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Quando a positividade é excessiva

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Ninguém quer ser pessimista. Esse é um modo de viver a vida que pode servir de defesa para muitas coisas, como se proteger de uma decepção, ou usar o pessimismo para se conformar com uma situação. Dizem que o ideal é ser otimista, esperar que o melhor sempre aconteça, que basta fazer sua parte e que tudo dará certo. Pode parecer estranho, mas o otimismo em um grau muito intenso pode ser mais maléfico do que benéfico. 

É o fenômeno conhecido como positividade tóxica, um excesso de positividade que, apesar de vir com boas intenções, acaba mais atrapalhando do que auxiliando. Em todo lugar vemos como esta “filosofia da positividade” está presente, como nas redes sociais, com pessoas dizendo exatamente o que fazer e o que não fazer para ser feliz e para ter sucesso. Neste período de isolamento social, multiplicaram-se curtos cursos online que prometem a famigerada chave para o sucesso, e em todas elas envolvem uma atitude positiva imbatível, inabalável.

A positividade fica “tóxica” quando não abrimos espaço para a equivocação, para o erro. É claro que devemos esperar que nossas empreitadas sejam bem sucedidas, que as apostas que fazemos na vida sejam exitosas. Mas e quando isto não acontece? A culpa é de quem? Minha? De alguém invejoso? Do universo que não deseja minha felicidade?

A falha faz parte de todos os processos. Ela é necessária. Muitos negócios só funcionam por que houve no passado um período de fracasso, que fez com que surgisse grande aprendizado. Às vezes quando uma porta se fecha faz com que voltemos nossa atenção a uma outra possibilidade, que estava ali sem ser percebida porque estávamos tentando incessantemente um outro caminho.

Se não entendemos que as coisas podem não acontecer do jeito que esperamos e queremos, nos sentimos muito mais culpados e decepcionados quando uma falha acontece. Vale a pena pensar o que é possível extrair desse erro: eu teria que fazer de uma outra forma? É necessário começar de novo? Ou seria a oportunidade de buscar um outro caminho? A aparição de algo errado não deve nos fazer sentir fracassados, e sim pode ser um jeito de ressignificar, de entender que talvez nosso GPS esteja um pouco fora do ar, que é necessário calibrá-lo, para que então possamos voltar a trilhar nosso caminho com mais tranquilidade.

 

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

O conteúdo expresso neste espaço é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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