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Política e economia: de mãos dadas

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Desde a semana passada temos notado um comportamento atípico do mercado financeiro brasileiro em relação ao comportamento do mercado global. A nossa bolsa operou mais fraca em dias de altas generalizadas pelo mundo e o dólar mais forte por aqui, apesar da fraqueza da moeda americana em relação a uma cesta composta pelas principais moedas globais representada pelo índice DXY.

Na semana passada, o índice DXY operou em queda e aqui no Brasil, o dólar subiu 3,78% em relação ao Real.Outro indicador que devemos acompanhar é o CDS , Credit Default Swap , que mede o risco País. O CDS funciona como um prêmio que o investidor paga para se proteger de um calote do Brasil. Quanto maior o risco do Brasil quebrar maior a cotação do CDS e vice versa. 

Abaixo o gráfico do comportamento das cotações do CDS em relação aos eventos que mexeram com as expectativas do desempenho da economia brasileira, nos últimos três anos. 

Risco país – CDS Brasil

Observem a alta volatilidade no período eleitoral. O CDS é medido em pontos bases ou na linguagem do mercado internacional BPS , ou, BASIS POINTS, cada ponto representa 0,01% e 100 pontos correspondem a 1%. Ou seja, é uma medida percentual e por isso mesmo usada para medir o comportamento da variação da taxa de juros. 

Em fevereiro de 2020, após a aprovação da Reforma da Previdência e com a perspectiva de crescimento econômico acima de 2% para esse ano e, ainda, com a possibilidade concreta, naquela época, de caminharmos para o equilíbrio fiscal, o CDS chegou na sua cotação mínima, abaixo de 100 pontos. Ou seja, para se proteger de um calote do Brasil o custo era em torno de 1% do valor investido e, no pior momento nos últimos três anos, a máxima foi no início da pandemia da Covid-19 com o isolamento social. 

Em março, diante das incertezas impostas pela pandemia o CDS atingiu quase 400 pontos, ou 4% de prêmio. Se desconsiderarmos a pandemia que foi um evento que impactou o mundo inteiro, podemos observar que os eventos políticos foram os que mais afetaram o comportamento das cotações do CDS. Em setembro de 2018, no dia do atentado ao então candidato Jair Bolsonaro, tivemos a cotação máxima do CDS. 

Após a posse de Bolsonaro e com a aprovação da Reforma da Previdência, o risco País despencou e atingiu a mínima do período. Hoje, em plena pandemia, o CDS está em torno de 200 pontos base, ou seja , 50 % abaixo do pior momento do ano, mas cerca de 10%  acima da menor cotação pós pandemia. 

E porque que eu estou falando tudo isso? Porque política e economia andam de mãos dadas. As eleições deste ano e as de 2022 já começam a pressionar decisões políticas que podem afastar a economia do caminho da busca do equilíbrio fiscal.

O fantasma do risco fiscal assusta os investidores locais e internacionais que ficam mais céticos em relação ao comportamento futuro da dívida brasileira e da consequente capacidade do País em atingir o equilíbrio fiscal e retomar a capacidade de investimento. 

Desde a posse de Michel Temer assistimos a recuperação da credibilidade do País graças às decisões tomadas na busca pelo equilíbrio fiscal. Na gestão de Temer, a instituição do teto de gastos conseguiu estancar a desconfiança em relação ao nosso País, e agora na gestão Bolsonaro, a aprovação da Reforma da Previdência e a proposição da Reforma Tributária e da Administrativa vinham consolidando o caminho para a zeragem do Déficit Fiscal e para o início de uma trajetória virtuosa de crescimento sustentável que foi claramente precificada pelo CDS.

Mas no meio do caminho tinha uma pandemia e com ela a necessidade vital de turbinar os gastos públicos para proteger vidas, empregos e empresas. O governo brasileiro fez o que deveria fazer mas não pode ceder às pressões políticas e se afastar da responsabilidade fiscal sob pena de cometer os mesmos erros do Governo de Dilma Rousseff que nos jogou na maior recessão econômica da nossa história antes da pandemia do Covid-19. 

De maio de 2016, posse de Temer, até fevereiro de 2020 vínhamos arrumando a casa e consertando a desordem fiscal. Para proteger e dar transparência aos números correntes foi criado um orçamento de guerra, paralelo, para contabilizar as despesas feitas para mitigar os efeitos do Covid-19, e a ideia é começarmos a pagar esta conta tão logo a pandemia seja dada como vencida, o que deveria ter início em 2021.

Mas é aí que entra a capacidade e a probabilidade das decisões políticas interferirem no bom andamento da economia. Em ano eleitoral, a contagem dos votos , em especial dos mais pobres , que necessitam e necessitarão da ajuda do Estado, através do auxílio emergencial, tira dos políticos oportunistas a visão de reconstrução de um País e em nome da preservação ou conquista de um novo mandato se apegam à irresponsabilidade fiscal que pode atrasar a retomada do nosso crescimento econômico com o aprofundamento dos danos causados pela Covid-19 à nossa economia. 

O governo está consciente da necessidade e urgência da criação de um novo programa de Renda Mínima que está sendo estruturado pela primeira vez na história , em cima de um cadastro mais confiável e transparente a partir dos brasileiros que preencheram os requisitos para o recebimento do auxílio emergencial. 

Ao invés de buscarem o entendimento e a articulação com o governo para a construção de um programa mais justo e abrangente para aqueles que realmente necessitam da ajuda do Estado, um grupo de senadores capitaneados por Randolfe Rodrigues, assinou e trabalha para emplacar uma PEC, Proposta de Emenda à Constituição,que suspende o teto de gastos por dois anos. O presidente da Câmara Rodrigo Maia, felizmente, por enquanto, já se mostrou contrário à idéia de suspensão do teto de gastos.

Continuo otimista com a retomada do crescimento brasileiro e com as condições favoráveis do nosso novo ambiente econômico na nova normalidade do mundo. Estamos com a menor taxa de juros da história, nossas empresas estão se capitalizando via mercado de capitais, a taxa de câmbio mais apreciada favorece nossas exportações e ajuda no renascimento da indústria nacional, a Reforma Tributária está na mesa dos congressistas e apesar de não diminuir a carga tributária poderá ser mais justa e transparente e está sendo discutida com o intuito de facilitar a vida de quem produz e paga impostos e contribuições em nível municipal, estadual e federal. 

Mas estamos em ano eleitoral e  dois anos da eleição presidencial e infelizmente a renovação feita nas eleições de 2018 na Câmara e no Senado não foram ainda suficientes para mudar a cultura da maioria dos nossos representantes que apenas se representam e trocam o futuro do País pelo voto populista conquistado com a farra irresponsável do uso eleitoreiro do dinheiro público.

 

Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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