“O itabirano é preguiçoso e o forasteiro ganancioso” — esta uma constatação a que chegaram vários pesquisadores que abordam a mineração em Itabira desde os tempos da Itabira Iron Ore Company. Tal afirmativa, no entanto, teve respostas positivas em vários movimentos populares que foram realizados na cidade como “Campanha de Amor a Itabira” e “Itabira 2025” (Acita); “Cidade Educativa” (comunidade organizada); “Privatização da CVRD” (comunidade organizada); “Campanha de Itabira” (José Hindemburgo Gonçalves); “Projeto Turístico” avançadíssimo (Rafael Cléver Gomes Duarte); e outras atitudes.
Moleza toma conta
Levantamento sobre desânimo e preguiça tenho numa estante repleta de livros, cadernos, vídeos e fitas k-7. Nela são abrigados trabalhos de conclusão de cursos (TCC), artigos e dissertações de mestrado e doutorado. Um livro quase pronto retrata visitas técnicas a várias bibliotecas da região. O que julgo necessário agora vamos tentar abordar.
— “Como se pode depreender de diversos depoimentos dos trabalhadores, Itabira, na visão deles, ‘é coisa de itabiranos’, dos quais eles se excluem”; (comerciante);
— “Os filhos desta cidade são preguiçosos, sem iniciativa” (jornalista);
— “Trabalho na Vale há mais de 20 anos, devo à Vale tudo o que tenho, quero que meus filhos trabalhem na Vale também, mas sei que se não saírem de Itabira todos ficarão preguiçosos e ruins de serviço” (um operador de máquinas pesadas);
— “Isso aqui vai voltar ao que era porque os itabiranos não se interessam, não têm garra” (vereador);
— “Há problemas que podem esperar 15 minutos e nós os transferimos de geração em geração” (escritora);
— “Talvez a culpa seja da natureza da atividade econômica, a mineração, riqueza que é arrancada à flor do chão” (deputado federal).
Exorcizando o fantasma
Estamos em 22 de maio de 2003. O diretor de Ferrosos do Sistema Sul da Vale, José Francisco Martins de Viveiros, comparece às sede da Prefeitura e da Acita para fazer uma declaração que em poucos meses transformou a cidade numa paisagem repleta de arranha-céus: “A Vale estendeu o prazo de mineração em Itabira para o ano 2075”. A repercussão mudou o humor do itabirano e a construção civil se agigantou.
Na mesma reunião, Viveiros, no entanto, não poupou uma avaliação da vagareza que domina, geralmente, os moradores de cidades mineradoras: “O povo de Itabira tem talvez mais um século para encontrar o seu rumo econômico; nós não vamos ver esse dia, mas lançamos uma provocação: será que cruzaremos os braços, esperando mais safras do minério de ferro?”.
Fundation France Liberté
Em 16 e 17 de novembro de 2006, a ex-primeira-dama da França, Danielle Mitterrand, esteve na região de Itabira, em nome da ONG francesa Fundation France Liberté. Sobrevoou Conceição do Mato Dentro e toda a extensão da Serra do Espinhaço. Concedeu entrevista presencial à DeFato depois de uma semana de sobrevoos.
Tudo o que ela disse foi resultado do susto que tomou diante da paisagem deteriorada que viu, ponto somado aos relatos sobre água, poeira, doenças respiratórias e condescendência do itabirano. Madame Mitterrand deixou a marca de sua exclamação: “Je n’arrive pas à croire ce que j’ai vu et entendu sur l’avenir de cette région. Les gens semblent avoir croisé les bras et ne pensent pas aux générations à venir” (“Eu não acredito no que vi e ouvi sobre o futuro dessa região. O povo parece que cruzou os braços e não pensa nas gerações que virão”).
Notas ao pé da página
- Vamos tomar vergonha na cara, itabiranos?
- Não vamos mais fabricar ignorantes.
- Observem bem e com espírito crítico: a Idade Média já se foi.
- Itabira entrou na fila do “é para hoje”; amanhã não dá mais.