A humanidade tem fascínio pelos mistérios do universo. Em tempo de adolescente, certa citação numa página aleatória de livro marcou o meu imaginário para sempre. “Às vezes, devemos olhar para o céu, pois lá se encontram as grandes verdades”, recomendava o autor da obra. A reflexão é um misto de convite com assertiva. Essa simples dialogia teve marcante consequência. Uma convicção se formou no emaranhado da minha mente. Logo, concluí. Não somos “ilustres” ocupantes solitários de toda essa imensidão do cosmos. A possibilidade da existência de criaturas inteligentes em esferas distintas encanta-me.
A Música Popular Brasileira (MPB) tocou suavemente essa hipótese em duas ocasiões. A genial Elis Regina enviou comovente mensagem a eventual morador de enigmático planeta vizinho. “Alô, alô, marciano. Aqui quem fala é da Terra. Pra variar, estamos em guerra! Você nem imagina a loucura”, lamentou a Pimentinha gaúcha. O sertanejo Sérgio Reis exaltou a relevância dos extraterrestres nesse contexto. “Tomara que seja verdade, que exista mesmo disco voador! Que seja um povo inteligente, que traga pra gente a paz e o amor! Se for pro bem da humanidade, que felicidade essa intervenção”. Assim espero.
Acredito piamente no “algo pensante” em determinado ponto do infinito (ou similar). Imaginar que apenas os tresloucados terráqueos detêm o privilégio do raciocínio é um atentado ao bom senso. As religiões avalizam essa arrogância com estapafúrdia alegoria: “o homem (e a mulher) foi criado à imagem e semelhança de deus”. Poupem-me! Esse papo-furado até justifica o ateísmo. Mesmo porque, o discurso escancara uma escandalosa imperfeição divina. Como assim? O animal “hegemônico” da Terra é xerox do “criador de todas as coisas”? Nesse caso, somos obrigados a admitir — sem um mínimo de desrespeito — que deus é tolo, dissimulado, egoísta, mercenário, materialista, falso, tonto e violento. Afinal, o “padre eterno” e os humanos seriam farinhas de um mesmo saco. Isso pode, Arnaldo?
De repente, os céus de várias partes do globo ficaram apinhados de objetos voadores não identificados. Um mistério! O espaço aéreo dos Estados Unidos e outros países virou uma passarela de fulgurantes OVNIs. E ninguém explica o inusitado acontecimento. Nenhuma autoridade tomou inciativas concretas diante de um fenômeno aparentemente inesperado. Nem o falastrão Donald Trump se posicionou sobre as exóticas aparições. E note bem. Alguns desses apetrechos têm a dimensão de “um bonde”.
Acaso, os cosmonautas do além se preparam para um contato de terceiro grau? Tomara. Os aventureiros espaciais, com certeza, vêm de uma civilização mais evoluída, bem superior ao gado desconexo deste asteroide azul. Os caras interplanetários provavelmente estariam em missão de paz. Ainda bem! Do contrário, isso aqui viraria pó num piscar de olhos.
As revelações dos viajantes das galáxias provocariam comoção. As boas (ou más) novas abalariam os alicerces da sociedade global. Uma delas. O tal deus. Os ensinamentos dos alienígenas sobre a “Força Superior” colocariam um ponto final na maioria das religiões. E mais. Conceitos científicos, filosóficos, morais e éticos se dissolveriam como gelo num copo de uísque. O primeiro pronunciamento do comandante do disco voador será muito impactante (e divertido). Nós, inocentes silvícolas, seremos a estupefata plateia do maior evento da história e também vítimas de provável caos sociocultural. Tomara que seja verdade! Ou toda essa conversa não passa de mais uma alucinação de mesa de botequim.
P.S.: Primeiras palavras do mandachuva do disco voador para os terráqueos: “vocês não são o que pensam que são”.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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