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Perde bem quem reconhece o que teve

perda

Um ente querido, um relacionamento, um emprego dos sonhos, uma viagem tão desejada: todos nós temos medo de perder algo. Conscientemente ou não, fazemos de tudo para evitar que isso se acabe. Contudo, eventualmente, todos nós passaremos por perdas. Elas são inevitáveis, mais cedo ou mais tarde nos depararemos com o fato de que pessoas e outros bens são transitórios, ou seja, de que eles chegarão a um fim.

Naturalmente, passamos nossa vida buscando ganhar as coisas, a meta é acumular bens, conquistas, conhecimentos, filhos… Passamos por situações e somos ensinados sempre com o mesmo objetivo, buscando aprender a ganhar, pois o ideal é sempre somar. Mas e a perder? Será que alguém nos ensinou como perder algo? Se houvesse um curso chamado “Como perder bem”, será que muitas pessoas se inscreveriam?

Quando nos deparamos em nossa trajetória com uma perda, ela rapidamente se transforma em um espelho, que reflete retroativamente o caminho que por nós foi percorrido. Nos questionamos se pudemos e soubemos aproveitar plenamente o que tínhamos durante o tempo que tivemos. Se encontramos a coragem de falar tudo para aquela pessoa que amamos, se exploramos todas as oportunidades naquele trabalho, se fizemos tudo o possível para nossos filhos. Questionamentos muitas vezes tardios, que trazem mais culpa e angústia do que crescimento.

É preciso saber que, se amamos o que perdemos, inevitavelmente haverá um pouco de sofrimento. Mesmo assim, para não sofrer em excesso quando o fim chega, devemos sentir que fizemos o que estava a nosso alcance para viver bem a oportunidade, seja ela uma pessoa, um trabalho ou um bem material. No fim das contas, sabe perder quem vivencia verdadeiramente o que se ganhou um dia.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos. 

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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