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Por que Itabira não elege deputados?

Itabira

Foto: José Cruz/Agência Brasil

O título acima soa contraditório. Afinal, em toda a sua história, Itabira produziu quatro deputados estaduais e um federal. Nos últimos tempos, dois representantes do município foram encaminhados ao Legislativo Mineiro: Ronaldo Magalhães e Bernardo Mucida. Mas, note-se: não se elegeram diretamente. Ficaram na suplência. Assumiram depois do deslocamento dos titulares das cadeiras para outros cargos.

Mucida virou parlamentar depois da migração da deputada Marília Campos para a Prefeitura de Contagem. O socialista trocou um mandato de quatro anos (de prefeito) por outro de apenas dois (legislador). O espaço de 24 meses, porém, foi insuficiente para Bernardo encantar o eleitorado. 

Já Ronaldo Magalhães saiu estrategicamente do PTB e ingressou no PSDB. Foi uma permuta para facilitar o seu desempenho na disputa por uma vaga na Assembleia. Essa ação se revelou uma aposta de alto risco. Magalhães mergulhou num autêntico vespeiro. O PSDB – a legenda do então governador Aécio Neves – era um ninho de tucanos (ou de cobras). O estratagema eleitoreiro funciona assim: a nata da política normalmente invade a agremiação do eventual ocupante do poder. Então, o “quadrado” fica apinhado de medalhões. A concorrência torna-se acirrada e até desleal.  

O ex-chefe do Executivo itabirano teve uma votação expressiva, mas não alcançou seu objetivo básico. Essa experiência deixou explícito um cenário óbvio: se tivesse continuado no PTB, Ronaldo não seria suplente. Teria se elegido diretamente, até com relativa facilidade. E mais.  Sairia vitorioso das urnas em qualquer outro partido. Até no PT, por exemplo, uma possibilidade inimaginável. Mas Magalhães optou por entrar numa fauna onde não deveria: o galho das aves de bicos longos. 

O ex-prefeito Jairo Magalhães Alves foi o primeiro deputado estadual de Itabira. Uma proeza e tanto. O popular Dr Jairo participou do pleito histórico de 1982.  Foi além do previsto e até conseguiu se reeleger. E ponto. Outros políticos daqui só repetiriam a façanha (ganhar para deputado) apenas 16 anos mais tarde. 

Um fato está muito claro. O eleitorado itabirano tem certo encantamento por paraquedistas – aqueles pássaros migratórios do processo eleitoral, que só posam na cidade a cada quatro anos. Alguns “forasteiros” garimpam votos na terra do Poeta Maior e, depois, desaparecem sem deixar vestígios. Até parecem alienígenas. 

Itabira tem uma dificuldade imensa em eleger deputados, embora tenha eleitorado suficiente para tal empreitada. Mas qual seria a solução para esse intricado enigma? A história ensina o caminho das pedras. No final da década de 1990, uma liderança hegemônica mostrou a importância de se ter representatividade na Assembleia Legislativa e Câmara Federal. O bispo Dom Mário Teixeira Gurgel abraçou a causa. O religioso saiu pelos quatro cantos do município para anunciar a boa nova para a população: “Itabira precisa fazer deputados o quanto antes”. E o trabalho hercúleo deu certo. Nas eleições de 1998, Mato Dentro saiu das urnas com dois legisladores: os ex-prefeitos Luiz Menezes (deputado estadual) e Li Guerra (deputado federal).  

Esse sucesso impôs um grande desafio à nova geração: gestar uma liderança carismática capaz de inserir no imaginário popular a importância de se eleger deputados. Mas essa elaboração remete àquela famosa pergunta, que insiste não calar: alguém se enquadra nesse perfil no atual cenário local? O descobrimento desse ator é uma desafiadora missão para a sociedade itabirana. Cada morador da pólis deveria agir como Diógenes de Sínope, o filósofo cínico. Pegue uma lamparina e saia diariamente pelas ruas à procura de um novo guia de massa. Convenhamos, não será uma tarefa fácil.

PS: um exemplo perturbador de pertinho daqui. João Monlevade, com 60 mil eleitores, não se cansa de eleger deputados. Já Itabira- que conta com 90 mil votantes – invariavelmente morre na praia, nesse quesito. Qual o motivo para tão retumbante fracasso? Com a palavra psicólogos, filósofos, sociólogos, antropólogos ou macumbeiros.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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