* Por Fernando Silva
Não sou um especialista em esporte bretão, mas apenas mero torcedor. E torcedor- por motivos óbvios- rima com sofredor (adivinhe o nome do meu clube de coração). Não fugi à tentação. Resolvi criar um título para a participação de cada time mineiro na temporada da pandemia. A conferir:
AMÉRICA SOBE E AGORA TENTA SE LIVAR DA SÍNDROME DO ASCENSORISTA
CRUZEIRO AINDA PROCURA DESESPERADAMENTE O FUNDO DO POÇO
PARA O ATLÉTICO, SER BI É APENAS UMA OPÇÃO SEXUAL
O América lavou a alma do futebol mineiro. O Coelho teve o melhor desempenho em plena Covid-19. Mas não há perfeição nessa vida. O “Mequinha” – só pra não perder o costume- deixou escapulir o troféu de campeão da segundona na última rodada. E pior. Literalmente nos acréscimos. Nenhuma surpresa até aqui. É o América exercendo o seu sagrado direito de ser América. Faz parte da vida dele.
O trabalho do ascensorista é uma monotonia só. O elevador sobe e desce continuamente. O operador da máquina (o ascensorista) passa o dia inteiro sentado passivamente num banquinho. A tarefa é uma “macunaímica” preguiça danada. O sujeito fala lentamente e pouco. A “animada lorota” é automática pergunta para os “passageiros” da estrovenga: “Que andar?”.
O América é uma espécie de manobrista de elevador do futebol brasileiro. Sobe, desce. Sobe, desde. Sobe, desce. Sobe, desce. É uma agonia sem fim. O “esmeraldino” ascendeu em 2021. Aleluia! Agora fará tudo pra não despencar em…. 2021. O decacampeão mineiro tentará se livrar da síndrome do ascensorista. Oxalá consiga.
O drama cruzeirense é infinitamente maior. A Raposa nem chega às proximidades da portaria. Não sabe sequer onde fica o tal elevador. O vulpino tem claustrofobia. Por isso, reluta alcançar o andar de cima. Espera indefinidamente por algo imaginário. Dá tédio.
A turma do Barro Preto busca ansiosamente o fundo do poço. Esse é o elo perdido do enigma estrelado. O buraco quase sem fim virou a única possiblidade de redenção (ou ressurreição). Será necessária homérica persistência para atingir a tão sonhada cavidade. Essa história ocasiona lembranças de batalhas épicas. Os celestes necessitarão sangue, suor e lágrimas para retornar à elite do futebol nacional. A missão de Sir Winston Churchill foi bem mais branda. A realidade é dura: o Cruzeiro é clube gigante, mas tem time anão.
O mal do Clube Atlético Mineiro (CAM) é freudiano. Galo abomina conquistas, detesta vitórias. O passatempo do alvinegro é representar o papel de Robin Hood. O CAM virou pesadelo de ricos e alegria dos pobres. Adora agredir poderosos (Flamengo, Corinthians, Grêmio ou São Paulo). Mas é masoquista. Aprecia ser espancado pelos mais frágeis (Botafogo, Bahia, Goiás ou Fortaleza). Essa predileção ficou muito clara no Brasileirão desse ano.
O universo conspirou o tempo todo em favor do Clube de Lourdes. A concorrência implorou para a “selegalo” do bailarino Sampaoli ganhar a competição. Foi comovente a solidariedade de Flamengo, Internacional e São Paulo. Era até possível ouvir o coro uníssono nos estádios desertos: “tome que o título é seu!”, insistiram rubro- negros, colorados e tricolores. Foi a maior oportunidade para o “Campeão do Gelo” sair de constrangedora fila: há meio século sem ganhar um Campeonato Brasileiro.
O empurrãozinho dos “parças” foi inútil. O bípede emplumado não consegue emplacar uma sequência de conquistas. A sina é ter “monotítulo” eternamente. Ganhar dois campeonatos consecutivos (ou alternados) não é a vocação dos moradores da “Cidade do Galo”. Para o Atlético, ser bi não passa de simples opção sexual.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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