Somente nos seis primeiros meses deste ano, a Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig) registrou aproximadamente 960 ocorrências com a rede elétrica causadas por pipas, prejudicando cerca de 276 mil clientes em todo o Estado. Em Itabira, no último sábado (8), uma linha de pipa com cerol causou incidentes e prejuízos na rua 24, no bairro Santa Ruth. O material cortante rompeu um fio de alta tensão, causou um estouro na rede elétrica e caiu em cima de um veículo. O carro teve um de seus pneus totalmente carbonizado e parte dos componentes elétricos danificados. Ninguém se feriu, mas somente após 1h30 de trabalho da Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig) e do Corpo de Bombeiros Militar, a rede foi restabelecida.
Apenas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), essa brincadeira gerou cerca de 500 ocorrências de falta de energia, deixando aproximadamente 164 mil unidades consumidoras sem luz.
Para o gerente de Segurança do Trabalho da Cemig, Lauro Fernando Ribeiro, a brincadeira de soltar pipas não deve ser realizada em áreas urbanas. De acordo com o especialista, a atividade deve ser praticada em áreas abertas, distantes da rede de distribuição da companhia e nunca com a utilização de cerol ou qualquer linha cortante.
“Hoje em dia, com a grande quantidade de redes de distribuição nos centros urbanos, a brincadeira de soltar pipas nesses locais ficou inviável. Caso a pipa fique presa em um componente da rede elétrica, a pessoa pode tomar um choque de até 13.800 volts. Por isso, é fundamental que os pais orientem seus filhos para evitar acidentes que podem até matar”, destaca.
O gerente alerta que nunca se deve tentar resgatar pipas presas na rede elétrica, pois o risco de acidentes é muito grande: “As redes de distribuição e transmissão, bem como as subestações da Cemig, são construídas dentro dos padrões das normas técnicas brasileiras com características e distanciamento que são seguros. Dessa forma, a aproximação indevida para retirar pipas presas à rede e o uso de cerol e linha chilena são os principais motivos de acidentes com a rede elétrica da companhia”, alerta.
Lei proíbe uso de linhas cortantes
A lei 23.515/2019 proíbe a utilização de cerol ou linha chilena no Estado. Essa legislação, que veda a comercialização e o uso de linha cortante em pipas, papagaios e similares, está em vigor desde dezembro de 2019. A multa para quem for flagrado vendendo linhas cortantes varia de R$3.590 a R$179 mil (em casos de reincidência). Já quando a linha cortante apreendida estiver em poder de criança ou adolescente, seus pais ou responsáveis legais são notificados da autuação e o caso é comunicado ao Conselho Tutelar.
O especialista alerta para o fato de que o uso do cerol pode transformar uma simples linha de pipa em um material condutor e provocar choque elétrico ao entrar em contato com a rede. Além disso, muitas crianças amarram as pipas com arames e fios. “São materiais altamente condutores e que acabam sendo energizados quando tocam os cabos da rede de energia, causando o choque elétrico”, afirma o gerente da Cemig.
As linhas cortantes também causam perigo a outras pessoas. “Quando alguém utiliza uma linha cortante, pode cortar cabos de energia e causar acidentes graves para quem está brincando ou para outras pessoas. Além disso, o uso do cerol ou linhas cortantes em áreas urbanas pode cortar partes do corpo de motociclistas, ciclistas e pedestres, além das mãos de quem os utiliza”, orienta.
Um outro ponto de atenção é quanto às pipas que ficam agarradas em árvores na área urbana.
“Neste caso, ao subir na árvore para retirar a pipa, a pessoa pode não ver a rede elétrica no meio dos galhos, sofrer um choque elétrico e o acidente ser fatal pelo choque ou pela queda da pessoa”, finaliza o gerente.