície lunar. O saboroso queijo Minas não tem tanto orifícios. O intenso matagal, porém, apresenta uma serventia prática: a terra do Poeta se transformou num santuário ecológico. O ex-diretor de Comunicação da Fiat Automóveis foi esperança de dias melhores. Mas, não. Nem os sofisticados veículos da transnacional italiana conseguem trafegar impunemente pelas ruas do município. Haja crateras! E era uma vez rodas, pneus e amortecedores.  

Na coluna anterior, Marco Lage foi identificado como sofista. O colunista se enganou. De tanto subir o tom, o chefe do Executivo virou saxofonista. O mandachuva, contudo, sopra mal o instrumento musical. Cada subida de tom corresponde a uma desafinada. E quais são os responsáveis pela desarmonia da orquestra do Governo Marco? A imprensa e os adversários, segundo os áulicos do terceiro andar da prefeitura.  

O escritor francês Anatole France criou um personagem maravilhoso: o professor “monsieur Bergeret”. Esse senhor, certo dia, retornou um pouco mais cedo para casa. E deu de cara com o previsível trágico. Flagrou sua mulher no sofá da sala de visitas com seu melhor amigo. Ambos despidos. Narrativa típica de trepadinha clássica. Bergeret foi rápido no gatilho e resolveu o caso de adultério. Não matou os amantes. Apenas vendeu o sofá. 

Essa historinha pode ser uma fonte de inspiração para o “alcaide” da “Cidadezinha Qualquer”.  A mídia e a oposição estão chifrando? Existe simples solução para esse dissabor: cassam–se os mandatos dos “vereadores irresponsáveis” e amordaça-se a “imprensa rebelde”. Uma bela atitude stalinista (só para rimar com sofista e saxofonista).

Enfim: Durante a campanha eleitoral, Marco Lage prometeu independência para a imprensa de Itabira, embora não tenha deixado claro o significado desse sofisma. Dá para devanear. O imperador de Ipoema aparece montado num pangaré, às margens plácidas do ribeirão do bairro Praia. De repente, o mancebo ergue a sua espada de ferro e dá o grito heroico, retumbante. E ponto. A mídia itabirana conquista a sua tão sonhada liberdade. Pena que o talentoso José Assunção de Carvalho não pôde registrar a comovente imagem.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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